O poder político e a imprensa
Curiosamente, o mais democrático e liberal governante deste país foi D. Pedro II
Ambos são poder. E dentro do marco democrático devem obedecer aos preceitos que regem relações civilizadas e respeitosas. Neste sentido, vale a frase de Millôr Fernandes que virou clichê: “Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. Vale dizer, preservada a liberdade de expressão, a imprensa integra o conjunto dos contrapoderes e contrapesos que limitam à tendência ao abuso do poder.
Curiosamente, o mais democrático e liberal governante deste país foi D. Pedro II. Não se trata de um apelo nostálgico à monarquia até porque foi o mais republicano dos imperadores de que se tem notícia, na essência do significado Res Publica.
Em carta ao Conde de Gobineau escreveu: “A política não é para mim senão o duro cumprimento do dever (…) a falta de zelo, a falta do sentimento do dever é o nosso primeiro defeito moral”. O seu credo político está nas 5.500 páginas do seu diário e nos “Conselhos à Regente” (03/5/1871), onde registrou: “Sem bastante educação não haverá eleições como todos devemos querer” (…) A instrução primária deve ser obrigatória (…) Entendo que se deve permitir toda liberdade nessas manifestações (…) Os ataques ao imperador não devem ser considerados pessoais, mas apenas manejo ou desabafo partidário”.
Com a burocracia e corrupção foi contundente: “Tudo que não é rotina encontra mil tropeços entre nós (…) A primeira necessidade da magistratura é a responsabilidade eficaz e que enquanto alguns magistrados não forem para a cadeia como certos prevaricadores muito conhecidos no Supremo Tribunal de Justiça, não se conseguiria este fim”.
Austeridade para D. Pedro II, não era uma ideia, hoje idelogicamente maldita, era uma inexcedível virtude pessoal: a dotação orçamentaria da corte foi a mesma durante 49 anos de reinado o que lhe permitiu amparar pobres, financiar bolsistas para estudar no exterior e devolver ao tesouro cinco mil contos de pensão para viver no exílio, concedida pela consciência culpada da República.
Voltando à imprensa. Os jornais e os chargistas foram impiedosos: satirizavam a silhueta imperial, chamando-o de Pedro Caju: ridicularizavam a tolerância apelidando-o de Pedro Banana e, flagrado em cochilos por conta do diabetes, insinuavam demência senil. Mesmo assim ordenou ao Duque de Caxias; “A imprensa se combate com a imprensa”. Não importava se parcial ou leviana.
Infelizmente, o injustificável episódio entre o Presidente Bolsonaro e a Folha de São Paulo é um mau exemplo para o presente e para a posteridade.
Gustavo Krause foi ministro da Fazenda no governo Itamar