O apoio do (P)MDB não é mais o mesmo
Eleitoralmente, o apoio do MDB tem sido decisivo.
Não se governa sem o MDB. Talvez esta seja uma das frases mais repetidas em rodas políticas de Brasília. De fato, nas últimas décadas, todo e qualquer governo sediado no Palácio do Planalto utilizou o poder legislativo do partido para avançar agendas e se proteger de possíveis ataques políticos.
O estilo do MDB, regionalmente fragmentado, ideologicamente adaptável e politicamente realista, proporcionou vitórias a quem soube conduzi-lo de maneira pragmática, como os ex-presidentes FHC (PSDB) e Lula (PT). Mas também levou a quedas históricas, como a da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
A verdade é: politicamente, o MDB soube se apropriar como ninguém do software do presidencialismo de coalizão, o que resultou em poder político na forma de nomeações, verbas, emendas ao Orçamento e influência política direta.
Eleitoralmente, o apoio do MDB tem sido decisivo. Após coligar-se com José Serra (PSDB) em 2002, a sigla nunca mais foi derrotada em eleições presidenciais. Em 2006 não se coligou formalmente com o PT, apesar de apoio de alas importantes do partido. Em 2010 e 2014, apoiou e venceu com Dilma Rousseff.
O apoio do MDB sempre foi cortejado por inúmeros motivos. Em primeiro lugar, pelo tempo de televisão que lhe é atribuído, fator fundamental em disputas presidenciais. Segundo, pelos recursos a que o partido sempre teve acesso, seja do Fundo Partidário, seja de doações empresariais, legais até 2014. E, por último, mas não menos importante, pelo poder regional da legenda, que reúne dezenas de deputados federais, deputados estaduais e governadores, além de centenas de prefeitos. Ainda que fragmentado, a história recente mostra que, no plano nacional, o MDB esteve quase alinhado.
Em 2018, porém, tudo isso mudou e o apoio do MDB não é mais o mesmo. Vamos às razões:
1. A brutal impopularidade de Michel Temer (MDB). Poucos políticos com pretensões eleitorais, principalmente os que buscam a Presidência, gostariam de dividir palanque com o atual presidente da República. O apoio do MDB ainda é valioso, mas a contrapartida – defender o legado de Temer – é um ônus considerado pesado demais.
2. O poder do Centrão. Nos últimos ciclos eleitorais, a sopa de letrinhas partidária aumentou. Caso o Centrão, principalmente PP, PR, PRB e PSB, se unam ao redor do candidato Geraldo Alckmin (PSDB) ou de qualquer outro nome, o apoio do MDB não será considerado essencial. Com o Centrão unido, mesmo sem o MDB, o candidato escolhido terá tempo de TV e prefeituras suficientes para viabilizar uma candidatura.
3. MDB desmontado e fragmentado. O partido sempre teve interesses regionais difusos, mas em 2018 a situação está diferente. Em vários estados, incluindo Alagoas, Minas Gerais, Paraná e Ceará, o MDB deverá apoiar candidatos petistas. Ou seja, a máquina do partido, outrora unida no plano nacional, estará defendendo projetos presidenciais diferentes em regiões diversas. Em outros estados, onde o MDB é tradicionalmente forte, como Rio de Janeiro e Bahia, houve desmonte de lideranças políticas por conta da Operação Lava-Jato.
4. Dinheiro. A capacidade do MDB de atrair doações empresariais sempre foi bem vista na hora de organizar coligações. Agora esse cenário mudou. Mesmo com acesso privilegiado aos fundos públicos de campanha, os partidos não mais contarão com doações empresariais, proibidas pelo Supremo Tribunal Federal.
O MDB continuará sendo fundamental na construção de consensos legislativos. É fato que o próximo presidente, seja ele quem for, precisará do apoio dos emedebistas para tocar agendas. Mas, com o avanço do Centrão, que deverá crescer na Câmara dos Deputados, e a ruptura entre o MDB reformista e o MDB lulista, a legenda perde espaço e influência nas costuras de alianças nacionais.
Lucas de Aragão é sócio da Arko Advice e mestre em Ciência Política pela Fordham University.