À semelhança do ensinamento jurídico, que antes se aprendia nas primeiras aulas das faculdades de Direito, segundo o qual “a Lei não socorre os que dormem”, também a política não costuma ser benévola com indolentes e indecisos, de quaisquer espécies ou de quaisquer partidos (ou sem). Às vezes a sorte costuma dar uma mãozinha, mas é bom não confiar que o cavalo passará selado duas vezes no mesmo lugar, para candidato tardio e desatento montar na hora que achar melhor. O recomendável para quem tem ambições ou projetos, com vistas às presidenciais de 2022 – que se aproximam à galope – é seguir o mandamento de Ulysses Guimarães , valoroso parlamentar, timoneiro da resistência, que dizia em uma de suas 100 melhores frases, selecionadas por dona Mora para o livro “Rompendo o Cerco”: “Oportunidade é servir ao tempo. Oportunismo é servir – se do tempo. A definição de Geraldo Vandré é genial: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Grande Ulysses! Na mosca! Isso vale para qualquer um, mas agora deve ser motivo de reflexão para a turma do centro, ou da terceira via: João Dória Jr., Luciano Huck, o jovem governador gaúcho, Eduardo Leite ou Sérgio Moro.
Mas por que tamanho alvoroço agora? Perguntarão os “fanáticos da objetividade factual do jornalismo”, no dizer de outro sábio pensador brasileiro, Nelson Rodrigues. Os primeiros movimentos para 2022 já estão em andamento célere, – apesar da negação de uns e de outros, – principalmente à “direita” e à “esquerda”. No primeiro caso está o atual dono do poder e seus seguidores, os bolsonaristas, que desde a posse do capitão presidente não pensam em nada mais, além de reeleição e, para isso, “empenham o canavial da sogra”, sem importar em quanto isso significa em sacrifício de vidas humanas, ou perdas econômicas para o País. Na ponta esquerda o lulo-petismo asfalta o caminho da volta, sem autocrítica dos males e crimes já praticados, e agora somando argumentos hipócritas, mas estratégicos, do tipo: “Neste tempo pavoroso da pandemia Covid-19, que caminha para mais de 245 mil vidas ceifadas no Brasil, é hora de pensar em tudo, menos em eleições”. Pois sim!
Aos fatos, Sua Excelência, o Fato: Corre na praça nacional, desde o dia 6, a mais recente pesquisa de opinião da XP-Ipespe, na qual, pela primeira vez, o ex-presidente Lula – condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, mas recolocado na disputa presidencial de 2022, por decisão monocrática do ministro Luiz Fachim – aparece à frente de Bolsonaro. No anterior levantamento da XP, o petista tinha 25% das intenções de votos e Bolsonaro, 27%. Na pesquisa divulgada esta semana, o ex-presidente tem 29% e o atual ocupante do Palácio do Planalto apa rece com 28%. Vantagem (apesar do empate técnico) que se mantem no segundo turno: Lula 42% e Bolsonaro 38%. Tudo do jeito que o diabo gosta, para a repetida consolidação do velho e surrado confronto “de ex tremos”.
Enquanto isso a turma do centro cochila. A chamada Terceira Via perde tempo em tertúlias para elaboração de manifestos e gasta horas em discussão de vírgulas do texto. Pior, desgastam-se em longos exercícios de “masturbação intelectual em disputas de egos inchados”, como dizia o direto e verdadeiro ex-governador Mário Covas, ao repreender seus companheiros do PSDB, “tucanos”, vacilantes e em cima do muro desde o tempo do governo FHC, quando nem se sonhava com corona vírus. Até quando? Responda quem souber.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br