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Por Vilma Gryzinski
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Uma ferida aberta: o atentado que agora atinge Cristina Kirchner

Carro-bomba que matou 85 em associação judaica há 23 anos virou um labirinto de investigações e falsas saídas. Será que agora pode ser elucidado?

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 20h39 - Publicado em 8 dez 2017, 08h55

Pistas falsas, investigações de fachada, policiais bandidos, juízes mendazes, inquéritos que se arrastam há décadas, políticos comprados e um escandaloso suicídio-assassinato são alguns dos componentes do poço sem fundo aberto no dia 18 de julho de 1994, quando uma van branca explodiu sua carga de 275 quilos de nitrato de amônio e TNT em frente à AMIA, uma associação benemerente judaica no centro de Buenos Aires.

O arco dos envolvidos no atentado ou em seu acobertamento se estende de Buenos Aires ao Líbano do Hezbollah e o  Irã, passando pela Tríplice Fronteira e pela Venezuela chavista. O horror da explosão que derrubou o prédio inteiro da Rua Pasteur acabou obscurecendo o atentado que a precedeu em dois anos, contra a embaixada de Israel, com 29 mortos.

A matriz foi a mesma e o motivo era retaliar, através de alvos judeus, a suspensão dos contratos de construção de uma usina de purificação de urânio e de fornecimento de materiais para o programa nuclear iraniano.  Carlos Menem, o presidente à época, tinha agido a pedido de George Bush pai.

Menem foi um dos governantes com atitudes ambíguas, possivelmente criminosas. Chamou o FBI e o Mossad para investigar o atentado contra a AMIA. Ao mesmo tempo, também está sendo processado por tentativa de sabotar o inquérito.

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Nestor Kirchner disse que era uma vergonha para a Argentina não fechar o caso. Agora, um juiz pediu a prisão preventiva de sua mulher e substituta por nada menos que traição à pátria.

Outros elementos ligados ao governo de Cristina Kirchner, protegida pela imunidade que o mandato de senadora lhe dá e a maioria peronista no Congresso garante, foram presos.  Luís D’Elia, um brutal e sagaz líder sindical, entrou na cadeia gritando “Abaixo a ditadura macrista”.

Seria ridículo, mas faz parte de uma tática perfeitamente conhecida pelos brasileiros. Cristina Kirchner a repetiu em termos igualmente dramáticos, acusando o presidente Mauricio Macri de ser “o principal responsável pela organização política e judicial para perseguir a oposição”.

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Por mais absurdo que pareça, D’Elia e outras figuras bizarras do círculo kirchnerista tiveram um papel na “diplomacia informal”, ou criminosa, segundo o juiz Claudio Bonadio, que levou o governo de Cristina a fazer um acordo com o Irã para beneficiar os envolvidos iranianos no atentado.

Muitas das acusações que embasam as 365 páginas das ordens de prisão preventiva assinadas por Bondado já eram conhecidas desde que o corpo do procurador Alberto Nisman foi encontrado com um tiro na cabeça no banheiro de seu apartamento em 18 de janeiro de 2015.

As interpretações telefônicas pedidas por Nisman mostram D’Elia falando com seus contatos iranianos até dentro da Casa Rosada. “Tenho uma mensagem urgente do governo argentino para passar para lá antes de amanhã”, dizia ele num dos telefonemas.

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O acordo com o Irã em sua parte pública, que nunca saiu do papel, era um pacote comercial de dez bilhões de dólares que, cinicamente, criava uma comissão da verdade para investigar o atentado da AMIA.

Na verdade, o objetivo era o oposto. O juiz Bonadio escreveu que os acusados, incluindo a ex-presidente, “negociaram, participaram, acordaram com e coadjuvaram para conseguir os objetivos de uma potência estrangeira – o Irã – que ficou demostrado judicialmente que ordenou/organizou/financiou/instigou dois atos de guerra no território nacional contra cidadãos argentinos desarmados e inocentes”.

Para se ter uma ideia das complexidades envolvidas, existem duas organizações de parentes de vítimas do atentado. Uma era simpática a Cristina Kirchner e suas promessas de elucidar tudo.

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Hector Timerman, o ministro das Relações Exteriores de Cristina, em prisão domiciliar por motivo de saúde, foi à Etiópia assinar o acordo com o Irã. Ele é filho de Jacobo Timerman, o dono de jornal supliciado durante a ditadura militar por torturadores que gritavam “judeu, judeu”.

O atentado, e as escandalosas pistas falsas que o obscureceram, têm aspectos ainda misteriosos. A identidade do terrorista suicida, Ibrahim Hussein Berro, ainda é contestada.

Em 2014, Yitzhak Aviran, ex-embaixador israelense na Argentina, fez uma declaração excepcionalmente franca: “A maioria dos responsáveis não está mais neste mundo e fomos nós que fizemos isso”.

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O nome mais conhecido que não está mais neste mundo é Imad Mugnieh, um dos fundadores do Hezbollah. Ele chegou a ser indiciado na Argentina, sem maiores consequências. Em 12 de fevereiro de 2008, ao sair de uma recepção oferecida pelo embaixador do Irã em Damasco, um dos pneus de seu Pajero explodiu. Foi o único morto.

Como uma bomba nesses casos cai duas vezes no mesmo lugar, o filho dele, Jihad Mugnieh, foi morto em 2015 por um helicóptero israelense. Estava na Síria, onde o Hezbollah combate a favor do regime.

A decisão do juiz Bondado foi crivada de críticas, como era previsível. Muitos argentinos acreditam que Cristina está sendo perseguida. Outros, que a ferida aberta há 23 anos ainda está longe de cicatrizar.

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