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A benevolência do establishment com Bolsonaro (por Helena Chagas)

Finge que não vê

Por Helena Chagas
Atualizado em 18 nov 2020, 19h55 - Publicado em 8 out 2020, 11h00

O que mais impressiona, na era Bolsonaro, não é exatamente o fato de o presidente da República escancarar comportamentos que, em outros governantes, teriam motivados saraivadas de críticas e reações. O que surpreende, acima de tudo, é o processo de naturalização que parece envolver esses atos, aceitos cordatamente por políticos, instituições e setores da sociedade.

Tome-se como exemplo o Supremo Tribunal Federal, nossa Corte maior. Dez de seus integrantes estão se despedindo esta semana, às lágrimas, de seu decano. Ao mesmo tempo, assistem sem reação aos trâmites da nomeação de um substituto que “toma tubaína” com Jair Bolsonaro e foi escolhido com a ajuda do filho Flávio Bolsonaro, alvo de processos no STF, e do enroladíssimo advogado Fred Wasseff. Não houve, por parte de ministros do Supremo, reparos ao fato de Bolsonaro, em clara falta de educação, nomear o novo titular antes da aposentadoria do antecessor Celso de Mello, num procedimento inédito.

Ao contrário, dois deles, Dias Tofolli e Gilmar Mendes – que verteu lágrimas na última sessão do decano na Segunda Turma – foram brindados com visita do presidente com o indicado, Kassio Nunes, a tiracolo e com ele confraternizaram. Não lembraram nem de dar um protocolar telefonema ao presidente da Corte, Luiz Fux, que ficou sabendo pela imprensa no dia seguinte – do convescote e da indicação.

No Senado, apesar da oposição de alguns, há poucas dúvidas de que o novo ministro do STF será aprovado com celeridade e até aplausos. Mesmo depois do mal-entendido em que cursos de extensão feitos no exterior foram confundidos com pós-doutorados em seu currículo, exposto no site do TRF-1. Afinal, quem liga para currículo hoje em dia? Tomar tubaína com o presidente, ou ser terrivelmente evangélico, de preferência pastor – quesito anunciado por Bolsonaro para a próxima escolha – pesa muito mais.

Tudo indica que o Supremo — que já se deu por muito satisfeito porque Kassio Nunes, afinal, é um jurista e as outras opções cogitadas eram muito piores — vai esperar caladinho a nomeação de seu pastor no ano que vem. E que a maioria do Senado também irá engoli-lo, assim como está, aliás, engolindo a reeleição de seu presidente, o aliado do Planalto Davi Alcolumbre, apesar de ser expressamente proibida no texto constitucional. Mas que importância terá a Constituição a essa altura?

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Caladinhos também estão representantes do mercado e do empresariado que ouvem auxiliares do presidente dizerem com naturalidade que ele não vai anunciar o programa Renda Cidadã antes do fim de novembro porque acha que as medidas fiscais impopulares que tem que tomar para financiá-lo podem dificultar seus planos de “varrer o PT” nas eleições. Depois do pleito, ele anunciará, seja lá o que for: tunga na classe média com o fim das deduções do IR, limitação do abono salarial, congelamento de aposentadorias …

Deixar de tomar decisões de governo, e adiar seu anúncio para depois da eleição tem um nome: estelionato eleitoral, comportamento muito condenado. Fernando Henrique, por exemplo, jamais se recuperou da desvalorização cambial que esperou para fazer em janeiro de 1999, depois de reeleito, em vez de intervir na hora certa, antes da eleição. Dilma Rousseff perdeu apoio das bases petistas quando, reeleita, nomeou Joaquim Levy para fazer uma política econômica diversa da que levou aos palanques da reeleição. Paga-se um preço.

Será que, com o presidente que vem conseguindo banalizar tantos comportamentos incorretos e inadequados sob as vistas benevolentes do establishment, vai ser assim? Pensando bem, o governo Bolsonaro está operando tantas mudanças no estado de espírito das instituições, dos políticos e das elites que é bem capaz de todo mundo continuar caladinho.

Helena Chagas é jornalista

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