Coronavírus: quando o bloco chinês não sai, o mundo sofre
A doença respiratória mostra na prática a importância e o tamanho da China, com cálculos mais extremos projetando custo do vírus em um trilhão de dólares
A notícia boa primeiro: o número de infectados pelo coronavírus na China está caindo diariamente desde meados de fevereiro.
A notícia ruim é todo o resto, principalmente sobre os efeitos econômicos da doença.
Como as projeções feitas pelos infectologistas, as dos economistas têm que cobrir a pior da hipóteses.
E a pior delas calculou o custo de uma pandemia de coronavírus em 1,1 trilhão de dólares para a economia mundial. Ou seja, um ser que nem sequer chega a ter células consumiria praticamente a metade do PIB do Brasil.
O prognóstico é do grupo Oxford Economics e é de dar um frio nas espinhas mundiais.
Segundo ele, o crescimento anual da China, o motor que mantém o mundo rugindo mesmo quando tudo mais vai devagar, seria de apenas 5,4%.
Em termos mundiais, com o corona ultrapassando as fronteiras da Ásia, o PIB mundial teria uma perda de 1,3%.
Esse mundo com o bloco chinês devagar, quase parando, já aparece em dados impressionantes. A venda de automóveis caiu 92% na China. A maioria das concessionárias nem abriu nas primeiras semanas de fevereiro.
O país é o maior mercado mundial de carros.
Como o mundo funciona como uma linha global de montagem, a falta de autopeças produzidas na China – para não falar em clientes – passa pela Coreia do Sul, bate na Europa e segue em ondas pelo planeta.
Um único caso, evidentemente, fecha de novo fábricas reabertas depois do feriadão prolongado pela epidemia.
De IPhones a carros com as marcas Jaguar Land Rover, a produção se contrai e pode simplesmente parar em questão de poucas semanas se a “fábrica do mundo” não retomar o ritmo.
A Hyundai deu folga aos 25 mil funcionários e a Coreia do Sul já está oficialmente em estado de emergência econômica.
Os genéricos da Índia, o maior centro mundial, dependem em 70% de componentes importados da China. Nos Estados Unidos, 97% dos antibióticos têm algum elo chinês.
Tudo o que implica em locomoção sai-se mal num momento em que a ideia é se movimentar o menos possível.
Quem está dentro, não pode sair; quem está fora, não quer entrar de jeito nenhum.
Turismo e viagens a trabalho, dentro e fora da China, levaram e continuam levando um baque.
Com vinte empresas aéreas com voos suspensos para a China, o prejuízo anual da indústria foi calculado em 29 bilhões de dólares.
Os efeitos psicológicos também pesam. Depois do cruzeiro do inferno, o navio de turismo atolado no Japão que virou uma verdadeira e desnecessária experiência de transmissão em alta velocidade, quem entra com tranquilidade numa viagem marítima, mesmo que muito longe dos polos de irradiação?
“Um experimento cruel com humanos”, foi como o diretor do Centro de Doenças Infecciosas de Minnesota, Michael Osterholm, qualificou a saga do Diamond Princess. “Manter as pessoas isoladas dentro do navio não é a resposta, mas sim tirá-las de lá o mais rápido possível”.
Das 3 700 pessoas a bordo, mais de 650 foram infectadas. Duas morreram: um homem de 87 anos e uma mulher de 84. Ambos japoneses.
A letalidade do vírus continua a ser comparativamente baixa, em torno de 2%. Mas salta para 15% entre pessoas com mais de 80 anos.
Com a taxa de 2%, o cálculo é de 50 infectados por morte. Por isso, os números baixos de vítimas fora da China são motivo de preocupação, principalmente em países africanos.
Um único caso, como o registrado até agora, pode ter o efeito cascata mais temido pelos especialistas.
Como a China praticamente “comprou” a África, o trânsito de pessoas é alto. As condições sanitárias precárias fariam a epidemia na China parecer brincadeira.
O início explosivo da epidemia em Wuhan, por motivos que ainda estão sendo estudados ou talvez nunca sejam adequadamente explicados, mas os indícios são de que o pior dos piores está chegando ao fim do começo.
Quanto ao resto do mundo, ainda não dá para cravar. Inclusive se vai virar uma pandemia, com a expansão do coronavírus por mais de dois continentes.
Mas já está garantido que, quando a China pega pneumonia, a economia mundial espirra, tosse e fica com febre, mesmo sem nenhum corona por perto.
E ainda pode ficar sem paracetamol e antibióticos.