Centrão esperando o coelhinho da Páscoa
Nunca antes nas últimas décadas houve governo tão incompetente na articulação parlamentar
Ainda bem que a semana foi curta. Nesse ritmo de produção de trapalhadas por hora na Praça dos Três Poderes, não sei como chegaríamos ao domingo de Páscoa. A crise institucional rondou o STF e criou muita espuma. Mas a República não perde um feriadão, e foi todo mundo para casa – ou para Lisboa – esfriar a cabeça. O principal fato político da temporada, porém, foi a aliança entre o Centrão e a oposição do PT, do Psol e outros para obtruir a votação da reforma da Previdência na CCJ da Câmara.
Nessa inusitada união, cada um tem seus objetivos. Os oposicionistas, obviamente, querem inviabilizar o principal projeto do governo Jair Bolsonaro. Os partidos do Centrão (PP, PR, PRB, PSD e parte do Dem) recorrem à estratégia de criar dificuldades para vender facilidades. Até aí, sem novidades. Desde que o mundo é mundo, oposicionistas fazem oposição e o Centrão corre atrás de emendas, cargos e espaços no governo, qualquer que seja ele.
A novidade é que nunca antes nas últimas décadas houve governo tão incompetente na articulação parlamentar. Incapaz de evitar que aliados em potencial, inclusive defensores declarados de uma reforma na Previdência, se juntem a adversários para infligir derrotas ao Planalto. Impotente diante de crises anunciadas, lerdo para conter manobras regimentais do outro lado, débil para convencer sua própria tropa a não mudar o texto da Previdência nessa etapa.
Raras vezes se viu uma reforma prioritária de um governo recém-empossado ser retalhada já na CCJ, uma fase de tramitação quase burocrática, com a atribuição de examinar constitucionalidade e admissibilidade. Só isso. O que se assistiu na semana, porém, foi um forte movimento para retirar itens do texto desde já, mesmo que todos saibam que o mérito da proposta será examinado na etapa da Comissão Especial, que, por sua vez, só pode ser criada quando a matéria sair da CCJ.
Tudo isso se passou, claro, apenas depois de as forças oposicionistas terem derrotado o governo por 50 a 5 na CCJ para, numa clara manobra protelatória, votar a PEC do orçamento impositivo antes da Previdência. Em tese, ficou tudo para semana que vem, quando vamos ver qual será o próximo pretexto do novíssimo bloco Oposição-Centrão para não votar.
A não ser que o coelhinho da Páscoa traga para o Centrão o que ele quer. Quem sabe? Caso contrário, o retrato dessa aliança bizarra continuará mostrando, lado a lado, deputados como Artur Lira (PP-AL) e José Guimarães (PT-CE), entre muitos outros de direita e de esquerda, irmanados numa só causa: derrotar o governo Bolsonaro.
Helena Chagas é jornalista