E pensar que não fazem 30 dias, estávamos todos em pé de guerra. O Brasil é assim. Bipolar e binário. Não acredita em moderação. Tanto que fica surpreso que o resultado de uma eleição não causou terremotos como previsto. Ganhou quem ganhou. Perdeu quem perdeu. E, para surpresa de muita gente, o sol raiou no dia seguinte.
Não quer dizer que ficou bom. Longe disso. Há muito o que fazer, independentemente da ideologia. Mas quer sim dizer que democracia é capaz de absorver surpresas e viradas adaptando-se habilidosamente a cada situação.
E é saudável que assim seja. Alternância no poder é remédio saudável. Cura para quase todos os males do mundo político. Melhora tudo. Por um lado, traz oportunidades aos ganhadores de tentarem algo novo. E melhorar em algumas áreas pagando, claro, o inevitável custo de não atender a todos todo o tempo.
Mais importante, alternância no poder renova a oposição. Perder o poder dói. Mas força autocritica. Traz renovação. Novas caras, novos líderes, novas ideias. Enfim, abre espaço para o surgimento de possibilidades que, se endereçadas e aceitas pela maioria nas próximas eleições, também verão a luz do sol e poderão ser testadas na próxima mudança de liderança.
É compreensível que haja resistência. Perder, afinal, não é fácil. Fazer a transição do presente para o passado é exercício doloroso para alguns. Mas necessário para todos. Já não dava mesmo para ter a cédula eleitoral tomada pelos mesmos nomes por mais de duas décadas. O que se assiste é o ocaso de completo de uma geração de políticos que errou mais do que acertou.
Ao fim e ao cabo, 2018 termina em breve ensinando a todos que eleições são sempre boas, independente da qualidade do eleito. Cabem aqueles que discordam da decisão da maioria, preparar e gerar ideias e projetos políticos que possam minimamente resolver as questões prioritárias para a maioria dos eleitores.
O evidente encolhimento ou até potencial desaparecimento de alguns partidos antes considerados donos do poder demonstra o quanto os partidos e os políticos se desconectaram da população. O eleitor percebeu. E os mandou para casa.
Alguns, claro, continuam reclamando. Culpam o eleitor. Sem qualquer capacidade de identificar no espelho o responsável por propostas obsoletas ou comportamentos inaceitáveis. Espantados, descem relutantemente a condição de notas de rodapé. Desavisados, ainda não perceberam que estão (ou foram) aposentados.
Elton Simões mora no Canadá. É President and Chair of the Board do ADR Institute of BC; e Board Director no ADR Institute of Canada. É árbitro, mediador e diretor não-executivo, formado em direito e administração de empresas, com MBA no INSEAD e Mestrado em Resolução de Conflitos na University of Victoria. E-mail: esimoes@uvic.ca .