O capital de Bolsonaro
Tudo dependerá de como encaminhará, já no início do seu governo as duas reformas
Depois de tantos desacertos da era petista, a saudável alternância do poder se concretiza. Jair Bolsonaro assume o governo em meio a enormes expectativas. O país é varrido por uma onda de grande torcida pelo sucesso de seu governo. O otimismo chega à economia, sentimento compartilhado por 65% dos brasileiros.
Seu capital político, portanto, é imenso. Conta com uma equipe econômica de respeito e uma agenda amplamente respaldada pelas urnas. Mas só irá dar certo se souber usar esse ativo para levar adiante a agenda reformista bloqueada nos anos do lulopetismo.
A seu favor conta ainda com a existência de uma oposição que, a exceção do PT, não se dispõe a vir de faca nos dentes. A maioria dos partidos oposicionistas parece ter entendido o recado das urnas, não estando disposta a se condenar ao gueto por meio de uma guerra sem quartel.
Seu receituário econômico vai ao encontro das expectativas dos investidores e da sociedade, até porque, com o desastre da “nova matriz econômica” não há na prateleira outra alternativa à sua agenda econômica liberal. Para sua sorte, Michel Temer passou o bastão presidencial com uma inflação abaixo do centro da meta e com a mais baixa taxa de juros, desde da criação da Selic em 1999.
Nem por isso Bolsonaro terá vida fácil. Capital político é volátil pela sua própria natureza. Tudo dependerá de como encaminhará, já no início do seu governo as duas reformas sem as quais é quimera falar na retomada do crescimento sustentado. Se perder as batalhas das reformas Previdenciária e Tributária sua base social e de sustentação política pode se estiolar.
A estratégia de uma reforma previdenciária fatiada envolve vantagens e desvantagens. O novo presidente não deixa de ter razão quando diz que a melhor reforma é aquela que pode ser aprovada no Congresso. Mas se a tática for de realizar uma reforma em quatro anos, como preconizou seu chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, corre o risco de se ver na situação do presidente da Argentina Maurício Macri que queimou seu capital político por meio de estratégia semelhante. Talvez, o melhor seja seguir o conselho de Maquiavel, segundo o qual o “mal” se faz de uma vez só.
As duas reformas contrariam fortes interesses. Todo mundo é a favor até apertarem no próprio calo. Para enfrentar reações corporativistas é vital o novo governo não abrir várias frentes de luta, como aconselha a boa estratégia militar.
A agenda ideológica de Bolsonaro tem enorme poder de comprometer o sucesso do seu governo, com impacto direto nas exportações brasileiras. A blitzkrieg contra os direitos difusos, é geradora de conflitos absolutamente dispensáveis. Retrocessos na Educação comprometerão o crescimento, a longo prazo.
É recomendável concentrar suas energias na retomada do crescimento e no combate à corrupção e ao crime organizado, bandeiras responsáveis por sua eleição.
Até 2022 o piloto do avião chamado Brasil é Bolsonaro. Todos nós estamos na mesma nave.
Sucesso ao novo presidente e feliz ano novo aos brasileiros.
Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo