O filósofo, psiquiatra e professor italiano Mauro Maldonato apresentou seu livro Passagens de Tempo para um Salão de Ideias cheio e receptivo na Bienal do Livro de São Paulo, no começo da noite desta sexta-feira. O médico falou como o tempo é sempre uma ferida e uma interrogação, com intervenções bem-humoradas do professor Mario Sergio Cortella, numa tarde marcada pela filosofia (leia mais abaixo).
O livro de Maldonato expõe, em doze capítulos, temas que relacionam o tempo e o homem: a esperança, a lembrança, a espera. Para ele, só o tempo que está encarnado no homem pode ser percebido e entendido. “O tempo todo, nós temos a sensação de estarmos atrasados”, disse, acrescentando que a percepção do tempo está mudando. Se a passagem de tempo era antes uma forma de derivação, um processo em que os mais velhos deixavam conhecimento para os mais novos, agora o futuro simplesmente assusta as pessoas, que não sabem mais o que esperar. A experiência é assim, segundo ele, de certa maneira contraída, diminuída.
Maldonato disse gostar da ideia de que o tempo é capaz de questionar a racionalidade humana e seus limites. Além da experiência, ele contrai aquilo que se tem por realidade, pois parece controlar a vida de todos. Para o italiano, a racionalidade pode ser comparada a uma luz muito fraca, habitada por trechos de escuridão. Um dos capítulos de seu livro tem como título um provérbio chinês que diz, “Na base do farol, não há luz”. Para o filósofo, essa metáfora quer dizer que não temos o domínio nem mesmo da nossa casa, que fica parcialmente sob uma sombra.
No entanto, defende ele, essa negritude é necessária, pois da luminosidade total só poderia advir o deslumbramento, prejudicial e insuportável. “Fazemos uma viagem de sombra através do tempo”.
Mora na filosofia — Por problemas técnicos, a exposição do pesquisador Bruno Latour começou meia-hora atrasada. Numa fala rápida, o antropólogo apresentou seu novo livro, Enquête sur les Modes d’Existence. Une Anthropologie des Modernes (Uma Investigação dos Modos de Existência. Uma Antropologia dos Modernos, em tradução literal), que retoma sua famosa obra, Jamais Fomos Modernos (Editora 34). Latour enfatizou o formato inovador do livro, que contará com uma versão tradicional, impressa, e uma versão on-line gratuita, onde leitores e estudiosos de humanidades poderão deixar comentários e contribuições.
Para o antropólogo francês, a internet funciona bem como um espaço de conectividade entre as pessoas, mas ainda não consegue propiciar um espaço meditativo, que exige concentração.
A partir dos comentários deixados pelos leitores na versão on-line do livro, as pessoas poderão ter acesso a outros documentos relacionados ao tema. Em 2014, o livro inicial será reescrito com a contribuição das pessoas que haviam comentado antes. Reuniões presenciais serão organizadas, de modo a gerenciar e negociar a nova edição.