Brasilino da Silva é um competente mestre de obras. Ajudante de pedreiro, auxiliava o pai no sustento da família. Entra crise, sai crise, Brasilino não sabe o que é a provação do desemprego.
Cuidadoso com as finanças, construiu sua própria casa. Chegando aos 45 anos, dois filhos adolescentes. O tempo passa. Conversa vai, conversa vem; o Brasil sacolejando, cai, não cai no abismo, Brasilino resolveu “abrir um negócio” que, na linguagem corrente do economês, significa empreender.
Prevenido, começou a prestar atenção aos amigos que tentaram “trabalhar por conta própria”. Mais ainda, amigo do filho do dono da empresa que conhecera pequeno e, agora, era o engenheiro das obras em execução, foi se aconselhar. Confiava no filho do chefe que ficou satisfeito com a iniciativa de Brasilino e, ao mesmo tempo, triste porque ia perder um grande colaborador.
Primeira pergunta: “Dr. Henrique, por que que a empresa não solicitou o financiamento dos três projetos do “Minha casa, Minha vida”. “Porque o governo segurou o dinheiro da Caixa. Não sei quando vai retomar. Vamos tocando este projeto que termina em dezembro”, explicou Henrique. “E se o dinheiro não for liberado?” Educadamente, Henrique respondeu: “estamos lascados”. Brasilino arregalou os olhos porque pretendia abrir um loja de material de construção.
“Quanto tempo leva para aprovar e liberar o dinheiro?” “Aí depende de várias situações…” “Espere – interrompeu Brasilino – e para abrir uma empresa?” “Melhorou um pouco, eram quase cem dias, agora está em torno de 20 a cinquenta dias. Difícil mesmo é fazer a conta dos impostos: 1958 dias”.
Henrique foi realista: “Brasilino, empreender no Brasil é ato heroico para gente decente e uma tarefa divertida para os grandes picaretas que trabalham pouco, enganam muito e adoram governos”. “E precisam do governo? Perguntou surpreso. “Ambos têm sede de poder. E no Brasil, o governo é um sócio malvado, perverso, especialmente com os que dele precisam. Preste atenção: vai pegar o metrô para voltar pra casa? Então, vai pagar ao governo; vai receber o salário este mês? Pois vamos pagar ao governo os “encargos sociais”; tomou banho, acendeu a lâmpada? Vai pagar tarifa e um montão de impostos. Tô sabendo que a escola dos meninos está sem merenda e o posto médico sem vacina. Certo? E se eu “bater as botas” você me leva para cemitério de Santo Amaro e paga à Prefeitura” pelos sete palmos que me cabem naquele latifúndio.
“Credo! Deus me livre”.