Os candidatos e os cães farejadores do poder
Quem não levar o Centrão será considerado politicamente derrotado
Até agora, a única candidata viável que consegue manter o discurso sem ceder às tentações do fisiologismo das alianças partidárias é Marina Silva. Do outro lado da moeda, passa à história pela incapacidade política de sair do isolamento e entra na campanha presidencial com poucos segundos de propaganda da TV, o que pode ser fatal. Mais surpreendente ainda, e sem lado bom, é o isolamento daquele que lidera as pesquisas quando o nome do ex-presidente Lula é retirado do páreo: Jair Bolsonaro não pode nem dizer que não fez alianças por não querer entrar em negociações espúrias. Afinal, o Brasil inteiro viu o quanto ele correu atrás do PR.
Bolsonaro terá um respeitável general como vice numa chapa antipolítica quase “puro sangue”, mas não tem como explicar: se nem o PR de Valdemar Costa Neto, que fareja o poder e suas expectativas com mais apuro do que qualquer perdigueiro, botou fé em sua vitória, quem o fará? O deputado entra na fase oficial da campanha também em situação difícil, com pouco mais de 10 segundos na TV.
Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) disputam um jogo de vida ou morte na reta final do mata-mata das alianças. Quem não levar o Centrão, ou parte dele, será considerado politicamente derrotado, dispensado por legendas pragmáticas como o DEM, o PP, o PRB e o Solidariedade – um pessoal que, reconhecidamente, só embarca em canoa com boa chance de vitória. Quem for preterido agora fica com cheirinho de perdedor mesmo que não seja.
À esquerda, o apoio do PSB a Ciro, ou a sua neutralidade a serviço do PT, também têm forte poder, político e simbólico. O PT não precisa de tempo na TV, mas o “poste” que deverá ser lançado no lugar de Lula sai mais fortalecido se tiver uma aliança vistosa para mostrar, ainda que seja com o PR de Valdemar – que, nesse caso, é também de Josué Gomes, o vice sonho de consumo de toda a cartela de candidatos.
Acima e além dos prognósticos eleitorais, o que o escancarado toma-lá-dá-cá das alianças que leva os candidatos a perder o discurso, os pruridos e a vergonha, mostra?
Mostra, como tudo na vida, que tem sempre um jeito de as coisas piorarem. Com seus passes, cacifes e, sabe-se lá mais o que, tão valorizados, esses partidos perdigueiros do poder vão eleger boas bancadas e, junto ao indefectível MDB, mandar no futuro Congresso. E também no futuro presidente da República- que, se for eleito com eles, já estará na mão; se não, terá de correr atrás de seu apoio no dia seguinte à posse.
O espetáculo a que estamos assistindo nesses dias pré-convenções leva a uma única certeza: não há risco de o sistema político brasileiro melhorar com as eleições de 2018.