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Primeiro, respiradores; agora, hospitalização: quem está fora

Cortar os mais velhos e comprometidos é como a Espanha está administrando a impossibilidade de dar o mesmo atendimento a todas as vítimas do vírus

Por Vilma Gryzinski 27 mar 2020, 08h05

Quem deve ser atendido quando os recursos são limitados: uma mulher de trinta anos, mãe e provedora de dois filhos, ou um homem de oitenta, com várias doenças pré-existentes e prognóstico desanimador?

A maioria das pessoas responderia que é a mãe jovem, mais necessária para a proteção das crianças, o princípio mais fundamental de todos os grupos sociais, e com maior possibilidade de recuperação.

Se trabalhar no sistema de saúde, é mais necessária ainda.

Mas se o homem idoso for seu pai?

E quem decide isso tudo?

A Espanha, já tendo passado de quatro mil mortes por coronavírus, numa curva que continua ascendente, está vivendo tragicamente estes dilemas. As respostas são coordenadas, existe um Comitê de Bioética para tratar deles, além dos organismos profissionais e locais.

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Mas são todas difíceis.

A aceleração da crise, com epicentro em Madri, cria novas situações.

Na Itália, a precursora da epidemia na Europa, a transferência de doentes para UTIs, onde recebem a ventilação mecânica que é o único recurso para “segurar” as pneumonias bilaterais provocadas pelo vírus, já vinha sendo baseada em critérios da medicina de emergência, como idade, comorbidades e autonomia em caso de recuperação.

A idade inicial era 80 e, quanto mais pacientes, mais foi caindo.

Agora, o jornal El País revelou um protocolo da região de Madri que acrescenta outro passo: até mesmo o acesso a hospitais passou a ser limitado para os idosos já com outros graves problemas de saúde.

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É por isso que as casas de repouso ou clínicas para idosos, transformadas em “casas dos mortos”, não conseguem transferir seus pacientes mesmo quando a infecção grassa descontroladamente. 

“Quando ligamos, a primeira pergunta que fazem é a idade”, disse ao jornal a funcionária de um desses asilos. Conclusão dela: quem tem acima de 75 anos já perde qualquer chance de hospitalização.

Em linhas gerais, o documento prevê que são descartados de tratamento hospitalar os idosos com demências avançadas, os totalmente dependentes e os com cânceres e outras doenças em estágio terminal.

O documento da Coordenação Sócio-Sanitária não menciona limites de idade, mas estabelece nove níveis de avaliação dos pacientes para os geriatras que fazem a ligação entre os asilos e os 22 hospitais de Madri.

Com sete pontos ou mais, são descartados. 

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O ponto número sete refere-se a “fragilidade grave”, com dependência total para os cuidados pessoais seja qual for o motivo (físico ou cognitivo) e perspectiva de mais de seis meses de vida.

Número oito: os com “fragilidade muito grave” que “se aproximam do fim da vida e é típico que nem se recuperem de doenças menores”.

No último grau estão os doentes terminais.

As cenas de abandono nos asilos, com doentes mortos largados entre os que ainda estavam vivos, não aconteceram, portanto, por acaso.

As questões éticas envolvidas estão sendo discutidas em plena crise e nem sempre há consenso.

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O Conselho de Bioética, por exemplo, admitiu que são necessários critérios para administrar  recursos insuficientes, mas condenou a implantação de uma “mentalidade utilitarista ou, pior ainda, de discriminação de pessoas idosas ou com deficiências”.

Além de considerar “radicalmente injusto” que as pessoas mais ameaçadas pela doença, os idosos, sejam as mais excluídas pela triagem.

“Conceitos como utilidade social ou similares não atendem os princípios bioéticos que devem sustentar a tomada de decisões no âmbito assistencial”.

E quando a utilidade social deve ser levada em conta? No caso dos profissionais da área da saúde, responde o Conselho.

“Porque a melhor maneira de proteger a saúde de todos é proteger os profissionais de saúde e porque o princípio da justiça exige priorizar os que mais intensamente expõem sua saúde em benefício de terceiros”.

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A maioria das pessoas concordaria com isso. Menos, evidentemente, quando estiver no fim da fila que antes era para UTIs, agora passou para a hospitalização de casos graves e ninguém sabe onde mais vai chegar.

“Os protocolos de atuação mudam a cada duas horas”, disse uma enfermeira ao site do El Mundo.

Tudo, no momento, parece mudar a cada duas horas.

Todos os cursos de ética começam com a velha questão: se um trem descontrolado estiver avançando para matar trinta pessoas presas num vagão e você puder acionar a alavanca que muda o rumo dos trilhos, de forma a matar apenas uma, o que faria?

Mas e se aquela pessoa fosse justamente… Bem, já deu para perceber.

Há menos de um mês, parecia impensável que a Espanha discutisse como escolher quais idosos deviam ter uma chance de viver ou os que seriam simplesmente abandonados para morrer.

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