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Terrorista ganhou na loteria que brasileiros nem podem disputar

O homem que matou oito pessoas atropeladas em Nova York, em nome do Estado Islâmico, conseguiu visto de residência num programa de sorteio

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 2 nov 2017, 11h59 - Publicado em 2 nov 2017, 11h37

Qual estado o barbudo Sayfullo Saipov deveria venerar, exaltar ou, pelo menos, respeitar? Na cabeça dele, não os Estados Unidos, o país para o qual se mudou depois de conseguir ser sorteado no programa de loteria de vistos promovido pelo Departamento de Estado.

Saipov, que é de um dos chamados países “istão” – o Uzbesquistão -, venera tanto o Estado Islâmico que pediu que seja colocada a bandeira negra dos jihadistas no quarto de hospital onde se recupera de um tiro no abdômen.

O caso do fanático que pegou um caminhão e saiu matando gente numa ciclovia da parte sul de Manhattan pôs em evidência o Programa de Loteria de Vistos para a Diversidade da Imigração.

O nome praticamente define tudo, mas a própria existência desse programa já causa curiosidade. Tanto naqueles que sonham imigrar para os Estados Unidos quanto nos que acham difícil entender o motivo desse tipo de distribuição de benesses.

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O programa foi criado por uma lei datada de 1990 e seu objetivo e incentivar a ida para os Estados Unidos de pessoas originárias de países que têm pouca representatividade entre os mais de 43 milhões de estrangeiros – isso mesmo, 43 milhões, um número extraordinário – que vivem no país, regularmente ou não.

É este princípio da diversificação que veta aos brasileiros se inscrever na loteria que escolhe cerca de 50 mil contemplados por ano.

Pelos critérios do programa, já existem brasileiros demais nos Estados Unidos. Outros países latino-americanos que estão fora: México, Guatemala, El Salvador, Equador, República Dominicana, Colômbia e Peru.

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E não são só os países mais pobres que ficam na geladeira. Na Europa, eventuais candidatos britânicos ficam na geladeira. Poloneses, às vezes entram, às vezes não. A lista asiática é longa: Bangladesh, China, Índia, Paquistão, Coréia do Sul, Filipinas e Vietnã.

Depois de sorteados, os contemplados evidentemente passam por outros filtros. No caso de Saipov, não foi detectado nada negativo. Supostamente, era um bom e amável candidato a cidadão americano.

Foi só quando ele chegou aos Estados Unidos que começou a se interessar pelo extremismo islâmico. Tinha milhares de vídeos do Estado Islâmico e seguiu ao pé da letra as instruções do “jihadismo veicular”: uma forma de terrorismo que consiste em atropelar pedestres em áreas movimentadas.

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Outros casos recentes usaram exatamente o mesmo método. Só este ano, foram oito casos em países europeus. Um dos mais terríveis aconteceu em  Barcelona, onde um  imigrante marroquino de 22 anos esmigalhou 13 pessoas, fora os feridos. Ele e seu grupo planejavam atentados muito maiores, evitados com um erro na manipulação de bujões de gás.

Em Berlim, pouco antes do Natal do ano passado, um refugiado tunisiano matou onze pessoas numa feirinha natalina. O mais mortífero atentado desse tipo foi o de Nice, em 14 de julho, a data nacional, do ano passado. O tunisiano Mohammed Lahoualej-Bouhiel conseguiu massacrar 86 pessoas que passeavam na rua da praia para ver os fogos de artifício.

Mesmo antes do atentado por atropelamento em Nova York, Donald Trump já propunha extinguir a loteria da diversidade que beneficiou Saipov e “potencialmente mais 23 pessoas” – isso porque um imigrante legal pode trazer membros da família.

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“Loteria da diversidade. Parece bonito. Mas não é”, disse Trump. “Somos tão politicamente corretos que temos medo de fazer tudo.”

Eliminar esse programa é apenas uma proposta. Não tem nada a ver com a proibição temporária de entrada nos Estados Unidos de cidadãos provenientes de oito países, a maioria por patrocinarem terrorismo  ou serem “fábricas” de jihadistas, como Líbia, Somália e Síria. Segundo uma pesquisa feita em julho, 57% dos americanos apoiam esse tipo de proibição.

De forma geral, Trump propõe uma mudança ampla no sistema de vistos de residência, com o critério do mérito como fator principal, a eliminação da loteria e da “imigração em cadeia”, que permite a único contemplado trazer não apenas cônjuge e filhos, mas praticamente o resto da família ampliada inteira.

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Nenhum outro país do mundo recebe tantos imigrantes e refugiados como os Estados Unidos, com as vantagens e desvantagens que trazem. Se o critério fosse mérito, os indianos praticamente dominariam o mercado.

Por fatores culturais e sociais, incluindo famílias exigentes com os estudos, 67% dos imigrantes indianos têm grau universitário. Um exemplo desse sucesso é a atual embaixadora na ONU, Nikki Haley, filha de imigrantes indianos.

Pelo critério aleatório da loteria da diversidade, a atriz Mila Kunis é a maior porta-bandeira. Foi para os Estados Unidos aos sete anos, depois que os pais, judeus ucranianos ainda na época do domínio soviético, foram sorteados.

Políticas sobre imigração são incrivelmente complexas num país como os Estados Unidos, o maior polo de atração do planeta. Quantos milhões, inclusive brasileiros, não sonham em ir para lá, começar trabalhando como motorista do Uber e progredir na terra das oportunidades?

Sayfullo Saipov fez exatamente isso. Mas, para ele, progredir significava matar inocentes em nome do extremismo islâmico. Na maioria, nem americanos eram: os cinco amigos argentinos que comemoravam os trinta anos de formatura no segundo grau foram o maior grupo de vítimas.

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