O recuo do recuo de Temer
Não é que ele voltou a pensar outra vez em ser candidato à reeleição? Pois sim...
Em menos de seis meses, Michel Temer passou da condição de presidente no fundo do poço a candidato à reeleição, para dar o dito pelo não dito há coisa de um mês se tanto, e para nas últimas 48 horas se declarar em dúvida sobre se o melhor para ele não seria manter-se no páreo.
Sim, nos últimos dois anos, Temer já provou à farta que não tem ideia fixa, o que necessariamente não é ruim. Adota uma e depois a descarta diante de pressões ou de dificuldades para levá-la adiante. Presidentes anteriores consideravam o recuo uma derrota. Temer não liga.
O que importa para ele é simular uma relevância que já perdeu há muito tempo. Conseguiu mantê-la até ser gravado aconselhando o empresário Joesley Batista a “ter que manter isso, viu”. Ou seja: seguir dando dinheiro a Eduardo Cunha para que não delatasse. Perdeu-a depois.
Não se conformou com o ostracismo antes do tempo – e foi então que inventou a história de ser candidato à reeleição. Espantoso! Como um presidente com mais de 70% de rejeição, e com menos de 3% de intenção de voto nas pesquisas, poderia pensar em se reeleger?
Mas Temer é Temer e suas circunstâncias. Uma vez candidato, continuaria no jogo, dando e recebendo cartas. E – quem sabe? – resgataria parte da importância perdida em algum momento do processo eleitoral. Seu apoio não seria de todo desprezível desde que discreto.
Nos últimos dois meses, ante o risco de vir a ser denunciado por corrupção pela terceira vez, anunciou que estava repensando suas candidatura e que talvez desistisse dela. Ontem, voltou a sugerir que poderá ser obrigado a ir em frente. Obrigado por quem, Deus do céu?
Por seu partido, o PMDB, seguramente não é. O partido quer mais é gastar a fortuna do Fundo Partidário para eleger deputados federais, senadores e governadores. Poderia tolerar a candidatura a presidente do ex-ministro Henrique Meirelles porque ele pagaria suas próprias contas.
Não há um só outro partido entre os mais de 30 disponíveis que deseje a companhia de Temer como candidato a qualquer coisa. Temer virou palavrão, coisa ruim, sinônimo de todos os males, culpado por todas as desgraças do país. Injusto e cruel que seja assim, mas é assim que é.
O mais é esperneio, estrebucho na maca, dores da frustração, choro de quem perdeu o bonde da História.