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O julgamento de Joe Biden: sentença será definida por terrorismo futuro

A humilhante e apressada retirada chega ao fim e o que importa agora para americanos é se Afeganistão voltará a ser porto seguro da jihad

Por Vilma Gryzinski 30 ago 2021, 08h44

Foram duas das mais loucas semanas dos tempos recentes. Entre o momento em que talibãs barbudos e armados se sentaram à mesa do presidente afegão, convenientemente foragido, e as horas finais da retirada americana, quando todo o poder da maior superpotência da história se limitou ao perímetro do aeroporto de Cabul, a história passou por alguns daqueles momentos em que o relógio parece se acelerar.

Sob todos os ângulos, Joe Biden foi inteiramente responsável por transformar uma situação que já era ruim num desastre lamentável para a imagem dos Estados Unidos – e para a sua própria, claro.

O estrago já foi feito e, pela lógica, só o fato de que os americanos não assistirão mais cenas pungentes como a chegada dos corpos dos treze militares, rapazes e garotas na maioria na faixa dos 20 anos, estraçalhados por um homem-bomba na entrada do aeroporto de Cabul, já contará pontos a favor de Biden.

A temporada de furacões, a variante delta, a inflação e outros problemas imediatos tenderão a ir deixando a questão afegã para um tempo passado que muitos preferem dar por encerrado.

Mas Joe Biden não vai se livrar tão facilmente do julgamento da história. Assim que ele tomou posse, em janeiro passado, seu chefe da casa civil, Ron Klain, reuniu um grupo de historiadores com o objetivo declarado de moldar a imagem do presidente na mesma – e gigantesca – forma de Franklin Roosevelt.

Hoje, a pretensão parece mais absurda ainda.

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“Joe Biden não está fazendo o que todo presidente faz por volta dos 200 dias de seu primeiro ano de mandato: disputando a reeleição. Depois dessas duas últimas semanas, está fazendo o que presidentes só fazem em seus últimos meses: disputando seu lugar na história”, resumiu David Shribman para o Pittsburg Post-Gazette.

Este lugar só poderá ser definido dentro de muitos meses, possivelmente anos. E depende não dele, mas do que o Talibã vai fazer: não permitir que o país volte a ser usado como base de jihadistas contra os Estados Unidos, como mais ou menos prometeu, ou continuar fiel à sua própria doutrina e acelerar o processo de atração de jihadistas de diferentes linhas, mais notavelmente a do Estado Islâmico.

É quase impossível que o Talibã impeça que o território afegão funcione como um ímã para os militantes que sobreviveram à dissolução do Estado Islâmico na Síria e no Iraque ou os novos candidatos a guerreiros de Alá, vindos do Paquistão e da Índia. 

Mesmo que se aceite a hipótese de que a direção do movimento não queira mais dar refúgio a companheiros ideológicos, como fez com a Al Qaeda na época de Osama Bin Laden, as regiões montanhosas do país são incontroláveis – como tanto aprenderam estrangeiros que entraram no país imaginando que seria um passeio. A União Soviética da década final do comunismo e os Estados Unidos pós-Onze de Setembro foram os últimos exemplos.

As desavenças entre o Talibã e o Estado Islâmico do Khorasan não são insuperáveis. Ironicamente, é o Talibã que está sendo acusado pelos jihadistas mais barra pesada de fazer concessões e até, horror dos horrores, negociar com os americanos.

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Existe também um contexto étnico. O ISIS só admite que o emir, ou  “comandante dos fieis”, líder máximo do califado que pretende emular o dos tempos primordiais da religião muçulmana, seja um árabe de turbante preto – ou seja, descendente do profeta Maomé. Os talibãs são da etnia pashtun.

Com a capacidade de escuta eletrônica que os Estados Unidos têm hoje, é difícil uma reprise de atentados com a magnitude do Onze de Setembro. Mas a euforia com que jihadistas de todo o mundo estão comemorando a volta do Talibã no Afeganistão – e a humilhante retirada americana – indica que os serviços de inteligência dos Estados Unidos e dos países ocidentais em geral vão ter que fazer um bocado de horas extras. 

A vitória do Talibã também pode impulsionar o recrutamento de novos militantes para os diferentes grupos jihadistas em atividade no Oriente Médio, na África Ocidental e na Ásia. China e Rússia, deliciadas com o golpe autoinfiingido pelos Estados Unidos, também não estão livres.

“Os talibãs são terroristas e vão apoiar terroristas”, resumiu, antes da queda de Cabul, o ex-diretor da CIA do governo Obama, Leon Panetta, um democrata que tem feito críticas abertas à desastrosa política de Biden.

“Não tenho a menor dúvida de que eles vão proporcionar um porto seguro para a Al Qaeda, o ISIS e o terrorismo de forma geral. E isso é uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos”.

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Não é uma garantia de um futuro tranquilo para Biden.

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