Longe de dispor entre seus governados do amplo apoio que os cubanos deram ao ditador Fidel Castro até a sua morte, e sem nada que lembre o carisma e o brilho da oratória do seu ex-mentor, o coronel Hugo Chávez, Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, tenta, no entanto, se valer de um recurso usado pelos dois para manter-se no poder por longo tempo.
O recurso: acenar com o fantasma de uma intervenção militar dos Estados Unidos no seu país para “anular as conquistas da revolução bolivariana”. Ao ler uma notícia de que o presidente Donald Trump discutiu em 2017 com assessores a possibilidade de invadir a Venezuela, Maduro voltou a pedir às forças armadas que comanda para que “não baixem a guarda”.
Os americanos deram a Castro motivos de sobra para que os elegesse como seu principal inimigo. Primeiro ao se negarem a apoiar revolução vitoriosa de 1959. Segundo ao bancarem a invasão de Cuba por uma tropa de mercenários mal treinados e que foram derrotados na Baía dos Porcos. E por fim ao decretarem um bloqueio econômico que perdura até hoje.
Dependentes do petróleo venezuelano, os Estados Unidos não procederam assim com o regime de Chávez. Mas isso não impediu o coronel, devoto de Castro, e que acabaria morrendo de câncer em Havana, de se apresentar como alvo preferencial deles. Enquanto viveu, Chávez soube encantar e seduzir seus partidários enquanto a economia venezuelana ia para o brejo.
Ex-motorista de ônibus em Caracas, vassalo de Chávez, Maduro herdou um país quebrado e tratou de quebrá-lo ainda mais. O simulacro de democracia que havia por lá deu lugar a uma ditadura que tirou a máscara, embora não se assuma como tal. É difícil que ainda vá muito longe. Para que caia, dispensa a ajuda insensata de um desarvorado como Trump.