Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Noblat Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

A angústia da existência

Psicanálise da Vida Cotidiana

Por Carlos Vieira
Atualizado em 30 jul 2020, 19h53 - Publicado em 20 mar 2019, 14h00

“Julgo-me bêbado, sinto-me confuso/

Cambaleio nas minhas sensações,/

Sinto uma súbita falta de corrimãos/

No pleno dia da cidade”.

Continua após a publicidade

Fernando Pessoa no poema “Quem tem alma não tem calma”.

  

Fernando Pessoa, a pessoa do desassossego é atualíssimo. Nos versos citados, três palavras são contundentes nos dias de hoje: “confuso”, “cambaleio” e “falta de corrimãos”. A metáfora do estado de mente da modernidade é clara, límpida e certeira.

Continua após a publicidade

Vivemos uma época de “labirintite existencial”, onde as pessoas perderam seus suportes, suas bases familiares, a proteção das políticas públicas, o terror das mortes, a falta de esperança na humanidade dos homens de poder, a fome, a expulsão de seus países, a homofobia desvairada, a violência tanto às mulheres quanto aos homens. Somos anjos caídos perseguidos pelos diabos humanos, somos pessoas desprotegidas, cambaleantes, sem “corrimãos” onde se apegar e sem ser acolhidas. Daí as famosas e hoje corriqueiras, as Síndromes de Pânico! Em “pleno dia” mata-se mais do que se vive, a cidade é um mar imenso sem proteção. A vida ficou a expressão de um constante Réquiem onde os viventes perdem sua existência de maneira brutal, primitiva, bárbara e sem direito de sobrevivência.

Que bom se estivesse escrevendo sobre o amor, a confraternização universal dos direitos humanos, sobre o respeito que os governantes poderiam ter pelos seus eleitores, sobre a assistência médica que impedisse a parturiente não perder o filho e às vezes morrer na entrada do hospital. Que alegria estaria em nossas almas se o respeito pelas pessoas menos favorecidas pudesse transformar as políticas governamentais. Se os jovens não tivessem pânico em amar, pois escolheram uma redoma onde aprisionaram seus afetos com medo de sofrer o desamparado, a solidão ou mesmo o desamor.

A “náusea sartriana” volta a entrar no cenário da existência pós-moderna! A angústia de Fernando Pessoa é clássica, o que faz do poeta uma pessoa sempre falando das nossas aflições e turbulências. O cambalear do seu verso atenta para a frequente insegurança sobre a vida em si mesma, mas aponta também para os sentimentos de vacuidade, de ausência de consistência psíquica para lidar com nossos conflitos interiores.

Continua após a publicidade

É preciso lembrar que essa ausência de consistência psíquica não vem somente da falta dos nossos pais, mas também da recusa de nós próprios para sobreviver ao nosso nascimento nadando com as próprias pernas. É hora de ter coragem, como lembra a filosofia de Nietzsche – ter “vontade de poder”, poder ser si mesmo, procurar um estilo próprio ainda que dentro das adversidades, quem sabe, ser o corrimão de si.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.