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Por Vilma Gryzinski
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Em casos raciais nos EUA, até imagens podem não dizer tudo

Mas algumas, como o desenho que imita degolação do Estado Islâmico, são muito claras na incitação à violência

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h21 - Publicado em 10 jul 2016, 12h51
Rede antissocial: desenho não foi considerado violência gratuita

Rede antissocial: desenho não foi considerado violência gratuita

Em quem acreditar quando policiais americanos matam negros ou, em casos como o de Dallas, um cidadão negro mata policiais por vingança? As narrativas são tão divergentes que fatos, números, estatísticas e até imagens filmadas por celular, sobre as quais pareceria não existir qualquer dúvida  podem ser usadas para interpretações opostas.

Um desenho chocante, como o que reproduz uma decapitação praticada pelo Estado Islâmico, com um policial no lugar da vítima e um homem de rosto encoberto, com uma mochila com as cores da bandeira americana, no lugar do carrasco, circulou pelas redes sociais. Houve uma reclamação, mas o Facebook respondeu que a imagem não infringia os padrões vigentes sobre violência gratuita.

Se existe uma imagem sobre a qual não resta a menor dúvida é esta, inclusive por aproximar a barbárie do radicalismo político-religioso da nobre e justa causa da igualdade racial.

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Os números sobre homens negros detidos ou mortos por policiais não deveriam mentir, mas até o presidente Barack Obama está sujeito a narrativas conflitantes. “A proporção de de afro-americanos detidos é o dobro da de brancos”, disse Obama, falando a respeito dos dois casos mais recentes de morte que antecederam o assassinato de cinco policiais em Dallas.

Rebateu no New York Post o jornalista John R. Lott Jr: “Os homicídios cometidos por negros são proporcionalmente seis vezes maiores do que os praticados por brancos.”

As simpatias políticas de publicações e jornalistas criam mundos quase opostos. O Guardian, jornal que concentra o esquerdismo padrão na Inglaterra, calculou em 136 o número de negros americanos mortos pela policia só no primeiro semestre deste ano. O jornal tem um projeto específico para acompanhar este tipo de incidente.

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Questão encerrada? De jeito nenhum. Do outro lado do espectro politico, Heather Mac Donald, autora de um livro cujo título já diz a que veio – War on Cops, Guerra à Polícia -, considera que são colocados sob o mesmo denominador casos diferentes, desde homicídios injustificáveis até incidentes nos quais os policiais envolvidos são submetidos a todos os rigores da lei e nem sequer são levados a julgamento, por terem agido de acordo com os parâmetros legais.

Números?  Em Nova York, onde 23% da população é negra, diz a autora, “75% de todos os tiroteios, 70% dos assaltos e 66% dos crimes envolvendo violência” são cometidos por negros. É claro que a questão seguinte deve tratar da marginalização de uma faixa desproporcionalmente grande da população negra – e daí a discussão não acaba nunca.

O fato é que a narrativa dominante nos meios de comunicação é de uma “guerra aos negros”, tal como promovida pelo movimento Black Lives Matter (as vidas dos negros são importantes). Seus integrantes acreditam numa conspiração da supremacia branca contra a minoria negra.

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Os protestos de rua mais agressivos são convocados pelo movimento. Em Nova York, por exemplo, a palavra de ordem pregava a violência contra a polícia de uma maneira curiosa: “Pigs in blankets, fry’em in bacon” .  Pigs in blankets, ou porco no cobertor, é enroladinho de salsicha. Porco também é o xingamento mais comum contra policiais. Não é difícil imaginar o que signifique fritar porcos.

A complexidade de cada caso é ignorada ou só aparece depois que a versão predominante já foi estabelecida. A morte de Alton Sterling, em Baton Rouge, na Louisiana, filmada em dois ângulos diferentes, sob os quais parece um caso incontestável de uso abusivo da força.

Apresentado como um homem de 37 anos, pai amoroso de cinco filhos, Sterling tinha uma “história complexa”, como escreveu um jornal. O que quer dizer isso? Histórico criminal por assalto, agressão, sexo com menor abaixo da idade de consentimento (que engravidou).

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A polícia havia sido chamada depois que ele ameaçou um morador de rua com uma arma. Sterling vendia CDs na rua e já havia sido condenado por altercação com a polícia, caso em que também estava armado. Um personagem muito diferente de Philando Castile, morto a bala dentro do carro por um dos policiais que o havia parado por infração de trânsito. A namorada o filmou exalando os últimos suspiros, numa cena quase insuportável de ver.

As duas mortes provocaram comoção nacional e parecem ter sido o fator final para que Micah Johnson, ex-soldado do Exército convertido ao radicalismo racial, armasse a matança de cinco policiais durante um protesto em Dallas.

Johnson não era o veterano introspectivo, marceneiro de profissão, que havia passado uma temporada num dos piores lugares do Afeganistão, a base americana em Bagram. Acusado de assédio sexual, ele foi afastado do Exército. A mulher que o acusou disse que precisava de cuidados psiquiátricos.

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Os múltiplos estigmas da questão racial são evidentes. O passado de escravidão e de racismo institucionalizado no sul do país e as diferenças de condições de vida e de tratamento não podem ser, jamais, subestimadas. A politização extremada e a incitação à violência aumentam o nível de toxicidade social. O presidente Barack Obama às vezes se precipita, condenando em princípio como sinal de racismo incidentes que depois se mostram mais complexos.

Mas também são de Obama algumas das palavras mais equilibradas sobre os acontecimentos recentes. Depois de exaltar o trabalho da polícia, ele disse que “não existe contradição entre apoiar os agentes da lei” e exaltá-los quando protegem e se sacrificam pela população, e “reconhecer que existe um ônus em particular que é colocado sobre um grupo de cidadãos”, mais vulneráveis.

É difícil, mas não impossível conciliar as duas coisas. Considerar que a polícia sempre está errada, e até insuflar a violência, não ajuda. Da mesma maneira que achar que a polícia está sempre certa também obscurece o que é sempre mais elusivo nessas horas, os fatos.

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