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Boris vai ter que dar o que a base do partido quer: B-r-e-x-i-t

Torpedeado pelo establishment de onde veio e com o qual rompeu ao fazer a campanha pelo Brexit, Boris Johnson tem que entregar o que prometeu: mas como?

Por Vilma Gryzinski 20 jun 2019, 15h14

Dá para confiar num político que larga a mãe de seus filhos (pelo menos, dos contabilizados), vai morar com uma loira mais nova que o chama de “Bozzie Bear” e garante que conseguirá em apenas três meses negociar uma nova saída da União Europeia?

A maioria dos 160 mil eleitores que são membros de carteirinha do Partido Conservador – basta se registrar, garantir que compartilha os ideais atualmente conflitantes da sigla e pagar 25 libras por ano – está disposta a apostar que sim.

No dia 25 de julho, eles vão votar nos dois finalistas da disputa pela liderança do partido pelo voto dos representantes na Câmara. E vão votar com raiva, preferencialmente, segundo as pesquisas, em Boris Johnson.

Seu rival, Jeremy Hunt, atual ministro das Relações Exteriores, tem um problema de base: era contra o Brexit e fez campanha contra antes do referendo. Diz que mudou de opinião depois, por causa da arrogância da União Europeia nas negociações, mas muitos conservadores desconfiam.

Com muito mais pinta de estadista, o chanceler – nome completo Jeremy Richard Streynsham Hunt – é o predileto dos parlamentares que sonham em dar um jeito de não sair da União Europeia. Na rodada final, antes da eleição direta, teve o apoio de 77 colegas, contra 160 para Boris.

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Foram justamente as sucessivas traições dos políticos conservadores, a começar pela primeira-ministra Theresa May – acreditem, ela continua no cargo interinamente, enquanto aguarda o novo líder -, sempre tentando não cumprir ou arranjar uma versão pálida para o resultado do referendo no qual ganhou a opção pelo Brexit, que levaram muitos da base do partido a radicalizar.

A pesquisa mais recente e confiável mostra resultados quase inacreditáveis. Ao todo, 61% dos eleitores conservadores estariam dispostos a ver a economia sofrer “danos significativos” se for este o preço do Brexit.

Até o sagrado Reino Unido poderia ir pelo ralo para esses eleitores revoltados. Se a Escócia quiser sair da união por causa do Brexit? Tudo bem para 61%. A Irlanda do Norte? Que se vá, dizem 59%.

Detalhe: o nome completo é Partido Conservador e Unionista. Ou seja, pela união do Reino Unido da Grã-Bretanha (Inglaterra, País de Gales e Escócia) e da Irlanda do Norte.

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Para manter a união, sob hegemonia da Inglaterra, o país dominante (55 milhões dos 65 milhões de habitantes do reino unificado na ponta da espada) muito sangue rolou e não foi só no passado longínquo.

A República da Irlanda, que fica na ilha vizinha à da Grã-Bretanha, só se tornou independente, na marra, em 1919. Na ponta norte, onde havia uma maioria protestante até hoje chamada de unionista (justamente por querer continuar a fazer parte do Reino Unido), o conflito armado protagonizado pelo IRA, composto por militantes católicos e independentistas, posteriormente transformados em fanáticos esquerdistas, acabou somente em 1998.

O candidato mais cotado, que também tem um daqueles incríveis nomes da elite britânica – Alexander Boris de Pfeffel Johnson -, rompeu com as origens firmemente fincadas no establishment, quando se tornou praticamente um cavaleiro solitária na campanha pelo Brexit.

Tinha a seu lado apenas Michael Gove, o companheiro que o traiu, esfaqueando-o pela frente durante a disputa semelhante à atual que aconteceu depois do Brexit, quando o primeiro-ministro David Cameron teve que renunciar, acachapado pelo resultado do plebiscito que havia convocado com a certeza de que nunca, jamais o Brexit ganharia.

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Em consequência da punhalada fatal, Boris saiu da disputa e Theresa May acabou sendo a vencedora. Na época, passava uma imagem de estabilidade, credibilidade e empenho em cumprir ao pé da letra a decisão da maioria. Deu no que deu.

Boris, como é universalmente conhecido, com a eventual alternativa de BoJo, misturou a origem puro sangue com a vertente populista demonstrada quando foi prefeito de Londres.

Como aluno do curso para a formação de ministros de Harvard, o famoso PPE – filosofia, política e economia -, fala grego e latim, vive descabelado, tem dentes mal cuidados e uma vida amorosa agitada.

O namoro com a loira mais nova, Carrie Symonds, que era relações públicas do partido, é o último capítulo dessa parte nada oculta da biografia dele. Se for eleito líder do partido e, consequentemente, primeiro-ministro, pelo sistema parlamentarista, não terá tempo de se divorciar e casar com Carrie de forma a que ela participe de cerimônias oficiais ao lado da rainha.

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É um dos menores problemas de Boris. Como ele conseguirá um novo acordo com a União Europeia, uma possibilidade repetidamente recusada pelos líderes europeus? E como irá para a alternativa, o Brexit puro e duro, sem acordo nenhum, se a maioria do parlamento não aceita isso de jeito nenhum? Sem falar dos grandes riscos de desorganização econômica?

Detonar o Brexit vai se tornando uma possibilidade cada vez mais distante para seus opositores. Na falta disso, detonam Boris.

Um exemplo flagrante disso foi o debate promovido pela BBC, quando ainda havia cinco candidatos.

Para sabotar Boris Johnson, a BBC cometeu erros éticos e jornalísticos inacreditáveis. Entre eles, trouxe um líder muçulmano para contestar a atitude de Boris quando, com sua língua solta, comparou as mulheres que usam burka a caixas de correio (num artigo defendendo o direito de todos a se vestir como quiserem).

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“As palavras têm consequências?”, indagou o imã Abdullah Patel.

Em poucos minutos, a ficha do bondoso imã foi levantada, incluindo tuítes nos quais diz que os “sionistas” praticam o equivalente ao holocausto em Gaza e que as mulheres em geral não seriam estupradas se não frequentassem bares e não ficassem sozinhas com homens.

Sem contar que é partidário ardoroso de Jeremy Corbyn, o líder trabalhista mais esquerdista de todos os tempos.

Outra “pessoa do público” levada pela BBC para fazer uma pergunta a Boris não só é corbinista como funcionário do Partido Trabalhista.

A BBC disse que não sabia.

Estão pensando que jornalistas empenhados em fazer armadilhas para figuras políticas por motivos puramente ideológicos são exclusividade dos países baixos dos trópicos?

O Ursão Bozzie vai ter que se cuidar.

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