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Os pobres de Bolsonaro

É notável o contraste entre seu empenho em criar um programa de transferência de renda e o desinteresse em reformas que gerem empregos

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 18 nov 2020, 20h01 - Publicado em 28 ago 2020, 13h00

Editorial de O Estado de S. Paulo (28/8/2020)

O súbito interesse do presidente Jair Bolsonaro pelos pobres do País, jamais demonstrado em seu passado como parlamentar e ausente na campanha que o elegeu em 2018, deveria ser motivo de aplausos. Afinal, quando um presidente da República usa a força de seu cargo para colocar a pobreza entre suas principais preocupações, tende a transformar a superação da desigualdade em prioridade na agenda política.

No entanto, é notável o contraste entre o empenho de Bolsonaro em criar um generoso programa de transferência de renda e seu desinteresse patente em promover reformas que criem condições para o desenvolvimento e a geração de empregos. Ao agir assim, o presidente não demonstra real interesse na superação da pobreza, que só será possível com mudanças estruturais que deem ao Estado capacidade efetiva de prover, de maneira sustentável, o mínimo necessário para que milhões de brasileiros deixem efetivamente de ser pobres.

Se estivesse realmente interessado em transformar a vida dos pobres, o presidente Bolsonaro estaria, desde seu primeiro dia no governo, engajado na promoção dessas reformas estruturais. Contudo, malgrado as retumbantes promessas eleitorais de uma revolução no Estado, Bolsonaro nada fez ou faz, de fato, para liderar os debates sobre essas reformas. Ao contrário, sempre que instado a se posicionar, ou cria dificuldades – como na reforma da Previdência, em que agiu como sindicalista em favor de algumas categorias de servidores – ou simplesmente engaveta projetos – caso da urgente reforma administrativa.

A superação da pobreza não se dará apenas pela suposta vontade do presidente. Num passado não muito distante, os governos petistas alardearam ter acabado com a pobreza a partir de programas de transferência de renda, em especial o Bolsa Família. De fato, durante algum tempo, o complemento de renda para famílias muito pobres foi essencial para lhes dar um pouco de dignidade em meio à miséria, mas o Estado – inchado, ineficiente e perdulário – não conseguiu lhes proporcionar nada além disso. Como resultado, esses vulneráveis voltaram à miséria assim que começou o recente processo de degradação econômica do País, fruto das lambanças lulopetistas.

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Ao que consta, Bolsonaro não foi eleito para repetir os erros daquela desastrosa gestão, e no entanto a cada dia que passa se parece mais com os demagogos que as urnas puniram na eleição passada. O roteiro é muito parecido: recusa-se a tocar nos privilégios dos servidores públicos; não se engaja em privatizações nem em redução da máquina do Estado; quer gastar um dinheiro que não existe, flertando com a irresponsabilidade fiscal; e agora inventa um programa de transferência de renda com o óbvio objetivo de sustentar sua popularidade em patamares suficientes para manter suas chances de reeleição.

O caminho para vencer a pobreza crônica no Brasil não tem atalhos. É longo e demanda do presidente da República uma imensa capacidade de articulação política. Junto com os programas de transferência de renda, devem vir medidas concretas para que seus beneficiários deixem de depender do auxílio no prazo mais curto possível. Para isso, é preciso que haja uma educação pública de qualidade, capaz de dar horizontes reais de crescimento para os filhos dessas famílias pobres. É preciso também lhes proporcionar uma boa saúde pública e, de uma vez por todas, cobertura universal de saneamento básico. Para sustentar tudo isso, é preciso que o Estado deixe de dragar recursos públicos escassos para satisfazer os privilegiados de sempre, a título de “direitos”, e facilite a vida de quem empreende e gera empregos.

Com um presidente que transformou o Ministério da Educação em piada de mau gosto, que trocou ministros da Saúde em plena pandemia por capricho pessoal, que não quer nem ouvir falar em reforma administrativa, que sabota os esforços do Ministério da Economia para respeitar o teto de gastos e cuja única preocupação é com sua reeleição, tudo indica infelizmente que os pobres continuarão pobres – e com eles o Brasil.

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