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O xadrez político nas eleições em Vitória (ES) (Por Alexandre Caetano)

Trabalha e confia

Por Alexandre Caetano 
27 nov 2020, 12h00

A disputa do 2º turno das eleições municipais entre o ex-prefeito João Coser (PT) e o deputado estadual Lorenzo Pazolini (Republicanos) em Vitória, capital do Espírito Santo, oculta a complexidade do xadrez político do Estado que há menos de 20 anos, nos primeiros anos deste século, foi destaque na mídia nacional pelos escândalos resultantes do esquema de poder montado a partir da Assembleia Legislativa (Ales) pelo ex-bicheiro José Carlos Gratz, então presidente da Casa.

Delegado de Polícia, Lorenzo Pazolini é apontado como representante do bolsonarismo e tem tido inclusive o seu nome ligado por adversários ao ex-bicheiro, que depois de condenado em vários processos e entrar e sair da prisão várias vezes, caiu num limbo político. O candidato nega as acusações ou desconversa quando abordado sobre suas ligações com o bolsonarismo, mas talvez essa seja uma questão menor diante das mudanças que a relações de forças que sua eleição pode causar no quadro político estadual.

Mais ainda se, além do delegado na capital do Estado, forem eleitos o deputado Euclério Sampaio (Pode) em Cariacica e Arnaldinho Borgo em Vila Velha, municípios da Grande Vitória onde também será realizado 2º turno no domingo. Por trás desses três personagens existe um projeto de poder conservador, que começou a tomar forma em 2017, quando o deputado Erick Musso (Republicanos) foi eleito presidente da Ales.

O passo seguinte, ainda em 2017, foi o lançamento de um manifesto, num almoço realizado num restaurante de Vitória, assinado por mais de 20 deputados estaduais, inclusive da então bancada do PT na Ales, que lançou a candidatura ao Senado do dublê de apresentador de programa policial e parlamentar Amaro Neto.

Alguns dos principais atores desse projeto procuraram abrigo no então Partido Republicano Brasileiro (PRB), atual Republicanos, sigla de direita que tem forte ligação com a cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus: Erick Musso, Amaro Neto e Roberto Carneiro, ungido presidente estadual do partido.

Amaro Neto acabaria desistindo da candidatura ao Senado a pedido da cúpula do então PRB, que talvez pretendesse com isso socorrer o então senador Magno Malta (PL), que buscava uma reeleição, mas foi derrotado.

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Mais um passo foi dado com a reeleição de Erick Musso como presidente da Ales, em fevereiro do ano passado, tendo como principal aliado o deputado Marcelo Santos (Pode), parceiro na empreitada de construção desse projeto de poder.

Em nome da governabilidade, o grupo que controla a Mesa Diretora mantém uma relação no mínima ambígua com a gestão do governador Renato Casagrande (PSB), já que parece haver uma divisão de tarefas com um bloco de deputados de direita e extrema-direita, quase todos bolsonaristas, que faz uma oposição ruidosa contra o governo.

Entre esses parlamentares de oposição, um dos mais ruidosos é exatamente o deputado Lorenzo Pazolini, eleito pelo PRP, sigla que deixou de existir depois das eleições de 2018, por não ter atingido o coeficiente de votação mínima. É interessante notar que o grupo de deputados de oposição ao governo, internamente, faz parte da base de sustentação da Mesa Diretora comandada por Erick Musso.

No passo seguinte na formatação desse projeto de poder, Pazolini se filiou ao Republicanos e foi lançado candidato a prefeito de Vitória. Mas não foi só ele, o deputado Hudson Leal (Republicanos) foi candidato a prefeito de Vila Velha; Vandinho Leite (PSDB) e Alexandre Xambinho (Republicanos) na Serra e Euclério Sampaio em Cariacica.

O Republicanos foi o 2º partido que mais elegeu prefeitos no Espírito Santo no 1º turno das eleições municipais. Para se ter ideia da importância dada pela cúpula nacional do partido à candidatura de Pazolini, a mídia local mostrou que, proporcionalmente, sua campanha recebeu mais recursos do Fundo Eleitoral do que a do deputado federal Celso Russomano, em São Paulo.

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No final do ano passado, o presidente da Ales, deputado Erick Musso, tentou dar o pulo do gato ao aprovar uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional), que permitia não só sua reeleição, mas também marcar o pleito para quando bem entendesse, ainda que com mais de um ano de antecipação.

O problema é que a manobra deu ruim, a mídia e a sociedade civil organizada reagiram e o pragmático governador Renato Casagrande, que poderia ser emparedado por ela, dessa vez também reagiu. Isolado, depois que a aprovação da PEC foi suspensa pela Justiça, Musso recuou.

Musso, Amaro Neto, Roberto Carneiro e os seus aliados são conservadores, mas não se pode dizer que sejam abertamente bolsonaristas. O projeto de poder do grupo possui muitos elementos que lembra aquele que foi comandado por Gratz, Marcos Madureira e Valci Ferreira, os dois últimos que também foram presidentes da Ales e que também presidiram, como conselheiros, o Tribunal de Contas do Estado (TCES). A diferença é que ele é mais pragmático e se orienta pela direção dos ventos eleitorais e, até onde se sabe, não se pode acusá-lo de ligações com o crime organizado.

O fato é que se as candidaturas apoiadas por esse grupo tiverem sucesso em Vila Velha, Cariacica e, principalmente, na Capital, em Vitória, eles estarão em posição privilegiada no xadrez político do Espírito Santo, não só para as eleições de 2022, mas já para o período pós-eleitoral, em suas relações com o Palácio Anchieta.

Alexandre Caetano é jornalista

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