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Por Vilma Gryzinski
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É importante para o Brasil saber onde foi que Macri errou

O efeito da previsão de vitória peronista foi catastrófico para a Argentina, mas o presidente que seria uma alternativa racional acabou como mais do mesmo

Por Vilma Gryzinski 29 ago 2019, 18h08

Dólar a mais de 60 pesos, inflação a mais de 100%, risco país a mais de 2 200 pontos e “reperfilamento” da dívida externa, um jeito mais elegante de dizer que a Argentina não tem como pagar.

Vai dar calote. Não tem como pagar 101 bilhões de dólares, para o FMI e outros credores.

Quantas vezes isso já aconteceu antes? Nove.

Desvalorizações catastróficas?

O economista americano Steve H. Hanke enumerou os anos em que houve “colapsos importantes” do peso argentino: 1876, 1890, 1914, 1930, 1952, 1958, 1967, 1975, 1985, 1989, 2001 e 2018.

Nada surpreendentemente, muitos desses anos coincidem com governos naufragados, golpes de estado, presidentes em fuga ou entregando o mandato antes da hora, eleições que trouxeram um “salvador da pátria” que, obviamente, não salvou nada.

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Entre outras qualificações, Hanke dirige o autoexplicativo Projeto Moedas Problemáticas do Cato Institute.

Ele defende a dolarização, já que os argentinos a usam na prática, fugindo do peso na tentativa de sobreviver a cada derretimento da moeda, o abismo que devora tudo o que as pessoas têm e o que não têm também, inclusive a comida na mesa.

Desde que a chapa criada por Cristina Kirchner, com ela como candidata a vice e Alberto Fernández na cabeça, ganhou as eleições primárias por uma diferença considerada inalcançável, de 15 pontos, na eleição de outubro, o peso teve mais de 20% de desvalorização.

Num ciclo cruel, quanto mais a vitória peronista parece consagrada, pior fica a vida de Mauricio Macri. E do país inteiro, evidentemente.

O breve intervalo aberto pelo diálogo entre Macri e Fernández para estabilizar a crise, nada surpreendentemente, durou pouco.  Fatos são mais expressivos do que boas intenções, reais ou fingidas.

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Fernández e sua turma tentam não rir demais nem esfregar as mãos em público, mas está difícil.

Cristina Kirchner sumiu no meio da crise. Foi para Cuba, visitar a filha, Florencia, que tem uma doença devastadora: linfedema sem causa conhecida nas pernas.

A doença é mais conhecida pelos efeitos que causa em mulheres com câncer de mama que tiram os gânglios linfáticos e ficam expostas ao inchaço extremo do braço envolvido.

A relação entre mãe e filha sofreu com as investigações e as ações penais por corrupção, lavagem de dinheiro e outros conhecidos crimes do gênero, inclusive nos negócios da família.

Cristina e o filho e operador, Maximo Kirchner, são protegidos pela imunidade parlamentar dos mandados de prisão, Florencia não.

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Enquanto Alberto Fernández procura passar a imagem de moderado – comparativamente, claro – que não vai fazer loucuras na economia e quer que a loja chegue aberta até outubro, o pessoal de Maximo Kirchner toca o terror com protestos de rua.

Choque de “gradualismo”

A corrente liderada por Maximo se chama La Cámpora. Só isso já dá uma ideia dos choques internos que estão por vir.

Héctor Cámpora foi o mais conhecido poste da história da Argentina, eleito presidente em 1973 porque Juan Domingo Perón ainda estava proibido de se candidatar.

Cámpora, um dentista alinhado com uma das muitas correntes esquerdistas da peronismo, renunciou em um mês e meio.

Em menos de dois anos, sucederam-se os seguintes fatos: Perón voltou, foi eleito presidente, morreu, sua mulher e vice assumiu, esquerdistas e direitistas (estes sob controle do guru do casal) começaram a se matar nas ruas. Em 24 de março de 1976, os militares deram o golpe.

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Com todo o histórico de catástrofes desencadeadas por dirigentes peronistas, é importante tentar entender, na crise atual, o que é herança do passado, o que foi açulado pelo prognóstico de vitória de Fernández-Kirchner e o que pode ser colocado na conta de Macri.

A derrota tem muitos culpados. As críticas, pela direita, ao presidente são, agora, praticamente unânimes: não fez o que tinha que fazer, não procurou equilibrar o déficit público, não aplicou os remédios liberais clássicos.

Ficou preso no “imobilismo reformista” ou no “gradualismo”, duas designações comportadas. Fazer mais do mesmo prendeu seu governo numa armadilha.

O economista espanhol Juan Rallo resumiu implacavelmente as etapas do percurso perdedor de Macri.

Primeiro, levantou o controle cambial sem tocar no déficit público, com o resultado de acelerar a desvalorização da moeda e a inflação herdada do cristinismo, já alta, embora maquiada.

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Depois, voltou a buscar financiamento nos mercados globais, ajudado pela imagem positiva, racional e afinada com a realidade.

Imagem ajuda, mas não paga contas. O pedido de ajuda ao FMI incentivou a deterioração dos prognósticos sobre a capacidade argentina de se manter acima da linha d’água.

“Inflação alta, depreciação cambial e recessão econômica foram as ‘medalhas’ com que Macri disputou as eleições: uma combinação perfeita para perder frente à oposição peronista”, descreveu Juan Rallo.

“Teve a oportunidade de desmontar a estrutura clientelista-peronista, vai embora com o rabo entre as pernas devido ao fracasso de sua política econômica.”

Claro que, pelo ângulo crítico da esquerda, Macri foi “neoliberal”.

É profundamente doloroso ver a Argentina afundar em outra crise.

E ainda por cima com Mauricio Macri, um multimilionário que, obviamente, queria fazer o melhor, romper o quebranto histórico que amarra nossos países, ser reeleito, se não da forma inebriante da primeira vez, pelo menos como garantia de que a história não vai ficar se repetindo.

Macri tem conhecimento dos fatos essenciais, trânsito nas elites globais e o respeito de muitos argentinos.

Se não deu certo, quais as chances de outros?

Sensibilizado, Macri chorou de novo quando uma manifestação de improviso o levou, de noite e sem microfones, ao balcão da Casa Rosada, ao lado da mulher linda e chiquérrima.

“Não voltarão” e “Cristina presa”, gritava a multidão.

Adivinhem quem está planejando que a vingança será maligna.

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