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Por Vilma Gryzinski
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Impeachment: Madame Botox contra Dragão da Maldade

É assim que as respectivas partes veem Nancy Pelosi e Donald Trump, enroscados numa luta de vida ou morte que definirá o futuro dos Estados Unidos

Por Vilma Gryzinski 29 set 2019, 09h16

A cinco meses de completar 80 anos, com a sobrancelhas extraordinariamente levantadas que leva os inimigos a chamá-la de Pelosi Botox, a presidente da Câmara dos Representantes definiu a batalha final de sua carreira.

Grudou na jugular de Donald Trump e só pretende largar quando ele estiver no chão, derrotado e impichado por pressionar um presidente estrangeiro a entregar irregularidades praticadas por seu potencial adversário na eleição do ano que vem em favor de seu filhão, na Ucrânia.

Isso e sabe Deus o que mais vai aparecer.

Ao dar início aos inquéritos prévios que levarão à abertura de um processo no impeachment, Nancy Pelosi, reconduzida à presidência da Câmara no começo do ano, depois que os democratas voltaram a conquistar a maioria, abriu um poço sem fundo de revelações potencialmente comprometedoras.

Com o processo instalado, o que está fora de dúvida devido aos números, presidente, ministros, assessores, funcionários de carreira e consultores particulares são obrigados a entregar documentos, gravações, minutas e registros de tudo o que as comissões de deputados pedirem.

Embora formalmente sejam parecidos, os processos de impeachment no Brasil nem se comparam em alcance e escrutínio aos americanos.

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Se poucos presidentes resistiriam a ser tão vasculhados, imagine-se um presidente como Donald Trump, um homem que era do mundo do show business e das incorporações imobiliárias, sem experiência nas marotagens políticas, eleito justamente por falar em público o que poucos ousariam dizer em particular.

Nos Estados Unidos, o presidente da Câmara é chamado, na tradição inglesa, de “speaker”.

Como o inglês é uma língua sem gêneros (se fosse, eles já passariam de 30, 40 ou mais), Nancy Pelosi, a primeira mulher a ocupar o cargo, é chamada de Madam Speaker.

As pessoas nessa posição usam um martelo, simbólico de sua autoridade. De brincadeira, costumam ser presenteadas com martelos gigantes.

Metaforicamente, foi muito, muito grande a martelada desfechada por Nancy Pelosi contra Trump.

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Mesmo tendo esquecido o discurso do impechment no avião do voo Nova York-Washington, um “momento terceira idade” dos vários que tem tido embora nem se compare às bobeiras de Joe Biden, um rapagão três anos mais jovem do que ela.

No imaginário de seus inimigos, Trump é um vilão de história em quadrinhos, um grotesco Dragão da Maldade.

Roubou a eleição de Hillary Clinton, conspirou com os russos, insuflou um racismo latente na sociedade americana, perseguiu desamparados e se dedicou 24 horas a praticar o mal e escrever tuítes desaforados.

Para a elite cultural e política, Trump é uma ofensa pessoal, insuportável. A experiência brasileira é praticamente um espelho desse tipo de reação.

Uma figura quase folclórica dos ambientes nada intelectuais de Nova York, novo rico exibicionista, dedicado integralmente à autopromoção, reinventado no mundo brutal dos reality shows, abastecendo-se de beldades como dono de agência de modelos e de concursos de miss.

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Um nojo.

FRITO E ENFARINHADO

E os eleitores que se identificaram com ele, gostaram da ideia do patriotismo simplificado de reconstruir a grandeza da América, riem de suas provocações aos nomões do establishment, não recuam na faixa sempre acima de 40% de apoio a ele e não estão achando nada ruim o crescimento econômico e o desemprego praticamente zerado?

Burros, cretinos, ignorantes, fascistóides, merecedores da recessão que virá (e sempre virá uma recessão) e da destruição em massa de suas ilusões que acontecerá durante o processo de impeachment.

Ao se tornar o instrumento dessa vingança que está deixando muitos antitrumpistas insones de tanta antecipação, Nancy Pelosi já se tornou um dos maiores ícones dos progressistas, como chamam a esquerda nos Estados Unidos.

A mulher de quase 80 anos que vai enfarinhar e fritar o odiado Donald Trump, ou ir até o fim tentando isso, garantiu seu lugar na história política.

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Como em todas as boas histórias, os dois antagonistas têm pontos em comum. Fora serem septuagenários, adeptos de intervenções estéticas e milionários.

Ambos tiveram figuras paternas muito fortes a quem seguiram em suas profissões.

Frederick Trump, filho de imigrante alemão, era um homem severo e exigente. Quando o filho começou a aprontar com uma turma da pesada, aos 13 anos, mandou-o para o colégio militar.

“Tem homens que gostam de jogar golfe, eu gosto de comprar apartamentos”, disse sobre o negócio que o tornou milionário seguindo uma regra simples: “Ganhem, sejam matadores”.

Ao contrário do estereótipo, reconheceu no filho Donald “a pessoa mais esperta que conheço”, capaz de “transformar em ouro tudo o que toca”.

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O pai de Nancy Alessandro também não estava para brincadeiras.

Como menina numa família de origem italiana, ela não deveria pensar em política, mas aprendeu muito com Thomas D’Alessandro.

Corretor de seguros que se tornou deputado e depois prefeito de Baltimore, não vivia num ambiente exatamente de democratas nobres, puros e opostos a táticas um pouco mais rudes.

A identificação dos descendentes de imigrantes com o Partido Democrata e a veneração pelo mais famoso entre eles levou-o a batizar o primeiro filho de Franklin Roosevelt Alessandro, uma homenagem muito mais frequente no Brasil do que nos Estados Unidos.

Era, evidentemente, muito menos simpático ao modelo progressista atual que se tornaria dominante no Partido Democrata e que sua filha seguiria depois de se casar com marido rico, Paul Pelosi, ter quatro meninas e um menino e ir morar em São Francisco, a cidade mais liberal da América.

Nancy Pelosi derretia-se de amor por Barack Obama e foi a aliada decisiva para a mudança nos programas de saúde conhecida como Obamacare.

A reação negativa do eleitorado foi clara e o Partido Democrata perdeu a maioria na Câmara e vários governos estaduais.

No clássico movimento de pêndulo, ela recuperou, no meio do mandato de Trump, o martelo de “speaker”.

Com uma nova geração de deputadas de esquerda, foi acusada de ser desantenada e ultrapassada. Uma velha, enfim.

Tal como havia feito na época de Bush filho, resistiu às bases que exigiam o processo de impeachment de Trump.

Chegou a ser trolada por Alexandria Ocasio-Cortes.

Agora, de Nancy hesitante virou Nancy valente.

BOLIVARIANA DE HARVARD

É obvio que a Madam Speaker odeia Trump tanto quanto a turma mais jovem. Chegou a sair de uma reunião com ele na Casa Branca batendo o salto.

Só achava taticamente negativo forçar o impeachment, considerando-se que tem eleição presidencial no ano que vem, seria muito melhor ganhar nas urnas. E os republicanos ainda são maioria no Senado.

Seria contraproducente aprovar o processo na Câmara para vê-lo derrubado no Senado, onde parecia absurdamente impossível ter os dois terços necessários para, pela primeira vez na história, tirar um presidente eleito da Casa Branca.

Até que explodiu o caso Ucrânia, a aparente pressão de um presidente através de um país estrangeiro contra um adversário político, documentada, assumida e delatada sigilosamente por um agente da CIA a serviço da presidência.

Para os antitrumpistas, o caso parece tudo que pediram aos céus.

Fora Nancy, a Valente, os deputados e suas enormes equipes de juristas, têm a seu lado a grande maioria da imprensa e uma parte considerável do “sistema”, altos escalões dos quadros profissionais do FBI e da própria CIA.

Todos querendo a cabeça de Trump desde quando era candidato.

Os trumpistas denunciam, sem ironias, mais um golpe do sistema contra um presidente totalmente fora dele.

Uma conspiração em que Madame Botox é uma figura patética e manipulada pelos verdadeiros operadores, uma frente maligna que chega – onde mais? – até George Soros.

Com o duplo objetivo e detonar Trump e o próprio Joe Biden, abrindo caminho a um candidato de esquerda. No caso, uma candidata, Elizabeth Warren, uma espécie de boliviariana com cátedra em Harvard.

Detalhe: o delator anônimo, que dificilmente continuará nessa condição, baseou uma parte de sua queixa-bomba em informações do Projeto de Jornalismo Investigativo sobre Corrupção e Crime Organizado. Uma das organizações beneficiadas pelo guarda-chuva da fundação de Soros.

Está bom ou querem mais?

Ah, com certeza vai ter mais, muito mais.

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