Caio Presidente
Com a família dividida entre coxas e mortadelas, Caio optou por ser Fora Temer
Caio Presidente.
Ele decidiu: quer ser presidente do Brasil. Na vibe eleitoral, tem programa de governo e a primeira ação decidida: Fora Temer!
Com a família dividida entre coxas e mortadelas, Caio optou por ser Fora Temer. Convicto, usa as duas palavrinhas até para finalizar provas escolares.
Ensino que, se for eleito, Temer estará fora. Pela lei, o mandato tem quatro anos. E o presidente eleito ou reeleito assume. O candidato Caio debocha: Sei… E a Dilma, hein, hein?
Melhor passar ao programa de governo.
Na Segurança?
– Polícia na rua. Muita. Exército também. Rota também. (Caio vive em São Paulo e é antenado com o noticiário da violência. Como milhares de brasileiros já viu de perto um assaltado à mão armada). Alerta: “Polícia tem que chegar rápido e suave. ”
– Polícia suave, Caio?
– Sim. Aponta a arma e diz: Parado. “Us caras” vão parar. Com medo, né?
– Será?
– Pode ser…. (Concede o candidato, admitindo que talvez não seja tão fácil assim parar “us caras”, no modo bandido).
O programa Caio Presidente espelha o menu chavão de todas as campanhas. Linha de frente: Segurança, Saúde e Educação – de boa qualidade, para todos. Propõe: Impostos baratinhos, salário bom, emprego pra todo mundo. Sem gente morando na rua. Sem fome. Hospitais bons. Vacina pra todo mundo. Sem fila. Esportes em todo lugar e pra todos. Muita escola boa. Todos aprendendo rápido ler e escrever. “Como o Pelé”.
– Pelé? Que Pelé?
– Pelé real, que ta vivo, tem 77 anos. Jogava muito. No Santos. Na Seleção. Copa do Mundo.
– E ele vai ensinar o quê?
– Errrr!… A ser monstro com a bola no pé. Fera. Entendeu?
Faz sentido. No país do futebol, se em todas as escolas mestre Pelé ensinar a intimidade como a bola, poderemos evitar outro 7X1 pelas fuças. (Aqui, uma ressalva: Há casuísmo nessa deferência ao Pelé, do Santos. Caio é mano. Firmeza no Corinthians. Mas anda louco para conhecer o Pelé, que nunca viu jogar. Apaixonado por futebol, sabe da fama, vê no YouTube, jogadas e gols saídos dos pés mágicos do rei Pelé).
– E na Cultura, candidato?
– Vai ter tudo – música, funk, samba, rock, paródia. Vai ter balada, show, cinema, musical… Pra todo mundo. E eu vou a tudo. Presidente da República é vip. Vai ter convite pra tudo. É presidente, entendeu? Chique. Não estressa. Nem precisa acordar cedo para ir à escola. Manda muito. Faz o que quer.
– E se, como essa mandação toda, rolar um impeachment?
– É golpe.
(Pausa pra rir).
– Algum programa especial para as mulheres, os negros, os índios, crianças, adolescentes, velhos ou para os downs, por exemplo? (Ele é um deles).
– Tudo igual – e bom – para todos. Gente é gente. (Fechou, vá?)
Eita! Temos um problema, candidato. A lei não permite que gente menor de 35 anos seja presidente da República…
– Fácil. Muda a lei.
Antenado, o candidato Caio percebe o modus operandi da cena política brasileira. Ajeita a lei para caber dentro. Tem no gogó o genericão de todas as eleições.
Na sua meninice, imagina o poder sem estresse. Fantasia desfrutar o lado vip da vida de presidente. Sem precisar acordar cedo. Principalmente. Diferente é a sincera e ingênua crença: é possível fazer o melhor para todos. Afinal, “gente é gente”. Sem distinção.
PS.: Março celebra o Dia Internacional das Mulheres (8) e o Dia Internacional da Síndrome de Donwn (21). São datas reservadas para lembrar sonho e luta por igualdade de direitos e respeito às diferenças. Caio Presidente é homenagem à gente que, feito Pelé em campo, dribla impedimentos, adversidades e autoridades rolando a bola na direção do gol.
Tânia Fusco é jornalista, mineira, observadora, curiosa, risonha e palpiteira, mãe de três filhos, avó de dois netos. Vive em Brasília. Às terças escreve sobre comportamentos e coisinhas do cotidiano – relevantes ou nem tanto