Durante sete dias, o site O Antagonista e a revista eletrônica Crusué ficaram sob censura, acusados pelo ministro Alexandre de Moraes de publicarem uma notícia falsa que teria atingido a honra de José Antonio Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, e, por tabela, a imagem dos seus pares e da justiça brasileira.
Site e revista haviam publicado que um documento anexado aos autos da Lava Jato identificara Toffoli como “o amigo do amigo” do pai de Marcelo Odebrecht. O pai, Emílio, fora amigo de Lula. Toffoli, amigo de Lula, era o Advogado Geral da União à época em que a Odebrecht superfaturou contratos com o governo.
A pedido de Toffoli, Alexandre de Moraes investigou o caso e concluiu que não havia documento algum. Daí a decisão de restabelecer no país a censura à imprensa, algo que contraria frontalmente o que está escrito na Constituição. Revogou sua decisão ontem ao descobrir que o documento existia, sim senhor.
Há três dias sabia-se que o documento existe. Pode não ter chegado à Procuradoria Geral da República, mas chegara aos autos da Lava Jato. Foi um juiz federal que mais tarde mandou retirá-lo dos autos. Alexandre de Moraes só se deu por vencido depois de ter sido criticado por alguns dos seus colegas.
Foi mal, muito mal! Dito de outra maneira: se alguém produziu uma fake news foi o ministro. De fato, Alexandre de Moraes passará à história do Supremo como o primeiro ministro, ali, a tomar uma decisão fake. Enquanto durou, ela causou sério prejuízo à reputação de um site e de uma revista. Quem pagará por isso?
O Supremo virou uma zorra e não é de hoje. No ano passado, um juiz federal proibiu a Folha de São Paulo de entrevistar Lula. O ministro Ricardo Lewandowski deu razão ao jornal e permitiu a entrevista. O ministro Luiz Fux derrubou a permissão dada por Lewandowski. Ontem, Toffoli derrubou a de Fux.
Não será surpresa se qualquer dia desses um ministro do Supremo acorde de mau humor e resolva acabar com a Lava Jato a pretexto de que ela instituiu a República dos Procuradores. É o medo, somente o medo da reação das ruas que impediu até agora que isso ou algo parecido acontecesse.