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“Não temos medo, não temos medo, não temos medo”, dizem cubanos

Regime corta luz, desativa internet e coloca sua tropa na rua, mas a barreira do medo foi vencida nas incríveis manifestações de domingo

Por Vilma Gryzinski 14 jul 2021, 08h10

Está tudo calmo em Cuba. Sem manifestações, sem gritos, sem protestos, sem o som do rap e do reggaeton cantados pelos músicos populares que estão na linha de frente da rebelião pacifica.

Tecnicamente, o regime venceu a batalha, depois de tirar velhos revolucionários como Raúl Castro da aposentadoria para jogar seu peso político contra os manifestantes. E também convocar policiais regulares e os comitês de defesa da revolução para combater a “estratégia de guerra não convencional”, velho chavão ressuscitado pelo presidente Miguel Díaz-Canel para blindar o regime.

Mesmo com as vozes digitais cassadas, as cenas que foram filmadas e deixaram o país contam uma história completamente diferente. Ao contrário dos pequenos e valorosos grupos de dissidentes, muitas vezes encabeçados por artistas, dessa vez foram cubanos comuns que tomaram coragem e saíram protestando em mais de 60 pontos de diversas cidades cubanas.

De todos os gritos que entoaram, dois ocuparam posições especiais. “Pátria e vida”, definitivamente virou o slogan dos dissidentes, uma resposta direta e emocionante ao “Pátria ou Morte” consagrado por Fidel Castro.

O outro é mais impressionante ainda: “Não temos medo, não temos medo, não temos medo”. Quando um povo reprimido deixa de ter medo – ou acha que pode deixar – , está na hora dos repressores sentirem o estômago embrulhado.

Romper a barreira do medo é um dos atos mais sem volta da história das insurreições.

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O regime continua a dispor de um vasto leque de organismos repressivos, treinados para infernizar a vida dos pequenos grupos dissidentes e atacar cirurgicamente os “escolhidos” para ir para a cadeia. Mas muita gente importante na estrutura do poder deve ter passado noites intranquilas diante da espontaneidade, da rapidez e das dimensões sem precedentes das recentes manifestações.

E da facilidade com que músicos populares sintetizam o sentimento das ruas. “Expliquem este comunismo, estas eleições, estes carros, estes iates, estas mansões”, desafia o rapper Aldo Rodríguez.

Com a facilidade de quem faz rimas não exatamente elaboradas, mas também não vacila em dizer o que deve ser feito, ele avisa: “Se luta com amor e o medo não é opção, é hora de derrubar esta revolução, muita violência e roubo, muito ódio e repressão”.

“Não vamos permitir que nenhum contrarrevolucionário, mercenário, vendido ao império estadounidense, vá provocar desestabilização”, esgoelou-se Díaz-Canel, usando o mesmo discurso de sessenta anos atrás Os músicos chamados de traidores respondem de maneira muito mais cantante.

“Já se acabou”, diz um dos refrãos.

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A súbita escalada dos protestos em Cuba acontece num momento em que os Estados Unidos têm que por panos quentes em vários pontos da região, com a possibilidade de migração em massa de haitianos assustados com a alta instabilidade provocada pelo assassinato do presidente, de nicaraguenses infernizados pelo esquerdismo xamânico-delirante do casal Daniel Ortega e Rosario Murillo e, claro, os próprios cubanos, sempre desesperados para fugir do paraíso socialista.

Se os protestos se repetirem e a repressão for mais violenta, a fuga em massa para Miami se torna praticamente inevitável.

Muito da adesão aos protestos se deve ao desespero puro e simples com a falta de energia, que provoca apagões constantes, as filas para a comida racionada, a quase inexistência de remédios e a repressão ao pequeno comércio de rua, por causa da pandemia. 

É nesses horas que fica mais fácil – e mais perigoso para o regime – dizer: “Já não temos medo”.

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