O décimo tiro
Marielle foi assassinada porque combatia desmandos de policiais do Rio de Janeiro
Mal tivemos tempo de chorar por Marielle e Anderson, e somos obrigados a encarar covardes que usam as redes sociais como armas contra os que se colocam no seu caminho. Não são pessoas. São subumanos. Marielle foi mulher de um traficante. Marielle foi eleita pelo Comando Vermelho, facção de bandidos que age em São Paulo. Mentiras descaradas, espalhadas com desfaçatez e maldade extrema por uma desembargadora, um deputado federal, e um movimento politico ultraconservador.
Para eles, não bastou o assassinato cruel e covarde. Irresponsáveis, levianos, desfecharam o décimo tiro contra Marielle. Ferozes, tentaram nas redes sociais desonrar a história da mulher que denunciou corrupção e violência de policia e milicia, sem medo. Os três, e quem mais vier, irão responder pelo crime de infâmia, injuria, difamação. Mas fizeram estrago.
Há quem precise apenas de uma reles palavra para deixar vazar o preconceito e o radicalismo. As “acusações” (baseadas insanamente em coisas “que ouvi dizer” ou “num post de uma amiga”) são infames, rasas, mas se encaixam em cabeças ocas dos que não conhecem, muitos menos respeitam, cidadãos como Marielle.
As redes sociais aviltam e desonram, nas mãos desse tipo de gente. Se a verdade não corresponde aos fatos, danem-se os fatos. Dissemina-se mentiras como verdades incontestáveis. Duvidamos até dos fatos, nas redes sociais. Armadilhas perigosas. Pelo sim, e pelo não, hoje cremos e duvidamos de tudo e de todos. Que mal nos fazem essas nefastas criaturas.
Engana-se quem pensa, e prega nas redes sociais, que Marielle foi morta porque era mulher, negra, de origem humilde e homossexual. Um prato cheio para ataques de fúria de preconceitusos e pobres de espirito. Não. Marielle foi assassinada porque combatia desmandos de policiais do Rio de Janeiro. Desafiou poderosos, pôs em risco seus negócios criminosos. E lucrativos.
Não é de hoje, e estão longe do fim as peças, pequenas e grandes mentiras que nos pregam as redes sociais. Há os que compartilham mentiras apenas por conveniência. Se é bom acreditar em determinada versão, por que não? É o que pensam. Agravado pela desilusão crescente com os politicos, e todos os governos – de todas as instâncias.
Dos seres peçonhentos que espalharam boatos, uma ocupa a função de juiz. Julga pessoas. O que podemos esperar de uma setença dela? Outro é conhecido por pertencer á “bancada da bala” na Câmara Federal. Quer coisa pior? O terceiro, todos lembram, levou milhares de brasileiros e um pato amarelo às ruas, envoltos em bandeiras verde e amarela, para gritar pelo impeachment que salvaria o Brasil.
Que Brasil pretendiam salvar? O que patina em estrondosas reformas prometidas como redenção? O que não consegue definir o rumo de uma discutivel intervenção militar no Rio de Janeiro? O que não reduz a violência? Ou o Brasil que matou Marielle e Anderson? E outros milhares de brasileiros jovens, crianças, velhos, soldados, policiais, mortos numa dramática e assustadora rotina da nossa população. Triste Brasil.
Mirian Guaraciaba é jornalista, paulista, brasiliense de coração, apaixonada pelo Rio de Janeiro