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David Levithan e a revolução da literatura infantojuvenil LGBT

Autor de ‘Todo Dia’ e convidado da Bienal fala a VEJA sobre trajetória e o ‘filão gay’: ‘Estamos apenas começando este desafio’

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 ago 2018, 12h31 - Publicado em 3 ago 2018, 11h16

O boom da literatura infantojuvenil da última década, que deu verniz a nomes como John Green (A Culpa É das Estrelas) e Suzanne Collins (Jogos Vorazes), não teria sido completo sem a presença do americano David Levithan. Se Green fez chorar com dramas adolescentes, e Suzanne adicionou aos vocabulários de seu público a palavra distopia, Levithan foi o responsável por abrir espaço para jovens protagonistas gays, que finalmente deixavam de ser o alvo de tramas violentas ou vertidas de preconceito, para ilustrarem romances leves e divertidos. Sua prosa conquistou com Garoto Encontra Garoto, primeiro livro, de 2003, e se aprimorou com o best-seller Todo Dia, de 2012 – todos publicados no Brasil pela editora Galera Record.

Em Todo Dia, que ganhou uma adaptação cinematográfica de mesmo nome, em cartaz no Brasil, uma consciência autobatizada de “A” troca de corpos todos os dias. A cada capítulo, Levithan explora questões que vão desde sexualidade fluida até depressão e vícios, passando pelas alegrias e agruras do primeiro amor. O bom resultado do livro em vendas fez com que a história continuasse numa trilogia. O segundo título, Outro Dia, mostra a versão de Rhiannon, jovem por quem A se apaixona após passar um dia no corpo do namorado dela. Em outubro deste ano, Levithan lança Someday, capítulo que explora mais a fundo a relação do casal e de outra consciência parecida com A.

Atração da Bienal do Livro em São Paulo, no sábado, dia 11, o escritor falou a VEJA sobre a carreira, a adaptação para o cinema e a importância de filmes, livros e séries adolescentes que conversem com o públicos LGBT. Confira:

 

Qual o maior desafio de escrever sob o ponto de vista de alguém que, fisicamente, muda todo dia? Somos tão definidos pelos nossos corpos – nossa aparência, como as pessoas nos enxergam – que foi um desafio para mim dar um passo para fora desse conceito e imaginar alguém que não pode ser definido assim. Alguém que simplesmente existe.

As discussões sobre os conceitos de sexualidade fluida e identidade sexual cresceram nos últimos anos. Estes temas já estavam na sua mente na época que escreveu o livro? Esses conceitos fizeram sim parte da minha inspiração na hora de escrever o livro. E deu certo, pois é o que mais se discute sobre o livro, o fato de A não ser nem masculino nem feminino (ou é feminino e masculino ao mesmo tempo, dependendo da interpretação). Honestamente não me lembro quando foi a primeira vez que aprendi sobre o conceito de gênero não-binário, mas posso dizer que apenas senti de verdade como funciona a ideia quando passei a ter amigos não-binários e trans, e depois que escrevi o livro pelos olhos de A.

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Como a ideia do livro surgiu? Estava a caminho do trabalho, e por alguma razão imaginei como seria ter um corpo diferente todo dia. Eu peguei esse conceito básico e construí a trama a partir dai.

Você começou um movimento específico ao escrever livros jovens com protagonistas gays. Muito mudou desde seu primeiro livro, em 2003. Como enxerga esse processo hoje? Muitas coisas mudaram, com certeza. Agora não se questiona mais se devem existir livros infantojuvenis para homossexuais — até porque a resposta é um enfático sim. A questão agora é de como vamos representar o maior número possível de integrantes da sigla LGBTQIA+. Estamos apenas começando este desafio.

Qual corpo habitado por A foi o seu favorito na hora de escrever? Acho que o dia em que A passa no corpo de Kelsea provavelmente foi o que mais me marcou, por causa do drama que ela luta contra [a personagem sofre de depressão e planeja se matar]. E também pela resposta positiva que tive dos leitores que passaram por algo parecido como ela.

Não se questiona mais se devem existir livros infantojuvenis para homossexuais — a resposta é um enfático sim. A questão agora é de como vamos representar o maior número possível de integrantes da sigla LGBTQIA+

David Levithan

O livro Todo Dia é narrado por A. Enquanto o filme dá mais destaque para Rhiannon. O que achou dessa inversão de protagonistas e da adaptação como um todo? Eu amei a maneira como adaptaram o filme. Para mim, era essencial que A fosse interpretado por diferentes atores, um por dia. Fazendo isso, Rhiannon se torna a protagonista, pois ela é o elemento constante na tela. Para mim, o roteirista Jesse Andrews e o diretor Michael Suzcy lidaram com essa situação de uma maneira muito bonita.

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Você participou do processo de produção do roteiro?  Sou amigo de Jesse, então ele me envolveu em algumas partes enquanto escrevia o roteiro. Mas, honestamente, todos os aplausos são para ele e para o diretor. Eu só mereço o crédito de ter oferecido o material fonte.

Olhando para trás, era claro que eu gostava de garotos. Mas como não havia na época livros sobre o assunto, e muito menos séries de TV como ‘Glee’ ou filmes como ‘Com Amor, Simon’ nos cinemas, eu não consegui compreender minha própria identidade.

David Levithan

É comum não só nas religiões cristãs o conceito de espíritos, especialmente do mal, possuírem corpos. No livro, um rapaz acredita ter sido possuído pelo diabo após ter A em seu corpo. Se preocupou em algum momento que seu livro fosse rechaçado por essa possível associação religiosa? Em determinado momento do livro, A fala: “eu não sou o diabo”. Eu quis deixar claro que o que A faz poderia ser visto como uma possessão – por isso mesmo também quis que ficasse claro que A é algo totalmente diferente de um espírito do mal. Mas preciso dizer, contudo, que no próximo livro, Someday, o personagem X vai tornar toda a história bem mais complicada.

Li em uma entrevista que se você fosse um adolescente nos dias de hoje, teria entendido antes sua orientação sexual. É por isso que escreve livros voltados para o público jovem? Olhando para trás agora, era claro que eu gostava de garotos. Mas como não havia na época tantos livros sobre o assunto, e muito menos séries de TV como Glee ou filmes como Com Amor, Simon nos cinemas, eu não consegui compreender minha própria identidade. Minha única referência de gays era de homens adultos, não adolescentes. Foi só na faculdade que eu me descobri de verdade. Mesmo assim, não acho que os livros que eu escrevo hoje são uma resposta para meu tempo como adolescente. Eu não tinha consciência de ser gay, mas eu era bastante feliz. Vejo meu trabalho mais como um presente para outros adolescentes e para adultos que eu sei que não tiveram uma adolescência feliz, ou que foram impedidos de serem quem eles gostariam de ser.

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