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Outro ataque racista fake: ator americano não ganha o Oscar

Jussie Smollett, da série Empire, fez tudo errado desde o começo, mas passou por vítima porque muitos queriam acreditar na história dos trumpistas maus

Por Vilma Gryzinski
17 fev 2019, 13h18

Não é preciso ser policial nem jornalista investigativo para constatar os furos na queixa apresentada, depois de uma hesitação, pelo cantor e ator Jussie Smollett.

Com seus doces olhos de cílios curvados, o intérprete de Jamal Lyon, personagem negro e gay como ele em Empire, contou uma história estranha.

Estava voltando da lanchonete Subway para seu apartamento em Chicago. Eram duas horas da madrugada. Dois sujeitos brancos, com máscaras de esqui, o abordaram, um o xingou com os epítetos ofensivos de hábito.

Ele reagiu e acabou machucado, com uma corda no pescoço e jatos de cândida na roupa. Os agressores ainda gritaram que ele estava no “país do MAGA” – o slogan trumpista sobre recuperar a grandeza da América.

Soube-se depois, quando uma equipe de dez investigadores da polícia de Chicago dava prioridade ao caso, que o ataque aconteceu justamente num ponto cego das onipresentes câmaras de segurança.

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Exceto por este minuto faltante, todo o percurso de Smollet foi recuperado. Inclusive os momentos em que aparece entrando de volta no prédio, com a corda de nylon no pescoço e o sanduíche intato na mão.

Não é preciso nem conhecer as dimensões mastodônticas dos pratos da rede de lanchonetes para desconfiar de como seria possível sofrer um abjeto ataque como o descrito e sair dele com um sanduíche inteiro. Sem contar o celular no qual contou que estava falando com o empresário e conseguiu recuperar.

Complicadores: Chicago estava passando pela onda de frio polar que jogava as temperaturas noturnas a 30 graus abaixo de zero. Nenhum trumpista branco costuma se aventurar pela área onde Smollett mora. Em seu próprio prédio, “metade é gay e metade é negra”, segundo um morador.

“Muito pesado”

Mais ainda. Smollett não entregou o celular à polícia para o cruzamento de sinais – “Tinha o telefone da minha mãe, dos meus irmãos, dos meus amigos. Meus vídeos”, alegou, como se fosse a única pessoa do mundo a ter contatos assim, mesmo que constrangedores.

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Mas Smollett não recusou a visibilidade propiciada pela aura de vítima duplamente atingida pelas pragas do racismo e da homofobia (como filho de pai judeu e mãe negra, poderia alegar antissemitismo, mas pulou esta parte).

Discursou num show, deu entrevista, ficou com os olhos marejados.  Especulou que tinha sido alvo porque pegava “muito, muito pesado” contra Donald Trump.

Revoltou-se contra as desconfianças crescentes, cada vez mais evidentes tanto para os jornalistas que preferiram ficar calados e não mexer naquela coisa – a maioria -, quanto para os poucos repórteres que não desistiram.

O ataque foi denunciado em 29 de janeiro. Em duas semanas, já estava elucidado. Seguindo trajetos feitos pelo Uber, a polícia de Chicago chegou à casa dos irmãos nigerianos Olabinjo e Abimbola Osundairo. Levou computadores, roupas, sapatos, litros de cândida.

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Com corpos fabulosamente escupidos, os irmãos se dedicam ao fisioculturismo enquanto tentam chances como atores. Foram extras em Empire. Eventualmente, iam ao prédio de Smollett para malhar.

Logo depois da data do suposto ataque, viajaram para a Nigéria. Quando desembarcaram de volta, seguiram direto para a cadeia. Contaram tudo, segundo a versão oficiosa. Receberam 3.500 dólares para  participar da farsa.

Quatro dias antes, compraram a corda que simularia o enforcamento de negros na época terrível dos linchamentos, entre o fim da Guerra Civil, chegando até, espantosamente, aos anos sessenta.

“Linchamento” foi a palavra usada por vários políticos democratas para condenar a agressão, principalmente os que já trabalham pela candidatura presidencial como os senadores Kamala Harris (negra e indiana), Corey Brooker (negro e gay) e Bernie Sanders (um reles brancão judeu, mas “socialista democrático”).

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Tapas de verdade

Jussie Smollett tem 36 anos, mais do que o dobro da adolescente Tawana Brawley, protagonista do mais escandaloso caso de crime racial encenado.

Tawana ainda tem a atenuante de que apenas queria evitar uma bronca do padrasto por ter passado a noite fora. Enfiou-se num saco de lixo, rabiscou epítetos racistas no corpo e disse que tinha sido sequestrada e estuprada por quatro homens brancos, um dos quais com distintivo de polícia.

A apavorante história  obviamente ganhou vida própria, atraindo militantes negros que assumiram sua causa, incluindo Al Sharpton, que continua até hoje no rendoso negócio da vitimização.

A farsa demorou a ser amplamente desmentida, o que aconteceu durante o processo de indenização do promotor Steven Pagones, falsamente acusado de ser um dos inexistentes estupradores.

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De forma geral, policiais e jornalistas experientes detectam muito rapidamente os marcadores das denúncias fake.

Os problemas acontecem quando passa a haver a contaminação de torcidas políticas. Quando Donald Trump assumiu, várias denúncias de ataques racistas foram expostas como falsas.

Mesmo assim, a enorme diferença entre a cobertura de “jovem negra espancada por homens com boné de Trump” e “polícia não encontra provas de ataque” deixa muitos convencidos de que as agressões realmente aconteceram.

A predisposição a acreditar que adversários políticos podem praticar qualquer atrocidade anuvia a capacidade de julgamento.

Expostos como mentirosos compulsivos, os denunciantes sempre podem dizer que estavam se sentindo fragilizados, vulneráveis, assombrados com o “clima político” agressivo.

Ou sofrer um colapso nervoso e ir fazer um rehab, como é possível que aconteça com Smollett. Muito melhor como intérprete do filho de um magnata da música negra em Empire do que como denunciante fake, ele não precisa morrer de preocupação com o futuro.

O ator que faz seu pai, o ótimo Terence Howard, tem um sólido prontuário de agressões contra mulheres – a ex-esposa, uma aeromoça – e continua firme.

O que é uma falsa comunicação de socos inventados comparada a tapas de verdade?

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