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Cristiane Brasil, Deneuve, Oprah: mulheres abrem 2018

Na carta pública as francesas pegam pesado em vários trechos, mas sem perder o charme jamais

Por Vitor Hugo Soares
Atualizado em 13 jan 2018, 15h00 - Publicado em 13 jan 2018, 15h00
Deputada Cristiane Brasil (Wilson Dias/Agência Brasil)

Três mulheres deram o tom e ditaram o ritmo dos primeiros debates e das encrencas políticas e culturais do ano que se inicia. A primeira delas vem de Niterói, tem o nome de Cristiane Brasil, que parece talhado sob medida para os tempos temerários que se anunciam já na entrada de 2018 na banda do lado de baixo da linha do Equador.. Ela já causou polêmicas e produziu estragos de bom tamanho no outro lado da ponte, ora por sua explícita atuação na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, ora pelas condenáveis relações trabalhistas mantidas com seus empregados particulares – mas onde público e privado estão quase sempre estão misturados.

Agora, deputada federal em Brasília, do nada ela foi tirada do bolso do colete do pai e chefe do PTB (Roberto Jefferso, detonador do Mensalão) escolhida pelo soturno habitante do Palácio do Jaburu para o delicado cargo de ministra do Trabalho (quanta ironia!). Ela dá sinais nítidos de ter potencial de sobra para ser o estopim da bomba de muitos megatons que ameaça despedaçar as pilastras já cheias de fissuras da base do governo do PMDB, sob comando de Michel Temer. Quer a ministra tome posse (o que ainda é dúvida,graças ao tamanho da complicação judicial e ética em que se meteu), ou não, o que pode descambar para reboliço ainda maior.

A segunda vem da França, olho do furacão de históricas polêmicas e memoráveis debates políticos e culturais que mexem de tempos em tempos com a cabeça de gente de todo gênero do planeta inteiro, a exemplo do que está acontecendo agora mesmo. A começar pelo debate sobre a questão da mulher e do feminismo, cujo exemplo moderno mais expressivo, para mim. é Simone de Beauvoir, autora de “O Segundo Sexo” (um livro basilar e pioneiro sobre o tema), primeira grande paixão platônica e intelectual do jornalista que assina este artigo semanal de informação e opinião. Isso desde que a vi, bela, faceira e sobranceira, pisando o solo da Cidade da Bahia, lá pelos emblemáticos Anos 60, em sua visita ao Brasil ao lado de Sartre. Para ser exato, no período de 12 de agosto a 2 1 de outubro de 1960..

Catherine Deneuve
Catherine Deneuve (VEJA.com/Divulgação)

Digo isso porque em 2007 escrevi um texto sobre o assunto, publicado neste blog e no jornal A Tarde (onde, na época, eu era editor de Opinião). Escrito que talvez, nestes tempos extremados do politicamente correto, provavelmente não pegaria bem, a começar pelo título: “Simone, que mulher!”. Ainda assim, nesta semana de mulheres envolvidas, ou combatentes de debates febris (não raramente agressivos), ouso reproduzir trechos do que então escrevi sobre a visita da autora de “Todos os Homens são Mortais” .

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Simone e Sartre desembarcaram em Recife, a convite da Universidade Federal de Pernambuco, para participar em Olinda do I Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária. Depois cruzaram várias regiões – viram até Brasília ainda em construção por JK- sempre acompanhado de outro casal famoso: Jorge Amado e Zélia Gattai. “Em Salvador, a passagem de Simone deixou rastros indeléveis, principalmente nos meios universitários e no bares mais populares, freqüentados por intelectuais e artistas. O professor de etnografia da UFBA, Vivaldo da Costa Lima, a quem a escritora francesa se refere várias vezes em seu livro autobiográfico “A Força das Coisas” , costumava apontar para velho tamborete de um desses barzinhos no Maciel – antiga área de prostituição do restaurado Pelourinho – e informava: &quo t;;Ali Simone de Beauvoir sentou o seu traseiro”.

Que tempos, hein, penso agora, no meio do bafafá destes dias!

No caso do alvorecer de 2018, no entanto, quando a formidável pensadora francesa já partiu faz tempo – que pena este embate sem ela -, refiro-me agora a outra simbólica representante do sexo feminino na França: a atriz Catherine Deneuve (74 anos), personalidade também referencial (e polêmica) desde o filme “La Belle de Jour” ( A Bela da Tarde), do incrível cineasta espanhol, Louis Buñuel. É a atriz que ocupa agora o centro da cena, ao encabeçar o surpreendente manifesto, assinado por uma centena de artistas e intelectuais, publicado na terça-feira pelo diário Le Monde, que dispensa comentários.

Na carta pública as francesas pegam pesado em vários trechos, mas sem perder o charme jamais. Acusam o movimento “Me Too” – surgido a partir das denúncias de assédio sexual do produtor de Hollywood Harvey Weinstein – de “promover o puritanismo, criar clima “totalitário” e sepultar a liberdade sexual”. O grupo de mulheres, Deneuve à frente, sustenta que Me Too já fez com que “muitos homens tenham sido punidos em seu trabalho por tocar um joelho, tentar roubar um beijo ou falar sobre questões intimas durante um almoço profissional”.

O documento vai mais fundo e mexe no vespeiro das “irmãs americanas” ao entrar em terreno movediço e explosivo da questão: “A violação (o esupro) é um crime mas flertar insistente e torpemente não é crime e o cavalheirismo não é uma agressão machista”, destaca o manifesto, que se não muda o rumo da prosa, oferece perspectivas novas de forma e de conteúdo, na exposição e análise da delicada questão que afeta e mexe com os nervos de muita gente. Do ponto de vista do jornalismo, um fato a ser saudado. Igualmente do ponte de vista do livre debate intelectual de ideias e conceitos.

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O documento reconhece que o caso Weinstein levou a uma tomada de consciência sobre violência sexual contra as mulheres no contexto profissional, mas lamenta que agora favoreça a outros tipos de interesses: “Esta febre de enviar os “viados” ao matadouro, longe de ajudar as mulheres a ser autônomas , serve na realidade aos interesses dos inimigos da liberdade sexual, aos extremistas religiosos, aos piores reacionários e os que pensam que as mulheres são seres à parte, crianças com uma cara adulta”, diz um duro trecho do manifesto que Catherine Deneuve encabeça. Tem mais, muito mais, mas quem estiver interessado leia a íntegra que corre livremente na Internet. Só digo que vai ter trocos, muitos e em diferentes escalas de textos e de conteúdos, e isso é bom, democrático e salutar.

Oprah Winfrey (Christopher Polk/Getty/VEJA)

A terceira mulher em destaque nos primeiros dias de 2018 é a mais destacada, famosa e rica apresentadora de televisão dos Estados Unidos. Ao converter-se , domingo passado, na primeira mulher negra a aceita o premio honorífico Cecil B. De Mille, na festa de entrega do Globo de Ouro, o discurso da homenageada foi tecido em torno das questões de gênero, pobreza e raça em seu país. A fala de Oprah fex explodir uma onda gigantesca de especulações, costa a costa. No centro do tsunami, uma pergunta: Oprah Winfrey será candidata presidencial contra Donald Trump em 2020?

No trecho do discurso apontado como principal causador da avalanche especulativa na redes sociais, Oprah afirmou:”Durante demasiado tempo, as mulheres não foram escutadas e nem se acreditava que elas se atreveriam a contar a verdade sobre esses homens (os assediadores de Hollywood). Mas o tempo desses homens se acabou!”. Precisa dizer mais no País sob o mando de Trump? Responda quem souber.

Vitor Hugo Soares é jornalista, edior do site blog Bahia em Pauta.E-mail: vitor_soares1@terra.com.br

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