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Este homem é uma mulher: farsa da autoidentificação de sexo

David Lewis mudou de gênero só de boca para denunciar a abertura a transexuais de vagas reservadas a mulheres; foi suspenso pelo Partido Trabalhista

Por Vilma Gryzinski 24 Maio 2018, 07h32

Philip Roth, o marturbador-chefe da literatura americana, era um homem que não amava as mulheres. “Se tem uma coisa que toda mulher quer é um homem para colocar a culpa”, escreveu.

Um militante sem nenhuma importância do Partido Trabalhista  no interior da Inglaterra, David Lewis, conseguiu realizar o gracejo de Roth sem mudar de rosto, corpo, voz, barba, calvície, características sexuais secundárias e, muito menos, genitais.

O pronome pessoal também continuou  a ser “ele”, sem passar para o feminino ou variantes xis, ípsilon, dábliu etc.

Lewis declarou que se autoidentificava como mulher todas as quartas-feiras, desde o momento em que seu despertador tocava, às 6,50 da manhã, até a hora em que ia dormir, por volta da meia-noite.

Candidatou-se assim a um emprego reservado exclusivamente a mulheres no Partido Trabalhista de Basingstoke.

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O posto, orwellianamente chamado em inglês de “Women’s Office”, é destinado a representar as mulheres que integram os quadros do partido junto à direção nacional, garantindo que tenham”uma voz real”.

Mas o furor politicamente correto ganhou uma guinada inesperada quando o Partido Trabalhista decidiu que as candidatas a cargos eletivos precisam apenas se autoidentificar como mulheres.

David Lewis montou a farsa da “candidatura feminina” com base na sua autodeclaração para denunciar distorções que a decisão provoca, com mulheres XY ocupando vagas que seriam de mulheres XX.

“Queria que percebessem o que acontece quando se sustenta que o gênero de uma pessoa depende apenas do que ela diz e nada mais”, garantiu Lewis.

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Antes de ser suspenso pelo Partido Trabalhista pelo crime de abrir o debate, David Lewis foi aceito para o cargo da cota feminina. Depois, apareceram muitos homens para ele colocar a culpa.

O partido de Jeremy Corbyn, o homem que quer desunir e afundar o Reino Unido, já teve alguns problemas nessa área.

Depois que a empresa de cosméticos L’Oréal dispensou os serviços da trans Munroe Bergdorf por ter dito que todas as pessoas brancas, inclusive crianças, são racistas, o Partido Trabalhista fez o óbvio: contratou-a como integrante do seu conselho LBGT.

Bergdorf teve que ser gentilmente afastada depois que outras declarações um tanto controvertidas foram expostas. Chamou, por exemplo, as sufragistas que a esquerda

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venera (mas só as que praticavam atos terroristas) de “supremacistas brancas”.

Os homossexuais do Partido Conservador foram chamados de uma outra coisa, impublicável.

Mulheres conservadoras de forma geral também não se classificam na categoria “mulheres”. Um assessor do parlamentar trabalhista Ian Lavery teve que pedir desculpas com a habitual má vontade depois do seguinte comentário no Facebook sobre Theresa May: “Ela ia ficar melhor com uma corda no pescoço.”

A primeira-ministra é de centro-direita. Indicou uma ex-rival, Andrea Leadsom, como líder do Partido Conservador na Câmara dos Comuns, onde não se dá bem com John Bercow, o presidente.

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O “speaker”, um cargo mais de secretário de coordenação das sessões, chamou-a pelas costas de “mulher burra” e mais um outro palavrão. Andrea Leadsom voltou para tirar satisfação e Bercow soltou um “mentirosa”.

Só para dar uma ideia do “conservadorismo” de Theresa May: seu governo propôs uma emenda a um acordo internacional de forma que o termo em inglês “mulheres grávidas” seja substituído por “pessoas grávidas”.

Motivo: não discriminar as mulheres que se identificam como homens, mas ficam grávidas mesmo assim.

Este é um dos muitos exemplos do inferno cheio de boas intenções que as chamadas questões identitárias – gênero, prática sexual, cor de pele etc – provocam.

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Por causa de uma dessas maluquices, foi aberta a brecha explorada por David Lewis. Uma ala pequena e radical do feminismo inglês também é contra a política de portas abertas a transexuais que se declaram mulheres.

No campeonato de vitimização, acham que viver uma vida de homem e depois “virar” mulheres exclui essas pessoas da experiência feminina – de sofrimento e dor, claro, ninguém dessa turma nunca fala das delícias de ser mulher.

Já houve até uma manifestação em que algumas dessas feministas tentaram enfrentar as transgêneros. Levaram pancada, claro. O gênero muda, mas o bração continua o mesmo.

A vida, aquele “curto período em que se está vivo”, segundo Philip Roth, é complicada. Eliminar a discriminação, um desejo positivo, pode acabar em seu exato oposto se for um movimento dominado pelo reducionismo.

Para encerrar, outra do escritor americano: “Existe a verdade e, depois, ainda existe a verdade. Por mais que o mundo esteja cheio de gente que anda por aí achando que sabe exatamente quem você e o seu próximo são, não existe fundo para o que não se conhece.”

“A verdade sobre nós é interminável. Assim como as mentiras.”

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