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A política dos mais iguais (por André Gustavo Stumpf)

O projeto do governo Bolsonaro é similar ao de Chávez/Maduro na Venezuela

Por André Gustavo Stumpf
Atualizado em 30 jul 2020, 18h52 - Publicado em 11 jun 2020, 11h00

A publicidade oficial tem sido o calcanhar de Aquiles de todos os governos em tempos recentes no Brasil. Tudo começou, de maneira oficial, no governo do general Médici que teve na figura do coronel Otávio Costa o principal operador nesta área.

Ele criou, na estrutura da Presidência, a Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), com objetivo de melhorar a imagem do presidente da República e de seu governo. Nada tinha a ver com a Assessoria de Imprensa.

Médici, pouco chegado a diálogo, comandou com mão forte a repressão política. Gostava muito de futebol. Torcia pelo Grêmio e não raro sugeria que as emissoras de televisão transmitissem para Brasília jogos de seu time predileto. Isso virou tema da propaganda oficial com objetivo de criar a imagem de um homem do povo no poder.

Quando os jogadores, que venceram a Copa do Mundo no México, em 1970, retornaram ao Brasil, a primeira escala foi Brasília. O presidente Médici apareceu nas fotos conversando com os jogadores e batendo bola.

Essa operação publicitária oficial ocorreu dentro da AERP. Campanhas famosas, como a do Sujismundo, contra o cidadão que jogava lixo na rua. Ou da célebre frase: ‘Brasil ame-o ou deixe-o’, que produziu duas sacadas interessantes. ‘Mame-o ou deixe-o e “o último a sair apague a luz do aeroporto”. Como hoje, na década de setenta havia a guerra de narrativas. As grandes agências de publicidade se instalaram em Brasília.

As empresas estatais também entraram no jogo publicitário. Elas patrocinaram grandes projetos a pedido do governo. Isso ocorreu em todos os governos depois da Constituinte de 1988.

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O governo Lula foi além. Descobriu que por intermédio da publicidade era possível colocar recursos em outras gavetas. O mensalão foi abastecido por verbas de publicidade. Comprou votos no Congresso e apoios na política nacional.

Este processo, lateral ao seu objetivo inicial, foi se multiplicando até a fantástica reeleição de Dilma Rousseff. Foram bilhões de reais jogados naquele pleito para fazer com que a escolhida por Lula fosse eleita. O objetivo foi alcançado. Mas a custo elevadíssimo, ainda mais porque a operação lava-jato pegou quase todos. Os publicitários responsáveis pela campanha foram presos, confessaram em juízo e sofreram penas severas.

O governo Bolsonaro prometeu fazer uma administração limpa. Decidiu não anunciar em nenhum dos grandes veículos de comunicação do Brasil. Pretendeu atingir os principais veículos pela interrupção das verbas publicitárias. No entanto, torpedeou a classe dos publicitários. As principais agências, nacionais e estrangeiras, fecharam suas sucursais em Brasília. Os publicitários estão sofrendo porque o mercado se dissolveu.

O anúncio padrão do governo federal acabou. Mas se expandiu nas chamadas redes sociais, comandadas pelo filho do presidente, Carlos Bolsonaro. Ele, que não tem cargo na presidência da República, comanda, de fato, o sistema de comunicação da Presidência. Foi o personagem que manobrou atrás das cortinas para derrubar Gustavo Bebianno e o general Santos Cruz até assumir o controle, por intermédio do Fábio Wajngarten, da verba de R$ 150 milhões em 2019.

Agora o governo desviou R$ 84 milhões do Bolsa Família para a Secretaria de Comunicação. É natural que utilize na Presidência o mesmo método que usou na campanha eleitoral. Implacável, violento, incisivo contra adversários. Fake News em todos os níveis na perseguição dos opositores do presidente.

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O dinheiro que passava pelas agências de publicidade para jornais e emissoras de televisão foi deslocado para os sites favoráveis ao governo, de amigos ou correligionários. Em apenas 38 dias, no ano passado, foram contemplados 47 sites que tratam de política, de assuntos de alienígenas, pornográficos ou operados por cabos eleitorais.

O projeto do governo Bolsonaro é similar ao de Chávez/Maduro na Venezuela. Enfraquecer a grande imprensa e se comunicar com a população por intermédio das redes sociais. Não é por acaso que o presidente não tem secretário de imprensa. O general Rego Barros, o porta-voz, não mais organizou seus cafés da manhã. O presidente fala todos os dias na porta do Palácio da Alvorada. O conteúdo, minutos depois, aparece na internet. O gasto na área de comunicação é sempre misterioso, sigiloso e contempla alguns escolhidos.

Utilizar as redes sociais, no nível e na intensidade promovidos pelo governo federal é atividade de alto custo. Daí o sigilo. Nessa atividade existem os mais iguais entre os iguais.

 

André Gustavo Stumpf é jornalista https://capitalpolitico.com/

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