Comício de Temer no Fórum e a jabuticaba da Páscoa de Lula
O pior foi o desfecho, beirando o farsesco, com gosto de suco de jabuticaba, da deprimente sessão do Pleno do STF, quinta-feira.
É de doer: acordar na segunda-feira (19), deste ensandecido fim de março, quase abril, na Quaresma de 2018, e, logo cedo, dar de cara com a imagem do mandatário, Michel Temer, em evento transmitido pela TV: noventa e quatro horas antes do Dia Mundial da Água, na quinta-feira, 22, e a três dias do “colapso do disjuntor” na área da usina de Belo Monte (PA), apontado por vozes oficiais, como responsável pelo apagão que atingiu mais de 80 milhões de pessoas no Norte e Nordeste.
Aguarda-se o balanço completo dos prejuízos materiais, humanos, econômicos e psicológicos deste desastre que coloca a população, de novo, diante de um dos seus maiores temores de outros tempos, nem tão distantes: a insegurança quanto a gestão das redes de distribuição de energia elétrica e os transtornos dos apagões repetidos.
Na segunda-feira, 19, pela TV, Temer faz um arrevesado discurso de abertura do 8º Fórum Mundial das Águas, no Palácio do Itamaraty, em Brasília. Mais indigesto ainda para alguém vindo das margens do São Francisco, como este jornalista que, na infância e começo da juventude, habitou diante das águas fartas, limpas e doces – das nascentes à foz – entre cidades da Bahia e Pernambuco onde morei. E hoje acompanha o drama do rio exangue – quase morto em alguns de seus trechos – na luta praticamente perdida para sobreviver.
Temer, na TV, abre o principal encontro para discutir os recursos hídricos no planeta. Picado por alguma mosca vadia, o mandatário sinaliza o propósito de ser candidata à reeleição e dedica-se à sua principal ocupação atual:discursar. E envereda pela exploração política do Velho Chico, assim como fizeram seus antecessores do PT, Lula e Dilma. Anuncia a conclusão da transposição – sem dizer quando e a que custo–, que deve beneficiar 12 milhões de pessoas. “Trata-se de projeto antigo, que agora estamos finalizando”, assegura, no palanque privilegiado do Fórum Mundial da Água. Cansado da mesma cantiga, desligo a TV.
Pior só o desfecho, beirando o farsesco, com gosto de suco de jabuticaba, da deprimente sessão do Pleno do STF, quinta-feira. Como registrou o El País: “Um ministro (Marco Aurélio Mello) preocupado em não perder o vôo , um longo feriado de Páscoa pela frente, no STF ninguém trabalha dia nenhum da semana que vem. Os dois fatores se combinaram para produzir o inesperado na sessão que começou a julgar um habeas corpus, pedido pela defesa de Luiz Inácio Lula da Silva, para evitar que ele seja preso antes de se esgotar todos os recursos cabíveis à sua condenação pela Lava Jato… A determinação foi “congelar” a situação do petista, que ganhou salvo conduto e não poderá ser preso até a retomada do caso pelo Supremo, em 4 de abril”. Nada a acrescentar.
Pergunta-se: que presente de Páscoa melhor poderia receber um condenado em segunda instância, a 12 anos e um mês de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo TFR 4 , e cujos recursos naquela corte superior de Justiça, em Porto Alegre, devem se esgotar no começo da semana que vem? Responda quem souber.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br