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Por Vilma Gryzinski
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Fogo do inferno: mísseis que mataram Soleimani mudam jogo

A vingança virá e será maligna, mas tem o Irã fôlego para ir à guerra? Tem Donald Trump mais motivo para festejar ou se afundará em outro pântano?

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 7 jan 2020, 12h30 - Publicado em 3 jan 2020, 09h06

Quem vive pela espada, morre pela espada. Mas a extrema simplicidade dos mísseis americanos disparados por drones trouxe uma morte extraordinariamente banal para o maior operador, tanto militar quanto político, de todas as intervenções externas do Irã.

A morte do frio, eficiente e, para tantos xiitas, carismático general Qasem Soleimani difere em tudo dos assassinatos de Osama Bin Laden e Abu Bakr Al Bagdadi.

Os chefões terroristas viviam escondidos e não representavam estados, muito menos um militarizado como o Irã. Só foram localizados e eliminados depois de muitos anos de buscas até chegar a situação menos ruim possível para as forças especiais que montaram operações complexas, com centenas de envolvidos diretamente e um enorme aparato por trás.

Soleimani, ao contrário, foi incinerado por uns poucos mísseis num lugar que não poderia ser mais público: o aeroporto do Iraque, país por onde circulava como um sátrapa, dando ordens ao governo e às milícias xiitas.

Tinha sido recebido por um desses elementos, o chefe de um dos maiores grupos armados locais, hoje transformados em forças que competem ou superam os regulares.

Abu Mahdi al-Muhandis, vice-comandante das Forças de Mobilização Populares, também estava numa das duas SUVs levadas até a pista do aeroporto para receber o poderoso iraniano. Entrou para a lista de dez mortos.

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Qasem Soleimani, comandante de todas as operações externas, do mais disfarçado ato terrorista à intervenção em larga escala na guerra na Síria, também tinha uma posição oficial num governo legalmente reconhecido.

Isso, obviamente, cria complicações adicionais, mesmo que a justificativa apresentada pelo Pentágono seja verdadeira em todos os seus aspectos.

“O general Soleimani desenvolvia ativamente planos para atacar diplomatas e membros das Forças Armadas no Iraque e por toda a região.”

“O general Soleimani e sua Força Quds foram responsáveis pelas mortes de centenas de soldados americanos e da coalizão e ferimentos de outros milhares.”

Depois do ataque à embaixada americana no Iraque, orquestrada pelo Irã e executada por seus apaniguados locais, Donald Trump tuitou que o preço seria caro.

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“Isso não é um aviso, é uma ameaça. Feliz ano novo”, provocou.

O aiatolá Ali Khamenei, o detentor do poder real na estrutura governamental do Irã, que permite chamar o país de teocracia, respondeu que “aquele sujeito”, Trump, “não pode fazer coisa nenhuma”.

Não se pode dizer que o aiatolá não pisou na bola.

O presidente americano pode e fez.

Com eficiência de cair o queixo.

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Excepcionalmente, Trump não se vangloriou. Tuitou apenas uma bandeira americana.

As consequências serão vistas nos próximos dias – ou meses ou anos, o espírito revanchista dos iranianos ligados ao regime é de fôlego longo.

O regime também comanda a fidelidade de um dos maiores grupos político-terroristas do mundo, o Hezbolá do Líbano, que inclusive tem muitas raízes entre Brasil, Argentina e Paraguai, fora livre trânsito na Venezuela.

Tudo que um político faz é um ato político. Ainda mais alguém como Trump, enfraquecido pelo impeachment e ansioso com o ano eleitoral.

Bill Clinton chancelou um bombardeio no exterior exatamente no dia em que seu impeachment foi aprovado (não passou pelo Senado, o mesmo resultado previsto para Trump).

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Nada comparável a explodir em pedacinhos o chefe das operações clandestinas ou públicas de um país como o Irã.

O assassinato pode provocar uma guerra?

Ninguém tem condições de cravar uma resposta a uma pergunta desse tamanho.

O Irã estava seguindo uma política de provocações localizadas, esperando intimidar todos os adversários de Trump – praticamente o mundo inteiro – e forçar a retomada do acordo nuclear que o presidente rasgou, esperando negociar uma versão melhor.

Trump ficou na posição perde-perde.

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Não fazer nada, ou pelo menos não retaliar abertamente ataques contra instalações petrolíferas na região, só aumentaria a audácia do adversário. Retaliar em massa abria a possibilidade de guerra em grande escala.

A tática da contenção realmente deu asas aos iranianos. A milícia Kataeb Hezbolá atacou uma base de militares americanos e iraquianas. De troco, levou uma série de bombardeios, com 25 mortos, o motivo alegado para o cerco à embaixada.

Diplomatas e funcionários passaram 24 horas presos dentro delas, certamente morrendo de medo.

A opção por um assassinato político focado, assumido e sem precedentes no caso de dois países que não estão em guerra, foi a alternativa.

Arriscadíssima, claro.

A reação da oposição a Trump foi resumida por Joe Biden.

“Nenhum americano vai derrubar lágrimas pelo passamento de Qasem Soleimani. Ele merecia ser levado à justiça por seus crimes contra tropas americanas e dezenas de inocentes em toda a região”, amaciou Biden.

Para engrossar em seguida: “O presidente Trump acaba de jogar uma banana de dinamite numa caixa de pólvora.”

“O Irã certamente vai reagir. Podemos estar no limiar de um grande conflito em todo o Oriente Médio.”

É verdade, também. O Irã pode atacar Israel através de seus terceirizados do Hezbolá, pode acionar as milícias iraquianas, pode bloquear parte ou todo o trânsito de petróleo no Golfo Pérsico.

Mas ver Joe Biden vacilar, demonstrar medo e criticar a morte de uma figura como o general iraniano que pregava varrer Israel do mapa e os americanos do Oriente Médio não tem preço para Trump.

Os mísseis Hellfire disparados pelos drones americanos no aeroporto de Bagdá também vão destruir a reputação de muita gente que, ao contrário do que alegou Joe Biden, vai chorar a morte de Qasem Soleimani.

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