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Avesso do avesso (por André Gustavo Stumpf)

Bolsonaro desmentiu seu próprio discurso

Por Gustavo Noblat Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 nov 2020, 20h03 - Publicado em 10 ago 2020, 10h00

Quem estudar Bolsonaro no futuro vai perceber que o presidente brasileiro deu uma aula de populismo explícito e negou na prática tudo o que havia prometido na campanha. No governo, rasgou seus compromissos.

Desmentiu seu próprio discurso, em nome da reeleição, que prometeu não tentar. Não governa o presente, administra seu futuro. Comprometeu o momento atual em nome de produzir um tempo de prosperidade no próximo mandato presidencial.

O presidente anunciou um governo baseado na nova política. Ele não negociaria com os atuais partidos que constituíam a mais desastrosa face da República. Além disto, colocou sua tropa na rua para bater o bumbo contra os ministros do Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso e, especificamente, contra o deputado Rodrigo Maia e o senador Davi Alcolumbre.

Tentou fechar com violência o Supremo Tribunal Federal (STF), demitir os onze ministros e substituí-los por militares de alta patente. Foi convencido a não realizar tamanho desvario. Mas esteve perto.

O discurso da prometida honestidade foi esquecido por se confrontar com atitudes dos filhos. Um deles acusado de receber parte dos pagamentos dos funcionários de seu gabinete. Também foi colocada de lado a ideia de um governo impoluto. A primeira vítima foi o ex-ministro Sergio Moro. Ele percebeu que o presidente pretendia utilizar a Polícia Federal para proteger as atitudes menos cristãs de seus filhotes.

Agora ele estimula a criação da quarentena de oito anos para que pessoas do Poder Judiciário possam se candidatar a cargo político. A ação pretende evitar eventual candidatura de Sergio Moro à Presidência.

O presidente percebeu que para manter seu governo precisava se compor com grupo capaz de impedir eventual impeachment. Foi ao encontro do chamado centrão, grupo de políticos que gosta de negociar com governo. Com qualquer governo. Na campanha ele apontava para este grupo como a pior face do poder no Brasil. Mudou de ideia. Entregou-se ao chamado toma lá, dá cá.

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Em outro cenário, avançaram as investigações sobre as ações do chamado gabinete do ódio. Ele foi obrigado a fingir que não viu nada. Se partisse para o ataque, poderia revelar onde estão e quem controla seus regimentos de robôs.

Abandonou seus mais fiéis seguidores. Restou o discurso liberal, que é dissonante em relação a seus apoiadores e mesmo aos militares que compõem seu governo. O ministro Paulo Guedes é liberal de carteirinha. Estudou na escola de Chicago e foi professor de economia em Santiago, no Chile, ao tempo da ditadura de Pinochet. Assistiu naquele país a execução das políticas ultraliberais debaixo de vara. Não havia Congresso, nem livre discussão de projetos. Quem discordasse era preso ou morto, se não conseguisse fugir para o exílio.

Foi fácil para os economistas naquele país instituir o regime ultraliberal, que desmantelou a previdência social. E implantou o sistema de capitalização, sonho do atual ministro da Economia.

Mas, agora, mesmo este símbolo do governo está abalado. Até hoje não foi realizada nenhuma venda de ativos. Ao contrário, os militares criaram empresa chamada NAV na Aeronáutica, para controlar o espaço aéreo. A Infraero continua viva e dando prejuízo. Não ocorreu nenhum avanço na área da desestatização.

No Ministério dos Transportes existe uma estatal denominada EPL, criada no governo Dilma para projetar o trem de alta velocidade entre Rio de Janeiro e São Paulo. O governo desistiu da obra. Mas a EPL continua funcionando, cheia de funcionários, chefes e diretores.

Boa parte do governo quer investir em obras e mecanismos de transferência de renda, com efeitos eleitorais. Obras geram empregos e comissões. E o programa Renda Brasil cria votos para a reeleição de Bolsonaro. O discurso ultraliberal é contra tudo isso.

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Guedes está diante de seu próprio abismo, porque a dívida pública irá para as alturas. No altar das contradições, mais de cem mil mortos pela ação do coronavírus e cerca de treze milhões de desempregados. Sobre isso, nenhuma palavra porque só a cloroquina salva.

O governo incentivou ações dentro do antes odiado Supremo Tribunal Federal contra o ex-ministro Sérgio Moro. Ele é acusado de não ter a necessária imparcialidade para julgar o ex-presidente Lula. Desestruturar Moro é também o objetivo do Partido dos Trabalhadores.

Se Lula for inocentado, colocará sua campanha na rua no dia seguinte. De novo, Bolsonaro versus PT. Direita contra esquerda. Na realidade, um grupo precisa do outro. Os dois se realimentam. É o poder pelo poder. Nenhum projeto para o país.

 

Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense. Escreve no Capital Político. ⠀

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