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Mande um Telegram para ele: o incrível russo do aplicativo

Autoexilado, bombado, imitador do herói de 'Matrix' e, claro, bilionário, Pavel Durov, dono do Telegram, saiu da Rússia e ganhou fama de libertário

Por Vilma Gryzinski 26 jun 2019, 09h26

Ele tem 34 anos, 2,7 bilhões de dólares e o segundo maior aplicativo de mensagens do mundo.

Isso que era considerado pelos pais o menos brilhante dos dois filhos, Nikolai, o mais velho, um gênio mutipremiado da matemática e da programação, e Pavel, que aparentemente levava menos jeito para a coisa.

O que todo mundo quer saber, claro, é se Pavel Durov poderia ter participado da quebra de sigilo das mensagens trocadas em Sergio Moro e Deltan Dallagnol.

Qualquer suspeita baseada em ligações entre o criador do Telegram e os formidáveis serviços de informações da Rússia precisa levar em conta alguns elementos básicos.

Primeiro, ele criou um perfil tão hostil ao regime de Vladimir Putin que, depois de vários “incidentes”, saiu da Rússia e virou um autodeclarado cidadão do mundo.

Conseguiu cidadania em Saint Kitts and Nevis (São Cristóvão e Nevis), o nome das duas ilhas que formam o minúsculo país caribenho, com uma contribuição de 250 mil dólares ao Instituto do Açúcar local. Mas fica uma razoável parte de tempo em Dubai, onde chegou com sua equipe de 15 gênios da computação e nenhuma intenção de retroceder.

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Obviamente, prosperou bastante desde então. O Telegram tem mais de 350 milhões de usuários e pretende encostar mais no um bilhão do WhatsApp. Uma das mais envolventes atividades de Pavel Durov é falar mal do concorrente, pertencente ao Facebook, principalmente no que se refere à criptografia.

Dá para imaginar remotamente a raiva que ele sente quando é chamado, até hoje, de “Zuckerberg russo”. A guerra entre os dois aplicativos é apelidada de “War of Phones”.

SÃO PAULO

O segundo motivo que coloca Pavel Durov num espectro contrário ao sistema putinista é a verdadeira veneração de que desfruta entre parte da brava e relativamente pequena oposição russa.

Numa manifestação oposicionista, quando os atritos com o regime estavam quentes, ele foi retratado como um ícone de São Paulo, seu nome em russo.

Do lado da argumentação oposta está sua declarada admiração por Edward Snowden, o operador de inteligência cibernética que roubou segredos do NSA, o grande irmão americano.

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Todos os gigantescos vazamentos de Snowden foram não apenas cobertos como operados por uma dupla que se tornou famosa por causa disso e acabou no site Intercept, Glenn Greenwald e Laura Poitras, o primeiro desdobrando-se no braço brasileiro, com os conhecidos e ainda em desenvolvimento resultados.

Snowden, que virou o herói de Durov e outros libertários apavorados com o poder de vigilância propiciado aos serviços de inteligência pelos métodos digitais, protagonizou e continua protagonizando um dos mais contraditórios papéis dessa história: um espião americano que se rebelou contra a intrusão do sistema, mas vive asilado na Rússia.

Foi acolhido depois de fugir dos Estados Unidos para Hong Kong e daí para Moscou, onde passou 40 dias no minúsculo quarto de um hotel do aeroporto enquanto seu caso era “analisado”.

Nem a alma mais pura do planeta imaginaria que Snowden, ex-agente da CIA e funcionário da Booz Allen numa operação terceirizada da NSA, não pagou um pedágio na moeda valiosíssima da informação, que tinha em quantidades espantosas.

Quando Durov peitou o regime russo e se recusou a descriptografar mensagens do Telegram, primeiro de usuários da Ucrânia e depois de oposicionistas russos, Snowden deu o maior apoio.

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“Já critiquei o modelo de segurança do Telegram no passado, mas a reação de Durov à exigência totalitária do governo russo de ter acesso via backdoor a comunicações privadas – recusa e resistência – é a única resposta ética e demonstra liderança verdadeira”, postou ele.

Muita gente pensou: Hummmmm. Parece certinho demais.

Antes do Telegram, Pavel Durov foi o criador da versão do Facebook russo, o Vkontakte, a origem de sua fortuna.

Aliás, mais copiador do que criador. A maneira como perdeu o controle do VK continua a ser uma das histórias mais obscuras de um mundo onde o que não falta são mistérios.

“É difícil ver Pavel Durov como um herói da liberdade de expessão”, escreveu em 2013 um repórter do Washington Post – antes que o jornal de Jeff Bezos se transformasse num canal totalmente dedicado a derrubar Donald Trump.

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“O Vkontakte é visto basicamente como um plágio do Facebook. É um reservatório de vídeos e músicas pirateados, e como tal conquistou a fúria do governo americano.”

Sem contar que a recusa pública em fechar fóruns de debates da oposição não parece ter acontecido exatamente assim. “O jornal oposicionista Novaya Gazeta acusou Durov de colaborar nos bastidores com o FSB, fornecendo informações de usuários e bloqueando alguns.”

FSB é Serviço Federal de Segurança, sucessor da KGB, da qual Vladimir Putin é o mais bem sucedido agente das últimas décadas.

Agentes duplos, triplos ou quádruplos sempre foram uma notável especialidade da inteligência russa.

No mundo dos espelhos que se multiplicam infinitamente, não é fácil separar teorias conspiratórias nascidas de manias persecutórias das teorias criadas deliberadamente para levantar cortinas de fumaça.

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PRATA DA CASA

Passar despercebido fazendo coisas quase inacreditáveis para aparecer não seria alheio a este mundo.

Pavel Durov esconde a sua vida amorosa, mas, incrivelmente, “todos” sabem que já namorou algumas das mais deslumbrantes modelos russas.

É obcecado por beleza, inclusive a própria. Malhou até construir um corpo ideal, exibido em fotos de sunguinha. Comparado a fotos mais antigas, ganhou uma quantidade notável de cabelos. Talvez tenha feito outras intervenções.

Só usa roupas pretas, como um de seus ídolos, Neo, o personagem de Keanu Reeves em Matrix (é melhor não lembrar, no momento, que alguns dos adolescentes responsáveis pelos piores massacres a bala em escolas americanas tiveram a mesma fonte de inspiração).

Pavel Durov é filho de um filólogo conhecido e foi criado em Turim, na Itália, onde o pai trabalhava, desde pequeno até os 17 anos. Fama, fortuna e a aura heroica lhe deram um status icônico na Rússia.

Até a fama do Telegram como “o aplicativo do Estado Islâmico”, incrivelmente, ajudou. Se os maiores criminosos do planeta o usavam para escapar da ultravigilância americana, a criptografia só poderia ser boa mesmo (pausa para os protestos dos especialistas).

Quando Vladimir Putin apareceu numa de suas fotos sem camisa, em 2017, Durov criou a hashtag PutinShirtlessChallenge, convocando os russos a mostrar a prata da casa. “Duas regras de Putin: sem photoshop e sem contrair os músculos.” Ilustrando a coisa, uma foto própria, todo bombado.

Não parece coisa de um inimigo do regime.

Pavel Durov diz que não tem nem quer ter imóveis, não fuma, não bebe e aderiu ao modismo alimentar de fazer longos jejuns. Em janeiro, depois de passar seis somente tomando água, escreveu: “O consumo zero de comida melhora a claridade mental”.

Bem que ele poderia usar um pouco dessa claridade para entender quem o Telegram furado está ajudando a se livrar da justiça no Brasil.

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