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Ela: quem manda e continuará mandando é Cristina Kirchner

Gestos de independência e de conciliação do presidente que assume amanhã não aliviam a realidade sobre quem é a dona do poder na Argentina

Por Vilma Gryzinski 9 dez 2019, 09h03

Quem não gostaria que a esperança vencesse a experiência na Argentina?

Quem não gostaria que Alberto Fernández se revelasse uma surpresa, um presidente peronista que criasse mesmo o prometido paraíso sobre a terra, ou pelo menos garantisse um churrasco eterno para todos?

Que renegociasse a dívida, controlasse os gastos públicos e produzisse um verdadeiro milagre argentino-keynesiano, sem arruinar o país, sem jogá-lo mais fundo ainda na condição de pária internacional, sem quebrar os cofres e sair cantando vitória?

Que os gestos de conciliação, como os vistos na missa compartilhada ontem com Mauricio Macri, fossem a marca de um governo disposto a romper o mesmo ciclo de sempre?

A resposta talvez se resuma a duas palavras: Cristina Kirchner.

A ex-presidente, suficientemente astuta para se colocar na falsamente humilde condição de vice, quer sangue.

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A vingança longamente planejada e que agora começa a ser docemente fruída foi anunciada por ela mesma.

“Perguntas vão ter que responder vocês”, disse, desafiadora, aos juízes que a enquadraram num dos tantos e tão escandalosos casos de corrupção que dispensam apresentações (esse especificamente é sobre direcionamento de verbas públicas para um empreiteiro amigo, imaginem só que surpresa).

Como uma versão feminina cármica de Fidel Castro, enrolou-se no poncho de vingadora desmascarada e anunciou: “A história me absolverá”.

Durante três horas, ela falou o que lhe deu na cabeça.

É o que continuará a fazer durante os próximos quatro anos.

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Vale repetir, uma frase Jorge Fernández Díaz, refinado analista do La Nación, que dispensa tradução por causa da força que tem no original em espanhol: “La jefa es la que puso los votos y es la presidenta”.

Javier Calvo, diretor de redação do Perfil, usou de uma metáfora para falar a mesma coisa: “Se ele é o dono da caneta presidencial, ela tem a tinta”..

Calvo acredita numa convivência entre criadora e criatura tanto por interesse mútuo quanto por exigência lógica.

“Custa crer seriamente que com os problemas excruciantes que tem a Argentina, Alberto e Cristina apostem de alguma maneira contra si mesmos: seja por convicção ou necessidade, têm chances de sobreviver se se entenderem, não se romperem.”

ESCOLA HARRY POTTER

Se a lógica fosse o fator predominante, obviamente não estaríamos falando da Argentina.

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Onde o o caso do embaixador do México, filmado afanando um livro na maravilhosa Ateneo, é o único assunto que compete com o novo governo e os prognósticos de ruptura entre os Dois Fernández – o sobrenome de solteira de Cristina, que sempre o usou, segundo a tradição herdada da Espanha, até ser mais conveniente assumir o Kirchner do marido.

O sorriso incontrolável debaixo do bigodão, compreensível para um político de bastidores como Alberto Fernández, que nunca, jamais, poderia sonha com a presidência, até ser ungido pelo dedazo de Cristina, não obscurece a realidade: o caminho para a Casa Rosada será feito, todos os dias, sobre cacos de vidro.

A “rachadinha” pactuada para a formação do novo governo, com cada uma das 248 correntes peronistas levando um ou mais ministérios e os cristinistas aceitando modestamente apenas o que mais interessa, já começa com uma forte garantia de fracasso.

Apesar da imagem de simpática juventude e de capacidade acadêmica, o novo ministro da Economia, Martín Guzmán, vive numa espécie de realidade paralela.

O outro nome disso é o programa de Reestruturação de Dívida da Universidade de Columbia, que ele dirigia como discípulo de Joseph Stiglitz.

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Nem o Nobel de Economia e os serviços prestados em países da Europa Orienta pós-comunista salvam Stiglitz das duas características que passaram a defini-lo: é o teórico “preferido” de Cristina Kirchner e do papa Francisco.

Os fernandistas – de Alberto – plantaram que o novo presidente inclinou-se, no último instante, pelas ideias de Guzmán, preterindo o candidato dado como certo, Guillermo Nielsen.

A principal ideia de Guzmán é que ele é heterodoxo. Propõe que a Argentina não pague o principal ou os juros da dívida até 2022, não peça mais empréstimos ao FMI, não faça o default e reative rapidamente a economia.

Isso será feito “colocando dinheiro no bolso do povo”. Tradução: aumento da bolsa família, das aposentadorias básicas, do salário mínimo.

Como fazer isso num país, mais uma vez, falido?

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Talvez Harry Potter tenha a resposta e Hogwarts tenha virado uma nova escola de economia,. Ou Stiglitz. Ou o papa.

Só não perguntem a Cristina Kirchner.

Ela está ocupada com assuntos mais importantes, como vingança, revanche, destruição dos inimigos.

Já transmitiu o dia-a-dia, ou o toma lá dá cá, para o filho Máximo Kirchner, mas não ficou alheia na hora de colocar um fiel colaborador, Carlos Zannini, como procurador do Tesouro.

Alberto Fernández disse que foi ideia dele e uma forma de compensação a Zannini “pelos 107 dias que passou detido injustamente”.

Zannini foi acusado de garantir a impunidade dos agentes iranianos responsabilizados pelo atentado contra a AMIA, a associação judaica atingida por um carro-bomba em 1994 – o caso que paira sobre a Argentina há um quarto de século.

“Eu sou um inocente que foi preso”, disse ele quando a justiça decretou sua libertação.

Onde foi mesmo que já ouvimos isso?

Ah, e adivinhem quem não foi à missa da conciliação onde Macri e Fernández se abraçaram, na basílica de Nossa Senhora de Lujan.

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