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Ele fala e a direita dura ouve: um francês que até presidente sonha ser

Éric Zemmour não tem papas na língua quando trata, muito habilmente, de imigração muçulmana ou feminismo - e por isso tem 11% das intenções de voto

Por Vilma Gryzinski 22 set 2021, 08h05

Ele já foi chamado de “Trump francês” e mal comparado a Nigel Farage, o nada intelectual líder do Brexit, e ao guru bolsonarista Olavo de Carvalho. São comparações erradas. Éric Zemmour é muito melhor do que isso. 

Melhor no sentido de explicitar e criar um pensamento coerente que abarca e dá sentido intelectual, sem apelações grosseiras, a todo o novo populismo de direita.

A palavra “intelectual”, principalmente associada a um francês, pode dar a impressão de que ele fala difícil e usa uma linguagem inacessível. Zemmour, ao contrário, é o tipo de intelectual que não exige PhD para ser entendido.

“Populismo para mim é o grito de um povo que não quer morrer. O povo não quer ser dissolvido na globalização. Não quer ser controlado em sua casa por estrangeiros, quer decidir o seu destino. Quer defender sua identidade, seu modo de vida, ameaçados pela universalização do modo de vida americano e pela imigração”, definiu ele, com perfeita clareza, numa excelente entrevista feita por Juremir Machado da Silva, do Correio do Povo de Porto Alegre.

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Por causa do estilo contundente de Zemmour e da clareza com que enuncia ideias “proibidas”, tem gente que vai dormir mal de hoje para amanhã, esperando o debate que fará com Jean Luc Mélenchon, o líder do partido esquerdista A França Insubmissa, mais ou menos parecido com o PSOL brasileiro.

Zemmour provoca tanto desconforto que a própria existência do debate vem sendo contestada, como se o jornalista e escritor fosse um ser inominável que merecesse ser proscrito da sociedade civilizada. 

Até esquerdistas tradicionais estão criticando Mélenchon por ter concordado com o debate, um golpe de grande efeito meditático cujo valor o líder da França Insubmissa entende perfeitamente.

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O curioso é o furor que está causando um debate entre dois candidatos a presidente sem nenhuma chance na eleição do ano que vem.

Zemmour ainda não assumiu a candidatura, mas está claramente adorando aparecer nas pesquisas com até 11% das preferências. O avanço, obviamente, é sobre o eleitorado de Marine Le Pen, a herdeira da direita pura e dura, que tem mais cancha política, mas não o peso intelectual de Zemmour.

Ter a direita devorando a direita deveria deixar todo o espectro político oposto saltitando de alegria, mas Éric Zemmour é impalatável demais.

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Filho de judeus argelinos que foram para a França com a independência da Argélia, ele prega que os imigrantes, principalmente de países muçulmanos, devem abraçar integralmente a civilização francesa ou então voltar para seus países.

É, obviamente, uma impossibilidade – quem julgaria o grau de assimilação? Um novo tribunal da inquisição? Mas Zemmour sabe que muitos franceses ficam incomodados com imigrantes que usam trajes tradicionais mesmo depois de duas ou três gerações na França, rezam a Alá prostrados no meio da rua ou, muito mais gravemente, não condenam os neoislamistas que praticam atentados terroristas.

“Três milhões de italianos entraram na França entre 1870 e 1940. Um milhão ficou. Dois milhões retornaram. Eles queriam continuar italianos”, argumenta.

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“A partir de 1980, com o multiculturalismo, temos uma colonização invertida. O estrangeiro quer impor seu modo de vida. Viver como se estivesse no seu país, estando no estrangeiro, isso se chama colonização, Era o que faziam os franceses na Argélia ou os ingleses na Índia”.

Por causa de argumentos assim, altamente estilizados – ou manipulados -, Zemmour foi chamado de “apóstolo do racismo elegante” por John Lichfield no Politico europeu. O jornalista britânico reconhece que seus livros são “belamente escritos, em sentenças que dançam elegantemente” em torno de argumentos distorcidos.

Zemmour, que com suas grandes orelhas e olhos arregalados lembra o Golum de O Senhor dos Anéis,é sistematicamente processado por incitação ao racismo e já teve três condenações.

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Seu histórico de polemista pode ser resumido pelos títulos de seus livros. O Primeiro Sexo trata do que chama de desmasculinização dos homens franceses pelo feminismo. O Suicídio da França foca na imigração e, de modo geral, no declínio civilizacional – um tema cuja grandiosidade histórica não o intimida. O último traz um raio de esperança: A França Ainda não Teve a Última Palavra.

Seria, como especulam os inimigos, uma plataforma eleitoral?

Zemmour diz que vai decidir sobre a candidatura presidencial no prazo de um mês. Ou talvez o debate de amanhã traga uma surpresinha?

Não vão faltar espectadores – inclusive os envergonhados. Nem tiradas ferinas como as que diz envolvendo o presidente Emmanuel Macron e seus antecessores.

“Durante muito tempo achei que Macron era uma versão menos vulgar de Sarkozy. Finalmente entendi que ele é Hollande, só que mais bem vestido”.

Como ele perdeu seu lugar num programa do canal por assinatura CNews, por decisão do órgão regulador Conselho Superior de Audiovisual, sob o argumento de que poderia estar fazendo propaganda política em causa própria, aumentou a curiosidade sobre qual vai ser “a última do Zemmour”. Ou penúltima. 

Éric Zemmour ainda não teve a última palavra.

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