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Por Vilma Gryzinski
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O que é interesse nacional? Caso JBolton mostra dilemas

A demissão do conselheiro de Segurança Nacional de Trump diminui o nível de inteligência e aumenta chances de acordos com inimigos dos Estados Unidos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 10 set 2019, 20h51 - Publicado em 10 set 2019, 19h51

Por mistérios do destino, no mesmo dia em que George Soros elogiou Donald Trump, John Bolton foi demitido pelo presidente, com a deselegância habitual.

Soros e Bolton são antípodas.

O megafinancista aposentado quer mudar os Estados Unidos e o mundo despejando seus bilhões em causas progressistas.

Transformou-se no ícone global de oposição a tudo o que Donald Trump representa.

Só elogiou a postura do presidente ao colocar a Huawei na lista negra das sanções contra a China. Com uma ressalva: acha que Trump vai amolecer com a gigante chinesa, vezeira em espionar os concorrentes e até os clientes, em troca de um entendimento comercial.

John Bolton, formidável e até furioso de mudar o mundo de acordo com os interesses dos Estados Unidos, também não queria que Trump amolecesse.

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Com ninguém: China, Venezuela, Coreia do Norte, Irã e talibãs do Afeganistão.

Caiu por causa disso. Trump quer negociar com todo mundo, ao contrário da imagem que a cobertura hostil transmite incessantemente.

Se o regime iraniano está celebrando a queda do “bigode”, como apelidou Bolton, isso significa que a demissão dele foi ruim?

Kim Jong-Un está abrindo o champanhe e mandando executar uns parentes, só para comemorar?

George Soros está feliz?

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Não existem respostas simples por motivos óbvios.

John Bolton passou a sua carreira pública, como embaixador na ONU durante o governo Bush e conselheiro de Segurança Nacional de Trump, defendendo com uma veemência apaixonada o que acha que é melhor para os Estados Unidos em termos da política global que faz parte constituinte do status de superpotência.

“Todo mundo busca seus interesses nacionais. Só os Estados Unidos são culpabilizados por isso”, disse numa de suas muitas tiradas brilhantes e agressivas.

Historicamente, existem duas correntes de pensamento em matéria de comportamento global – política externa é coisa para os outros, menos poderosos.

Para os intervencionistas, os interesses americanos são melhor atendidos quando o país recorre a suas formidáveis forças armadas, seja para vencer o nazismo, segurar o comunismo por procuração, como no Vietnã, ou derrubar Saddam Hussein.

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Os isolacionistas acham, evidentemente ao sabor dos tempos, que o país é auto-suficiente bastante para não precisar nada disso.

Gasta dinheiro demais, sem falar em vidas americanas, com lugares que não têm conserto. Atiça hostilidades e, assim, prejudica seus próprios interesses.

INSTINTOS BÁSICOS

A guerra no Iraque, que alimentou uma nova safra de extremistas muçulmanos, é considerada o maior exemplo disso.

Sem falar nas consequências indesejadas, como a substituição dos sunitas pelos xiitas, em ampla maioria identificados com o regime islâmico do Irã.

John Bolton fez sua fama de “falcão” intervencionista justamente na guerra do Iraque. Depois a aumentou como o embaixador na ONU que disse nada diplomaticamente sobre seu local de trabalho: “Se o prédio em Nova York perdesse dez andares, não faria a menor diferença.”

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Foi por posições assim que chegou ao governo de Donald Trump.

Alérgico a organismos internacionais, Trump se elegeu com a promessa de acabar com as guerras em lugares falidos.

A contradição com John Bolton era conhecida desde o começo. O assessor de Segurança Nacional serviu para deixar as elites do regime iraniano bem nervosas, mas entrou em conflito com Trump em praticamente tudo.

Supõe-se que a coisa azedou em relação às negociações de paz para Afeganistão, talvez o mais infernal objeto das intervenções americanas.

Resumo a jato: como território de um consórcio entre os extremistas locais e a Al Qaeda de Osama Bin Laden, o Afeganistão tinha que ser invadido depois do 11 de Setembro.

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Os talibãs foram derrubados, mas sobreviveram – assim como Bin Laden, só despachado dez anos depois.

A mistura de geografia, religião, histórico tribal, unidade étnica dos pashtuns e, no fundo, a louvável falta de vontade dos Estados Unidos de elevar o desastre da guerra ao nível de terra arrasada, criou um conflito interminável.

Em 18 anos, foram despejados inacreditáveis 2,4 trilhões de dólares no Afeganistão, fora 2.400 mortos e 20 mil feridos americanos. Os locais são quase incalculáveis.

A encrenca toda está no fato de que, se saírem as tropas americanas ainda em situação de combate no Afeganistão, o governo cai e os talibãs voltam em cinco minutos. Ou dias. Ou meses.

Em qualquer prazo, os Estados Unidos não vão ficar bem na foto se adúlteras voltarem a ser apedrejadas em público, os estádios de futebol forem usados de novo como teatro para decapitações e o atoleiro da geopolítica regional afundar mais ainda, com aumento da influência do Irã – de novo – e contaminação extrema no Paquistão.

Fora a China, que está muito mais do que de olho na Ásia Central, um dos pivôs do ambiciosíssimo plano de expansão mundial chamado One Belt One Road (um cinturão e uma estrada, na verdade muitos de cada).

Isso dá apenas uma ideia extremamente resumida de como é complicado decidir o que é melhor para os interesses nacionais dos Estados Unidos, sair do Afeganistão ou ficar, o que demandaria aumentar a intervenção bélica,

Foi o que fez Barack Obama, atendendo às ponderações de seus ministros e assessores militares – permanentemente contrários a “perder” o Afeganistão.

Obama contrariou seus instintos mais básicos.

O que Donald Trump, um impressionante seguidor dos próprios instintos básicos, vai fazer?

É um bom assunto a ser discutido com John Bolton se ele aparecer para outro formidável café da manhã como o oferecido por Jair Bolsonaro antes de assumir a presidência.

Já pensaram se George Soros também viesse?

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