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Os horizontes turvos da democracia – por Gaudêncio Torquato

Impressão é a de que o planeta caminha na trilha do Grande Irmão, que tudo vigia, extraindo dados e informações para alimentar o nacional-populismo

Por Gaudêncio Torquato
17 jan 2021, 12h00

O tema já frequenta foros avançados da democracia: a influência da tecnologia e da inteligência artificial na política. O pressuposto é o de que a personalidade de uma pessoa pode ser decifrada por processos de reconhecimento facial, segundo estudos de um controverso professor da Universidade Stanford, o polonês Michal Kosinski. A polêmica ganhou intensidade na campanha americana de 2016. Donald Trump teria usado algoritmos extraídos de feições para identificar a orientação política de eleitores. E, a partir daí, influenciá-los com intensas cargas de conteúdos.

À sombra dessa hipótese, desenham-se imensos painéis sobre a crise da democracia, do conflito recorrente entre o liberalismo e o ideário democrático (conviverão ou tendem a se afastar?), os sistemas partidários, o nacional-populismo, com seu vaivém.

Bobbio alerta em seu clássico O Futuro da Democracia: “o pensamento liberal continua a renascer, inclusive sob formas capazes de chocar pelo seu caráter regressivo, e de muitos pontos de vista ostensivamente reacionário, porque está fundado sobre uma concepção filosófica da qual, agrade ou não, nasceu o mundo moderno: a concepção individualista da sociedade e da história. Concepção com a qual a esquerda jamais fez seriamente um acerto de contas”. Ele preocupava-se com o desmantelamento do estado assistencial.

Não por acaso, o nacional-populismo expande seus laços com figuras estrambóticas e ideais de defesa da Pátria contra “invasões alienígenas”, como são considerados os imigrantes, acusados de sugar riquezas nacionais, aumentar a desigualdade e contribuir para a insegurança pública. Assim, tocam o coração de uma “supremacia branca”, que se mostra disposta a ameaçar a democracia.

A impressão é a de que o planeta caminha na trilha do Grande Irmão, que tudo vigia, extraindo dados e informações para alimentar os protagonistas do nacional-populismo, criando em torno deles a figura do mito e puxando a sociedade para o autoritarismo. Vamos ter de conviver com uma caminhada de fôlego nos caminhos tortuosos da deterioração das democracias.

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Para complicar, as ideologias ainda se confundem. Não se sabe mais como caracterizar os sistemas políticos: Sociais-Democráticos? Socialistas? Direitistas? Capitalistas de Estado como a China? (Esquisita essa mimese entre Estado Autoritário e Estado Democrático de Direito, base do sistema capitalista).

São imprevisíveis os impactos da inteligência artificial. Imagine Fulano da Silva no meio da multidão, capturado por milhares de micro-câmeras, que pinçam seu estado d’alma para transformá-lo em “mutante político”. Esse retrato se parece com o quadro pintado por George Orwell em 1984. Entra no debate o criminalista italiano Cesare Lombroso, defensor da ideia de que criminosos podem ser identificados por suas características físicas. A tese lombrosiana, rechaçada por muitos, passa a receber agora o impulso da tecnologia.

O tema volta no momento em que a maior democracia ocidental padece do assalto ao Capitólio, em Washington, abalando a confiança da sociedade sobre a capacidade do país suportar a ascensão de políticos batizados nas águas da imponderabilidade.

O fato é que, a cada dia, os horizontes democráticos são cobertos por nuvens escuras.

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Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político

 

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