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Por Vilma Gryzinski
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Assassinato cirúrgico pode?

O contexto faz uma tremenda diferença

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 dez 2020, 08h50 - Publicado em 4 dez 2020, 06h00

Quem tem o direito de mandar matar um inimigo em outro país em nome da segurança nacional? Em princípio, se as regras da ONU fossem seguidas ao pé da letra, ninguém. O artigo 51 da Carta da ONU foi traçado na época das guerras convencionais e permite apenas atos de autodefesa até que o Conselho de Segurança se reúna e intervenha em caso de conflito entre duas nações. Nada de assassinatos cirúrgicos, uma tática que se tornou padrão na guerra assimétrica contra organizações terroristas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico.

É também um recurso usado sistematicamente, embora de maneira contida, em termos relativos, por Israel, em geral contra líderes do Hamas e do Hezbollah. O assunto voltou espetacularmente à cena com o assassinato do cientista-chefe que tocou o projeto nuclear secreto do Irã, Mohsen Fakhrizadeh. Ele foi emboscado numa estrada por dois utilitários cheios de comandos especiais que neutralizaram os seguranças e chegaram a tirar o físico nuclear de seu carro para ter certeza, via rajada de balas, de que a missão estava cumprida — a versão de que foi tudo feito por veículos e armamentos manejados remotamente é muito fantasiosa até para os padrões do Mossad.

Qual a diferença entre a morte de Fakhrizadeh e os atentados praticados por agentes do regime iraniano? Tecnicamente, nenhuma. Mas entra aí o contexto — e faz uma tremenda diferença. O Irã representa uma ameaça existencial a Israel de uma forma que não tem a contrapartida oposta. Israel não ameaça varrer o Irã do mapa e nem provê dinheiro, armas e ideologia a organizações poderosas como o Hezbollah, hoje a força político-militar dominante no Líbano, cuja própria razão de ser é a destruição de Israel.

“O Irã representa uma ameaça existencial a Israel de uma forma sem a contrapartida oposta”

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O Oriente Médio não é um ambiente que dê espaço a ingênuos, e Israel sabe muito bem que a eliminação de Fakhrizadeh, já aposentado, não muda em nada o programa nuclear iraniano, sempre a uma curta distância de transitar para a bomba atômica. A tática foi usada na última década, combinando assassinatos cirúrgicos contra cientistas nucleares e ataques cibernéticos com o vírus Stuxnet, conseguindo no máximo atrasar o projeto. Talvez o aspecto mais relevante do assassinato do físico iraniano tenha sido o timing: na transição do governo de Donald Trump para o de Joe Biden, com a certeza de que o novo presidente será muito mais condescendente com o Irã e menos flexível com Israel. Estaria Benjamin Netanyahu tentando criar um fato consumado, uma reação armada iraniana que explodisse no colo de Biden antes mesmo de sua posse? Os iranianos não seriam bobos de cair nesse tipo de armadilha. Todos os envolvidos entendem que haverá retaliação, mas não aleatória ou irracional. Aliás, no acerto de contas do Irã, ocupa o primeiríssimo lugar o poderoso general Qassem Soleimani, explodido num bombardeio cirúrgico feito por drones americanos no aeroporto de Bagdá. A eliminação de Soleimani, que tinha o sangue de americanos nas mãos, não provocou o tipo de conflito generalizado sobre o qual se voltou a falar agora, mas com certeza será vingada. O direito de matar, legítima ou ilegitimamente, sempre vem com a etiqueta de preço.

Publicado em VEJA de 9 de dezembro de 2020, edição nº 2716

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