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A última de Andrew, príncipe desencantado: sexo? Não, pizza

Enrolado no caso Epstein, o milionário tarado que se suicidou na cadeia, filho pouco brilhante da rainha se afunda mais em explicações catastrófica

Por Vilma Gryzinski 19 nov 2019, 07h41

“O príncipe Andrew não é uma má pessoa, só não é lá muito inteligente.”

Dita por qualquer um, a frase já seria uma sentença de fuzilamento. Pior ainda quando seu autor foi porta-voz do Palácio de Buckingham como o veteraníssimo Dickie Arbiter, hoje comentarista sobre assuntos de realeza.

E temas para comentar não faltam.

Com o reino à beira de uma eleição existencial como a do próximo 12 de dezembro, a realeza está comprovando, mais uma vez, seu valor como fonte de entretenimento e, em vários aspectos, de obsessão nacional.

Os dois assuntos do momento, com Harry e Meghan temporariamente silenciosos, são as críticas a Olivia Colman no papel da rainha Elizabeth na nova temporada da série The Crown.

Adorada pelos especialistas, a atriz é muito, muito impopular entre o povão. É claro que todo mundo assiste, nem que seja para falar mal.

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Mas é difícil, nesses dias, encontrar alguém mais impopular do que Andrew.

Protegido pela mãe, indisposto com o irmão mais velho e futuro rei, avaliado como “afável, porém com uma reputação de arrogante e sem bom senso”, segundo o implacável Dickie Arbiter, Andrew desrespeitou espetacularmente a primeira lei dos buracos: quem está em um, tem que parar de cavar.

O buraco do príncipe não parou de aumentar desde que o escândalo de Jeffrey Epstein estourou de novo, com a prisão seguida de um estranho suicídio, em agosto deste ano, do milionário americano com tara por adolescentes.

Amigo e frequentador das mansões do milionário, Andrew ficou mais exposto do que nunca pelas acusações de Virginia Roberts.

Ela diz que, na época com 17 anos e a “favorita” do harém de Epstein, foi oferecida três vezes para fazer sexo com o príncipe – uma delas em grupo, com modelos russas como co-participantes.

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O suicídio quase inacreditável de Epstein projetou Virginia em infindáveis entrevistas de televisão virou um tormento para Andrew.

Veio então, provavelmente dele, a ideia de dar uma entrevista excepcional, em pleno Palácio de Buckingham, para uma jornalista que não faz acordos de bastidores sobre perguntas combinadas.

Péssima ideia.

O resultado já foi classificado como “o maior desastre de relações públicas” da história da realeza. Um exagero. Quando Charles, primeiro, e logo depois Diana, deram entrevistas rivais, falando sobre infidelidades mútuas, ressentimentos idem e outras intimidades, o desastre foi muito maior.

‘Não transpiro’

Sem capacidade de abalar a realeza, por sua posição secundária na linha de sucessão – hoje, está em oitavo lugar, atrás do irmão, dos sobrinhos príncipes e dos respectivos filhos -, Andrew apenas fez um papel ridículo.

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Fora as mentiras, puras e simples.

Com a testa franzida e os olhos piscando aceleradamente, ele ainda usou outra expressão dolorosamente típica dos mentirosos orientados por advogados.

“Não me lembro de ter conhecido esta senhora”, respondeu sobre Virginia Roberts.

Evocou Bill Clinton e suas escapulidas verbais sobre o caso com Monica Lewinsky. Clinton, sem nenhuma coincidência, era outro amigo de Epstein.

Todo mundo sabe que dizer “não me lembro” é um recurso para escapar da acusação de perjúrio quando aparece a prova.

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No caso de Andrew, a prova já existe: uma foto dele com Virginia e Ghislaine Maxwell, a amiga inglesa que o apresentou a Jeffrey Epstein.

Ghislaine era namorada dele, transformada em acompanhante pública, cúmplice e agenciadora de menores para o milionário americano e sua rede de amigos importantíssimos.

Virginia Roberts diz que foi este o papel dela quando a levou para conhecer Andrew em Londres. Com a recomendação específica de “fazer por ele a mesma coisa que fazia para Jeff”.

Os dois saíram, indo a uma casa noturna onde Andrew ofereceu drinques a ela, dançou agarrado e transpirou muito. Na volta, tomaram banho de banheira na casa de Ghislaine e fizeram sexo.

Qual a resposta do príncipe?

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Ele não bebe, não faz “demonstrações públicas” de afeto e não transpira.

Como? Sofre ou sofria de um transtorno transpiratório provocado quando ficou sob ataque na Guerra das Malvinas, onde serviu como piloto da Marinha – fato ao qual se referiu três vezes, com a óbvia intenção de ressaltar seu papel heroico.

Nenhum especialista tinha ouvido falar em ausência de suor, ou anidrose, causada por stress traumático ou, como disse o príncipe, “descarga de adrenalina”.

E claro que nenhum descartou a possibilidade de uma origem psicossomática para o problema.

E é claro que os tabloides demoraram uns cinco minutos para achar fotos de Andrew na balada, agarrado com várias beldades e com aparência de quem estava suando. Muito.

Uma delas, estava lambendo Andrew, já livre e solto desde o divórcio com Sarah.

Mais absurdo do que dizer que não transpira foi a resposta de Andrews sobre a noite em que supostamente saiu com Virginia Roberts, 10 de março de 2001.

Incrivelmente, o príncipe disse que se lembrava daquela noite. As filhas, Beatrice e Eugenie, estavam com ele. E Andrew foi levar Beatrice para uma festa de aniversário no Pizza Express, uma rede de fast food, em Woking.

Que ser humano se lembraria da data tão exata de um acontecimento tão banal?

Com esnobismo que a rainha, seu irmão Charles e o clã de William sempre se esforçam para não deixar transparecer, Andrew respondeu que era “muito, muito incomum” para ele ir num lugar tão bizarro, frequentado pela massa. Por isso se lembrava.

Pizza do príncipe

Deus salve a rainha, coitada, tendo que lidar aos 93 anos com um neto querido que se transformou em guerreiro ambiental, através do casamento com a atriz americana que se declarou infeliz com a posição na família real, e um filho também muito querido, talvez o predileto, capaz de achar que “esclareceria” tudo com a entrevista desastrosa.

Harry e Meghan estão fazendo até desaforos para a avó, um ícone mundial de dignidade, comportamento impecável e bico calado sobre qualquer sentimento particular.

A última foi recusar outro convite da rainha, dessa vez para passar o Natal de Sandringham, onde ela gosta de reunir filhos, netos, bisnetos, tios, primos e todo mundo mais da família real.

É um bocado de gente. Uma das ideias do príncipe Charles é “enxugar” a família real para diminuir a imagem de um bando de gente que usa roupas esquisitas e vive às custas do erário.

A sacada de Buckingham, onde os membros da família aparecem em ocasiões festivas, ficaria bem menos lotada.

Muitas iniciativa já foram tomadas. Mas Andrew, por exemplo, continua a ser um “working real”, membro da ativa da família real, recebendo para isso.

Ele também promove as filhas e vive dizendo que elas são as únicas “princesas de sangue” da geração mais jovem, ou seja, descendentes da rainha e de toda a linhagem real, por nascimento e não casamento.

É uma expressão de esnobismo insuportável até pelos padrões da realeza, especialmente da rainha, “uma dama muito modesta”, segundo sua estilista, camareira e amiga, Angela Kelly.

A filha de estivador que se tornou íntima da rainha, com uma relação de amizade profunda – com o devido respeito – escreveu um livro em que conta, discretamente, episódios da vida de Elizabeth.

Entre outras coisas, a rainha gosta de um desconto e adorou quando Angela conseguiu a devolução de imposto, prevista para estrangeiros, na compra de sedas para o guarda-roupa real durante viagem a Singapura.

Para o livro da amiga, Elizabeth também posou com as mãos nos quadris, imitando o clássico movimento das modelos, abrindo um sorriso do tipo que geralmente só mostra em público quando está perto de seus cavalos.

Embora tenha feito chegar a informação de que não assiste a série The Crown, a rainha sabe que a nova temporada começa com o escândalo criado por Anthony Blunt.

Ex-agente do serviço de espionagem MI5 e ex-especialista em história da arte que havia trabalhado como Supervisor de Quadros da rainha, ele confessou em 1979, diante do inevitável, que havia espionado para a União Soviética durante a guerra.

Era um dos “Cinco de Cambridge”, intelectuais e acadêmicos que colaboravam com o stalinismo por simpatia pelo comunismo.

Quase inacreditavelmente, o mais conhecido simpatizante comunista do reino é hoje Jeremy Corbyn, o líder do Partido Trabalhista que vai às urnas contra os conservadores em menos de um mês.

Entre outras loucuras, ele prometeu nacionalizar o setor de banda larga da BT, a grande empresa de telefonia, para dar wi-fi de graça para o povo.

Custo calculado pela empresa: 100 bilhões de libras. Fora os prejuízos incalculáveis para o ambiente de negócios em geral.

Todo mundo sabe o que significa “de graça”: em pouco tempo, o serviço iria para o buraco.

A eleição do dia 12 é definida pelo Brexit, o assunto mais urgente e existencial. Mas a ideia de que um bolivariano à la inglesa, que já foi acusado por um espião checo do tempo do comunismo de receber remuneração secreta, possa, potencialmente, ser primeiro-ministro é além de inacreditável.

Ainda bem que existem bobões como Andrew para distrair as atenções de temas de vida ou morte.

E, ainda por cima, impulsionar a economia: a unidade de Woking, cidade emendada em Londres, do Pizza Express está bombando. Muita gente quer comer a “pizza do príncipe”.

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