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Revolta das mulheres: assassinato em Londres provoca raiva e protestos

Uma jovem mulher morta por um policial já seria um roteiro de filme; mas as reações ao crime tornam o caso mais interessante ainda

Por Vilma Gryzinski 15 mar 2021, 07h35

No último dia 28 de fevereiro, Wayne Couzens mostrou os genitais duas vezes num McDonald’s de Londres.

Mesmo assim, o policial calvo de barba ruiva continuou a trabalhar – armado, uma exceção no Reino Unido – no serviço de proteção a autoridades.

Três dias depois, em 3 de março, segundo os indícios que levaram à sua prisão, ele assassinou Sarah Everard, executiva de marketing de 33 anos, que voltava para casa depois de visitar uma amiga, uma caminhada de 50 minutos.

Wayne Couzens não deve ser nenhum gênio do crime. Foi preso no dia 9, com base em indícios que a polícia por enquanto não revela, mas muito provavelmente envolvem as onipresentes câmeras de segurança.

O corpo foi de Sarah achado no dia 10 em Clapham Common, um parque da região sul de Londres, num saco de material de demolição.

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É aí que o caso começa a deixar de ser apenas uma trágica e hipnotizante história de crime e passa a envolver elementos sociais mais complexos.

A comoção pública, que já estava no alto, aumentou e grupos feministas marcaram uma vigília em memória da vítima em torno de um coreto no parque.

Só para dar uma ideia da repercussão: Kate, a mulher do príncipe William, foi até o parque, num compromisso fora da agenda, para levar um buquê de flores em homenagem à vítima. No Reino Unido, isso é considerado um ato excepcional

Ela também disse, através de assessores, que se lembrava da sensação de perigo de andar à noite em Londres antes de se casar, virar a duquesa de Cambridge e ter proteção 24 horas – desejavelmente, de agentes muito bem selecionados, nada parecido com Wayne Couzens, que fazia segurança em torno de embaixadas.

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As organizações que promoviam a vigília recuaram depois de avisadas que a proibição de aglomerações continua a valer e teriam que arcar com multas de até 10 mil libras por pessoa. Não adiantou nada que apontassem a diferença de tratamento com os protestos ligados ao Black Lives Matter, que colocaram várias dezenas de milhares de pessoas nas ruas de Londres e outras cidades, em junho passado.

Mesmo com a proibição, centenas de mulheres foram à vigília e aí aconteceu um atropelo absurdo, considerando-se a reputação da polícia britânica e o forte clima de consternação social pela morte de Sarah.

Várias jovens que participavam da vigília foram fisicamente dominadas e algemadas durante a vigília proibida, criando exatamente o tipo de imagem que a polícia não gosta de ver na imprensa.

Tanto à esquerda, que tem a prefeitura de Londres, quanto à direita, houve reações altamente negativas e até apelo pela renúncia de Cressida Dick, a chefe da polícia metropolitana.

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Cressida Dick era a comandante da unidade antiterrorista que, em 2005, na esteira da série de atentados em Londres, cometeu um erro trágico, confundindo com um terrorista o eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes, autorizando os policiais que o seguiam a atirar para matar.

Ela foi nomeada em 2017 para comandar a Scotland Yard e, em geral, segue todos os mandamentos politicamente corretos.

Mas é difícil competir com feministas como Jenny Jones, integrante do Partido Verde que é da Câmara dos Lordes e tem o título de baronesa. Embalada pela morte de Sarah, ela propôs que todos, absolutamente todos os homens sejam submetidos a um toque de recolher a partir das 18 horas, para garantir a segurança das mulheres que querem sair à noite.

Por mais que a maluquice soe absurda, tem sido discutida em como uma hipótese, se não viável, mas como parte do debate.

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O assassinato de uma mulher num crime aparentemente sexual é relativamente raro na Inglaterra. Entre março de 2019 e o mesmo mês de 2020, foram assassinadas 241 mulheres nos três países contíguos que formam a Grã-Bretanha: Inglaterra, Escócia e País de Gales.

Como em todo o mundo, inclusive o Brasil, o maior risco está no ambiente próximo: parceiros ou ex-parceiros (32%), conhecidos (9%) e parentes (14%), formam o grosso dos assassinos. Apenas 13% dos crimes foram cometidos por estranhos.

Para comparar: no primeiro semestre de 2020, foram 648 feminicídios no Brasil.

“Ela estava só indo a pé para casa”, é um dos cartazes mais comuns nos protestos pelo assassinato de Sarah Everard.

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Nunca houve manifestações espontâneas tão fortes por um crime desse tipo. E é difícil encontrar uma reação adequada a eles. O que a polícia pode fazer: garantir que não haverá mais assassinatos assim?

Obviamente, não.

Mas o que não pode fazer é tornar a situação mais complicada ainda e arrastar pelo chão mulheres que protestam pacificamente contra um crime.

Cressida Dick foi eximida de responsabilidade pela morte de Jean Charles em 2007. Em 2019, recebeu a honraria de Dama do Império Britânico, concedida pela rainha.

Agora, a dama está encrencada.

Por causa da equivocada intervenção policial, os protestos ultrapassaram os limites do caso em si. As organizadoras estão convocando uma manifestação no Parlamento para a tarde de hoje.

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