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Sangue nos olhos: Biden é velho demais para ser presidente?

Hemorragia ocular ao vivo prejudica a imagem do candidato democrata, que sobe em pesquisas, mas mostra sinais de idade avançada

Por Vilma Gryzinski 5 set 2019, 10h24

Explode um vasinho no olho e o destino de quem vai ser presidente dos Estados Unidos pode ter sido decidido.

Joe Biden, enfrentando aos 76 anos as durezas de uma campanha num país maior do que o Brasil e com muito mais cidades “obrigatórias”, ainda teve a pouca sorte de que o vasinho se manifestou durante um programa de televisão ao vivo.

A pequena hemorragia pode ter sido apenas isso, um vaso rompido num momento inconveniente, ou um problema neurológico maior, a ser “investigado”, como se diz no jargão médico.

Do ponto de vista político, não é nada bom.

Biden continua em primeiro lugar nas pesquisas para as primárias doPartido Democrata, exceto por uma localizada que colocou Elizabeth Warren à sua frente.

Em confronto com Donald Trump, ganharia disparado, com 12 pontos de diferença. Aliás, todo os candidatos democratas do pelotão da frente ganhariam, incluindo Pete Buttigieg, o prefeito de lugar nenhum que faz campanha com base em ser jovem, comparativamente moderado e gay.

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É por isso que pesquisas são vistas com grande ceticismo, principalmente depois da lapada que foi a eleição de Trump em 2016.

Uma característica da campanha atual é que todos os principais candidatos têm acima de 70 anos – exatamente a idade a partir da qual quase 40% dos americanos acham que uma pessoa já está velha demais para ser presidente.

É claro que, conforme a idade do eleitor, a faixa etária aumenta ou diminui. No total, a maioria dos americanos cravou a idade ideal em 45 anos.

John Kennedy, o presidente mais jovem, tinha 43 anos quando foi eleito – e uma montanha de problemas de saúde que só foram conhecidos em toda sua extensão depois do assassinato, em 1963. Barack Obama, 47.

Foi uma exceção: Bill Clinton. George Bush e Donald Trump nasceram em 1946, o que fez de Clinton um presidente muito jovem, 46 anos, e Trump, muito idoso.

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No caso de uma reeleição que chegasse a termo, estaria com 78 anos.

BOLADA NA CARA

Mas Joe Biden deveria investigar o que o atual presidente anda tomando, fora Coca Zero.

Trump parece possuído por uma energia inesgotável, embora “trabalhe” menos que outros presidentes. Ou seja, dá expediente menor no Salão Oval e outros locais de reunião, uma atividade com a qual tem conhecida impaciência.

Quando tuíta (em geral assistindo televisão na cama, de manhã), vai a comícios, participa de conferências internacionais ou dá coletivas em que todos os jornalistas estão lá para destruí-lo, passa a impressão de dinamismo, mesmo para quem o odeia.

Também usa tinta no cabelo, bronzeamento artificial e maquiagem.

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Biden em compensação dá um fora atrás do outro, já chamou Theresa May de Margaret Thatcher duas vezes, confunde-se com o que estava falando e esqueceu até o nome de Obama, de quem foi vice durante oito anos.

Talvez existam assessores que sintam falta até das atitudes inconvenientes que tinha com mulheres, com o repulsivo hábito de abraçar por trás as mais interessantes, inclusive meninas, e dar uma cheirada no cabelo.

Pelo menos passava a mensagem não escrita de que o estoque de testosterona não estava esgotado.

Joe Biden estaria bem para qualquer homem de 76 anos, ainda mais um que tem como rival mais próximo um de 77, Bernie Sanders (foi fazer gracinha com uma bola de velocidade de boxe e, claro, levou uma bolada na cara).

A parte corporal está aparentemente inteira. Toma estatina e um remédio para próstata aumentada, nada excepcional.

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A luxuriante camada de facetas nos dentes, obrigatória para políticos americanos, passa uma ideia de vários anos a menos do que os cabelos brancos e ralos e a pele manchada dos muito brancos em terceira idade avançada.

O problema é a estamina. Por que quer ser presidente, perguntou um entrevistador?

“Acho que é realmente, realmente importante que Donald Trump não seja reeleito.”

É uma péssima tática responder com uma negativa em lugar de prometer o país maravilhoso, pujante e justo do blá-blá-blá habitual dos candidatos.

Acontece que Joe Biden teve que engavetar as propostas que lhe renderam uma carreira política eterna e confortável entre o eleitorado da classe operária da região da Pensilvânia, em geral católicos interessados em duas coisas: emprego (bom) para os trabalhadores, cadeia para os bandidos.

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Cercado de adversários democratas que estão quase à esquerda de Che Guevara, Biden teve que se adaptar aos novos tempos.

Bernie Sanders e Elizabeth Warren, por exemplo, favorecem um sistema único de saúde extensível a imigrantes clandestinos, mudanças na legislação penal para favorecer condenados atuais ou futuros, aperto fiscal e operacional para grandes empresas, ensino superior gratuito para todos, medidas ambientais extremas e outros quesitos da cartilha progressista.

Biden, que fez carreira como populista entre o eleitorado e sujeito confiável entre a elite do dinheiro, tem que se policiar o tempo todo para parecer o que não é. Algumas das engasgadas podem ser atribuídas a isso: o retorno do oprimido.

Embora prefira candidatos mais à esquerda, a grande imprensa trata Biden muito melhor do que se fosse um republicano.

CUNHADA AMADA

Quando John McCain disputou a presidência com Barack Obama, foi ridicularizado como velho e doente. Os dois melanomas sofridos, um deles no rosto, exigindo cirurgia que deixou cicatrizes evidentes, foram usados como sinal de incapacidade política.

O senador só virou herói depois que se tornou inimigo mortal de Trump, incluindo proibir o presidente de ir a seu enterro (em agosto do ano passado, de câncer no cérebro, com uma sobrevida muito maior do que a prevista na época da candidatura presidencial).

A política é assim. Imaginem o escândalo (Impeachment! Prisão! Fuzilamento!) que seria se algum dos filhos de Trump tivesse feito os negócios conhecidos de Hunter Biden, especialmente com a China e a Ucrânia, usando sem nenhum disfarce a influência do pai.

Sem contar a vida pessoal: depois da morte trágica do irmão, Beau, com câncer no cérebro, Hunter se aproximou e passou vários anos junto com a viúva e cunhada, Hallie.

O divórcio de Hunter Biden, obviamente nada amistoso, só saiu em 2017. Mas a relação à la Nélson Rodrigues com Hallie não prosperou. Em maio, ele se casou com uma jovem beldade sul-africana. No mesmo mês, foi dada a entrada a um pedido de reconhecimento de paternidade de um bebê de 10 meses. A mãe, de 28 anos, é de Arkansas.

Na política do passado, os candidatos democratas iam mais para a esquerda durante as primárias e os republicanos, à direita. Feitas as escolhas, encontravam-se no centro, discutindo as diferenças pequenas sobre um tema eterno: mais ou menos governo como forma de ajudar o país e sua população a serem mais prósperos.

Hoje, obviamente, o mundo é outro. Um socialista como Bernie Sanders, não à moda europeia de centro-esquerda, mas linha dura mesmo, fez o maior sucesso na última disputa e continua em segundo lugar.

Se não fosse sóbria, preparada e experiente professora de direito, Elizabeth Warren poderia estar na Venezuela. Do lado dos chavistas.

Todos acham que estão lutando pela democracia, como se Trump, um presidente de mãos amarradas pelo Congresso, como todos os outros, representasse uma ameaça de tirania.

A maioria dos eleitores democrata continua agarrada em Joe Biden. Acham que, diante das maluquices esquerdistas dos outros, só ele tem chance de derrotar Trump.

Ignoram os foras, os “momentos terceira idade” e reportagens como a do Washington Post
mostrando que Biden simplesmente se enganou ou inventou todos os detalhes da história de um militar condecorado por ele no Afeganistão: data, identidade e patente do homenageado, circunstâncias do ato heróico, localização, tipo de medalha e até o próprio cargo quando visitou o país (ainda era senador, não vice-presidente).

Não é um vasinho no olho que vai abalar o fator elegibilidade de Joe Biden. Mas, se não for atentado, sangramento ao vivo na televisão conta como um elemento de fragilidade a mais.

E Joe Biden não vai ficar mais novo ou mais fluente até a campanha.

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