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Em que ponto estamos dos sete pilares malditos da Venezuela?

Como o regime bolivariano transformou as instituições de estado em organizações criminosas e organizações criminosas em aparato a seu serviço

Por Vilma Gryzinski 20 Maio 2018, 16h44

Prestem atenção nos sete pontos levantados pela organização InSight Crime para explicar como a Venezuela, primeiro sob Hugo Chávez e depois sob o desmando alucinado de Nicolás Maduro, se transformou num estado mafioso.

As semelhanças com o Brasil são assustadoras. Nós escapamos de chegar lá ou ainda podemos alcançar o nível de deterioração em que cidadãos comuns simplesmente morrem de fome, doenças ou tiros inteiramente produzidos pelo regime?

Cada leitor tem capacidade de tirar suas conclusões. Os sete pilares da maldição são os seguintes:

1. Infiltração do crime nas mais altas instâncias do estado

A InSight Crime levantou os nomes de 123 funcionários das esferas superiores da máquina do governo. Incluem-se na lista a vice-presidência; os ministérios do Interior, Defesa, Agricultura, Educação, Serviço Penitenciário, Comércio Exterior, Energia, Elétrica, Guarda Nacional, Forças Armadas, Serviço de Inteligência e PdVSA, a estatal petrolífera.

As atividades criminosas são, majoritariamente, tráfico de combustível e de cocaína, e venda de alimentos e remédios no mercado negro.

O tráfico de drogas é institucionalizado e dividido em áreas sob o controle de militares e civis. O nome Cartel de los Soles não designa um cartel ou grupo dominante do tráfico como na Colômbia ou no México.

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O sol se refere à estrela dourada usada pelos generais da Guarda Nacional Bolivariana, mas a expressão é usada para designar todos os funcionários do aparato estatal envolvidos com o tráfico.

Parece uma estrela de xerife americano. Maduro usa uma quando se fantasia de comandante.

2. Evidências de cleptocracia

A palavra “evidência” é uma forma elegante de designar o estado de desgraça nacional que a rapinagem organizada produziu no país com as maiores reservas mundiais de petróleo fora do Oriente Médio.

Tal como a hiperinflação, de 18 000%, é difícil calcular exatamente o montante do “grande saque do século XXI”, na definição do colunista Nelson Bocaranda, uma brincadeira amarga com o socialismo pregado por Chávez e correlatos.

“Os cofres nacionais foram pilhados em escala industrial pela elite bolivariana”, define a InSight, mencionando um cálculo de 300 bilhões de dólares, evidentemente impossível de ser confirmado pois os ladrões são os mesmos donos dos dados oficiais.

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O controle de preços e da taxa de câmbio no comércio exterior, esta eliminada em janeiro quando a “moeda” oficial já valia 23 500 menos vezes que o dólar no paralelo, foram os principais instrumentos desse assalto coletivo.

3. Transferência do poder do estado para agentes irregulares ou ilegais

Em outras palavras, o inferno descontrolado que o regime cubano criou na Venezuela – embora em seu próprio país tudo seja altamente regulado.

Com a criação dos “coletivos”, os grupos comunitários armados que no Brasil seriam chamados ironicamente de movimentos sociais, as Forças Armadas e de segurança perderam o monopólio do uso da força como fieis depositários de um instrumento concedido pela sociedade.

Depois de devidamente cubanizadas e incorporadas ao esquema “roubolucionário” em ampla escala, as Forças Armadas venezuelanas viraram um braço do regime.

Mas os coletivos permanecem. Divididos entre bairros da periferia, principalmente de Caracas, recebem armas e licença para usar a violência. Seus integrantes cobrem o rosto quando mobilizados para atacar oposicionistas ou controlar postos de votação e usam motocicletas.

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São uma espécie de motoboys do mal. O mesmo sistema foi “exportado” para a Nicarágua.

Os queimadores de pneus, plantações e edifícios ocupados do Brasil nunca chegaram nem perto do nível de nocividade de seus modelos venezuelanos, mas a próxima categoria é catastroficamente conhecida entre nós: bandidos que controlam o sistema penitenciário, exercem atividades criminosas dentro e fora das cadeias e operam em coordenação com as “autoridades”.

Na Venezuela, são chamados de “pranes”. O acordo de cooperação surgiu depois de uma rebelião em que os mediadores, pela parte do governo, foram um pastor evangélico e um integrante do coletivo Las Piedritas.

O acordo com os “criminosos revolucionários” entrou em vigor em 2011, quando a deputada Iris Varela, conhecida como Comandante Fosforito, foi nomeada ministra do Serviço Penitenciário. Uma de suas qualificações aparentemente foi ser amante do mais alto escalão.

A partir daí, evidentemente, a coisa só degringolou. Como os bandidos, de novo, também são donos dos dados, só dá para ter uma ideia com cálculos não oficiais: 92 homicídios por 100 mil habitantes (no Brasil, 42).

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4. Crescimento exponencial do crime organizado

O equivalente venezuelano dos grupos chamados de “comandos” no Brasil são as “megabandas”.

O crime em larga escala foi incentivado pelos motivos acima descritos, inclusive a corrupção institucionalizada. Mas seu fundamento ideológico bebe da mesma distorção do pensamento esquerdista segundo o qual a pobreza justifica e até enobrece a criminalidade.

Falsas políticas sociais criaram zonas de criminalidade livre, orwellianamente chamadas de “zonas de pacificação”. A polícia não entrava em determinadas áreas, na prática transferidas para o controle de grupos de criminosos comuns.

O pioneiro dessa “política” foi José Vicente Rangel Ávalos, prefeito de Sucre, na Grande Caracas, segundo o levantamento da InSight Crime.

Membro da elite bolivariana, filho de um ex-vice-presidente de Chávez, está na lista de 19 figurões do governo feita pelo Canadá, acusando-os de “graves violações dos direitos humanos” e corrupção. Atenção, Canadá, um dos países mais meticulosos do mundo em matéria de relações exteriores.

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A retirada das forças de segurança de determinadas áreas é pregada por um conhecido campo político no Brasil. Um de seus mais frequentes argumentos é a falácia chamada de “genocídio do povo negro”, como se existissem batalhões de brancos matando pessoas com base na cor da pele.

Oficialmente, a política das “zonas de paz” na Venezuela foi cancelada. Todas continuam a ser, evidentemente, zonas de guerra.

5. Altos níveis de violência praticados por agentes estatais e não-estatais

De tão conhecido pelos brasileiros, este item praticamente dispensa explicações.

Numa de suas inúmeras farsas, Maduro lançou um programa de “operações de libertação do povo”, uma espécie de operação fantasia para combater o crime. Nem é preciso dizer o que aconteceu.

6. Exportação da criminalidade

Ao condenar à fome ou ao exílio seu próprio povo, o regime bolivariano criou legiões de pequenos contrabandistas de gasolina, mulas do tráfico de cocaína e envolvidos nas várias pontas da exploração sexual amplificada pela situação de necessidade.

Atualmente, cerca de cinco mil venezuelanos fogem do país por dia. Nesse ritmo, o número pode chegar a 1,8 milhão este ano – 5% da população do país.

As sucessivas ondas de refugiados dos milagres do socialismo do século XXI começaram com os empresários. Os que não quisessem ou conseguissem ser cooptados pelo companheiro Chávez foram simplesmente confiscados.

Depois foram os profissionais de alta qualificação, principalmente da indústria do petróleo. As classes médias com algum recurso vieram em seguida. As massas de desvalidos da hiperinflação, esfaimados mesmo com as bolsas-tudo, formam as atuais correntes humanas.

Alguns observadores acreditam que diversas camadas de bolivarianismo de raiz também já estão no mesmo caminho. Com ou sem reeleição, esta uma possibilidade inexistente, percebem que o madurismo é insustentável.

As figuras mais conhecidas estão na lista negra dos países onde historicamente os ladravazes latino-americanos procuravam estacionar o estilo de vida proporcionado por atividades ilegais, em especial a república de Miami.

Para onde irão? Onde encontrarão aliados no crime?

7. Acusações internacionais de amplo espectro de atividades criminosas

O último item da lista da InSight Crime parece quase uma formalidade. Mas reativa a urgência da questão do ponto de vista do Brasil.

De novo, onde irão se refugiar os bandidos de uma vizinhança na lonjura da selva amazônica?

Em todos os aspectos, o desastre produzido pelo chavismo na Venezuela epitomiza a desgraças latino-americanas.

Num amplo arco que vai da formação histórica de populações sem sentido de cidadania, propensas ao caudilhismo e seu companheiro de viagem, o clientelismo, até uma classe de intelectuais servis às mais delirantes teses neomarxistas, como se o original não fosse suficientemente ruim, a Venezuela bolivariana é o que nós poderíamos ser ou corremos o risco de nos transformar.

É possível também defender uma ideia oposta. Se Hugo Chávez tivesse sido acusado, investigado, julgado e condenado pelo regime intrinsecamente corrupto que criou, a catástrofe venezuelana teria sido em escala muito menor.

Mas isso nunca poderemos saber. A história real da América Latina é muito mais delirante do que a contrafactual.

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