A disputa pelo segundo turno (por João Bosco Rabello)
Candidatura para enfrentar a polarização Lula x Bolsonaro
Parece haver uma movimentação maior ou, pelo menos mais visível, nas articulações em torno da chamada terceira via – expressão que não agrega-, a pretendida candidatura para enfrentar a polarização Lula x Bolsonaro, que prevalece forte para 2022.
Esse avanço coincide com as sucessivas pesquisas feitas desde a reabilitação política do ex-presidente, que o colocam no segundo turno, assim como o atual ocupante do cargo.
Uma conclusão extraída das pesquisas entre os articuladores de um nome alternativo é o de que parece mais fácil tirar Bolsonaro do segundo turno do que Lula. Até porque ambos se empenham desde já em mostrar-se como o centro.
Os levantamentos indicam claramente que parcela importante do eleitorado não aceita as duas hipóteses de candidatos à presidência, Bolsonaro e Lula, foco atual, e que gostariam de abraçar uma outra alternativa. E no Congresso Nacional o quadro é o mesmo.
Além do desgaste progressivo do presidente da República, por força do cargo e de erros cometidos no enfrentamento da pandemia e da gestão ambiental, as medidas assistenciais atrasadas pela discussão do orçamento e a economia em baixa convergem para agravar a sangria de seu capital eleitoral.
A aliança de proteção selada com o centrão não parece suficiente para blindá-lo da ação parlamentar oposicionista, como ficou claro na instalação da CPI da Covid, uma trincheira que não pode ser subestimada.
No caso de Lula, sua reabilitação política é sinônimo de absolvição apenas para seus seguidores, não se estendendo a toda a população. Portanto, o enredo que o levou à prisão, independentemente do mérito rediscutido no Supremo Tribunal Federal, servirá de farta munição contra ele na campanha.
Assim como Bolsonaro, o PT tem um eleitorado fiel em torno dos 30%, elegendo-se quando consegue atrair uma fatia do eleitorado maior, buscando em outros quintais o apoio para vencer no segundo turno. O retorno de Lula devolve o líder carismático fortalecido pelo insucesso do governo, mas com alto índice de rejeição.
Se fora do segundo turno, os 30% fiéis a Bolsonaro jamais migrarão para o PT, o que abre espaço à derrota do petista para uma candidatura de centro. Melhor, pois, raciocinar com o presidente derrotado no primeiro turno, o que passa a ser a tarefa desse candidato.
Importante lembrar que pesquisas recentes simularam uma disputa de segundo turno entre Luciano Huck contra Bolsonaro com a vitória do primeiro por uma margem de seis pontos.
Huck já tem uma visibilidade nacional que o coloca em vantagem contra a maioria dos nomes especulados como alternativas, o que o faz preferido de muitos políticos.
Há ainda Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, mas a visibilidade preparo maiores fortalecem o senador Tasso Jereissati, lançado há dias pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo.
O governador de São Paulo, João Dória está mais fragilizado desde a pesquisa que o colocou com 4% em seu Estado, São Paulo, onde Bolsonaro e Lula registraram os maiores índices.
Em paralelo, existe uma tensão que pode se voltar contra o apoio a Bolsonaro no Congresso. Trata-se do nível de apreensão de deputados federais de partidos pequenos, com menos de 12 cadeiras, para os quais o fim da coligação tornou a reeleição uma dificuldade de difícil superação, que em uma análise de especialistas limita a possibilidade de êxito em apenas 20%.
Há muito chão pela frente, mas já não se verifica a inércia que parecia dominar o cenário político relativo a 2022. A começar pelo presidente da República que corre atrás do tempo perdido em um debate ideológico com o qual pretendia ampliar sua musculatura eleitoral enquanto as reformas tramitavam pelo Congresso.
Pois nenhuma uma coisa e nem outra. A pandemia inviabilizou reformas, impôs uma receita assistencialista antagônica à doutrina liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente se perdeu no discurso de negação que hoje responde, em parte, pelo atraso da vacinação no país.
Bolsonaro liberou o ministro da Saúde, o médico Marcelo Queiroga, para fazer o discurso contrário ao seu. Mas mantém-se bélico e isolado no ataque à receita mundial contra a Covid 19, o que o faz um militante de si mesmo e não facilita a meta da reeleição.
João Bosco Rabello escreve no Capital Político. Ele é jornalista há 40 anos, iniciou sua carreira no extinto Diário de Notícias (RJ), em 1974. Em 1977, transferiu-se para Brasília. Entre 1984 e 1988, foi repórter e coordenador de Política de O Globo, e, em 1989, repórter especial do Jornal do Brasil. Participou de coberturas históricas, como a eleição e morte de Tancredo Neves e a Assembleia Nacional Constituinte. De 1990 a 2013 dirigiu a sucursal de O Estado de S. Paulo, em Brasília. Recentemente, foi assessor especial de comunicação nos ministérios da Defesa e da Segurança Pública