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Por Coluna
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Angústia e sutileza eleitoral (por Paulo Delgado)

Eleição

Por Paulo Delgado
Atualizado em 18 nov 2020, 19h45 - Publicado em 5 nov 2020, 11h00

Vem aí a eleição municipal. Traga seu próprio pão com manteiga. Não proponho ignorar as dificuldades, mas as tratar de forma dispersa. O Brasil está sem hierarquia no sofrimento e na satisfação porque acostumou a dar poder a quem a razão não ensina o uso. Por isso olho vivo.

Se os partidos se multiplicam sem sentido, não falam entre si e são incapazes de formar uma aliança mínima de candidatos, não sofra, desista deles. Quem vai saber o que é verdade ou superstição em campanha eleitoral.

Grosseria, tédio ou teatro. Como a convicção é um bem perdido parece que nem tudo mereça uma olhada, mas não é assim. Esqueça a evidência científica para definir a eficácia da prefeitura da sua cidade. Campanha visa sugerir ao eleitor que o candidato está nessa onda junto com ele. Quando ambos não se merecem vence qualquer um.

O fato é que as famílias, escolas, sindicatos, igrejas e os partidos fracassaram como pedagogos. A imprensa tenta se salvar, mas a pressão dos leitores por ideias motivacionais está subutilizando a inteligência e o raciocínio. Há um formalismo simplificador de textos que ajuda muito a políticos pitorescos.

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Não é muito a hora de querer ser vanguarda e ordenador dos fatos. Candidatos pugilistas estão aí querendo elevar as tensões para aparecerem. Dois tipos de candidatos proliferam. O apostólico que se faz de vítima, como se só houvesse erro no outro, é o maior beneficiário deste eleitor de slogans e fúrias. O só politizado provoca uma anulação da sensibilidade, pois com ele a dor, substituída pela vontade, é esquecida. Vamos tentar a supressão da vítima e da dor, para facilitar a escolha.

A eleição precisa de uma imprensa capaz de estar atenta às infirmezas dos santos do pau oco. E de um eleitor sem melancolia que perceba que não é bom candidato quem desperta em você sonhos pós eleição. O paraíso do falastrão é a consequência que provoca, nunca ajudou ao Brasil.

A condição fraca da cidadania produziu uma confusão sobre o que é bom em um candidato e uma distraída atenção ao que é ruim. Não tenho o poder de adivinhar, mas posso alertar para escolhas diferentes e a importância de ser capaz de se mover criticamente no interior da realidade. O Brasil está pronto para ser enforcado. Perdeu o medo da morte ao conhecer antes a aniquilação por não se dar conta do que seja encenação. A credulidade do eleitor é de adoecer o pecado.

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A maioria não recebe bem a crítica inconvencional à farsa na política. Sem paciência quer enquadrar antes de entender. Ou confunde com temperamento cético. É tão necessário perceber o falso moralista como ser capaz de identificar valores progressistas no moralismo clássico e no conservadorismo prudente. E ver a crítica perturbadora como um ramo da ética.

Todas as pessoas erram, mas há algumas cuja ruindade consecutiva é flagrante. As que ocupam função pública precisam ser tangidas com severidade. Você pode admirar ou não uma autoridade, porém tem obrigação de ficar sempre atento, pois o poder é um desafiante geral e permanente a que todos tem o direito de atacar para se proteger. A regra democrática é clara: não merece inveja ou ter aliado quem ocupa o poder e não aceita sofrer censura.

Concordo que não precisa ser censura com paixão, já que muitos não despertam sentimentos elevados. Autoridade transpira e projeta ansiedade, sempre um misto de esperança e medo. O crítico é um gladiador que enfrenta as feras soltas, pode até assustá-las um pouco, mas não tem o poder de matá-las. Quem as reduz às suas jaulas é o leitor, o eleitor.

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Político bom é uma habilidade adquirida, Deus sabe como. É sempre importante ficar atento à sua gestalt, a postura do seu corpo, se o usa para anular sua sensibilidade e transferir sua vontade para ele até suprimir a perturbação. Não aceite um candidato como se fosse uma dor assumida, um meio para superar um mal. Ele pode mudar de pele no poder e não o reconhecer na pele que o atraiu.

Nunca deixe de se dizer cidadão. Repare onde o candidato põe as mãos quando interpelado, a configuração ambiental em que se apresenta, a posição do olhar diante das comparações que usa. Preste atenção à sua acústica, em que tom usa sua habilidade para falar com você. Se usa metáfora para explicar, ou para humilhar. Se sabe escutar, se gosta de gritar. Se tem momentos de silêncio. Se ao ficar contrariado bate na mesa e sai sem pedir licença. Neste caso este coração conhecido esconde um forte desejo de maior distinção. Que é melhor não receber.

Nada disso tem nada a ver com suas convicções de eleitor, emoções, caráter. Admirar é apenas uma das muitas paixões da vida. Para ser prefeito ou vereador são necessárias outras, menos íntimas. A admiração pode ser adquirida por uma técnica para atrair a atenção de quem vota, dizer a você que alguém tem o direito de lhe agradar. É um filho não querendo mentir ao pai sobre o que não pode confessar. Se for somente isso não é trivial, pode bem cumprir o objetivo de atendê-lo.

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Não apoie automaticamente alguém por ser governista ou oposicionista. As pessoas têm que ser éticas, nem bobas nem espertas. Quem parece mau, pode ser inocente, quem se diz bom pode ser culpado. E há um detalhe complicado que surge da natureza da pessoa. Tem gente ruim que não é desagradável e gente boa insuportável. Parecem detalhes incompreensíveis, mas fundamentais na sutileza das escolhas.

É triste constatar que a constituição garante que todos podem ser candidatos, mas não devia. Nem todos sabem governar. É uma lástima desrespeitosa ao cidadão o fato de não existir uma escola de gestores, administradores públicos informados, como pré-requisito para ser presidente, governador e prefeito de capitais, megalópoles, cidades turísticas patrimônio da humanidade, cidades de fronteira.

Como seria respeitoso com os eleitores uma cesta de pretendentes previamente preparados pelos seus partidos em escolas de administração de excelência para se apresentarem como candidatos. Não é necessário ser confessadamente um entusiasta de eleição. Mas melhor se preparar e votar de forma um pouco mais crítica do que os amigos do candidato.

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Por fim, aos tolos de sucesso, um alerta que tem quase 200 anos: ninguém pode, por muito tempo, ter um rosto para si e outro para a multidão. Um dia os dois se confundem e o pior é o verdadeiro.

 

Paulo Delgado. É professor, sociólogo e consultor de empresas. Foi constituinte de 1988 e exerceu mandatos de deputado federal por Minas Gerais de 1986 a 2011. Articulista regular d’O Estado de São Paulo e assina a coluna de politica internacional dos Jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas. É colaborador do Capital Político. ⠀

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