Impeachment já?
A palavra já passou a frequentar o cenário de vários partidos de centro, que avaliarão suas reações nos próximos dias
As manifestações pró-governo foram grandes, mas menores do que o presidente Jair Bolsonaro havia dito que seriam para diversos interlocutores. Ele esperava mais, principalmente em Brasilia, já que se dedicou muito, nas últimas semanas, a mobilizar seus seguidores mais fiéis para estarem na rua. O 7 de setembro mostrou que ele, apesar de tanta gente na rua, está mais isolado politicamente do que nunca.
Alguns fatos terão repercussão nos próximos dias. O primeiro e mais importante é: o que as lideranças partidárias e principalmente o presidente da Câmara, Arthur Lira, farão em relação aos desdobramentos da fala claramente golpista do presidente. O PSDB passou a falar em impeachment, o MDB também, enquanto o PSD formou um grupo para discutir o assunto. O Senado suspendeu sessões remotas e comissões. O Supremo Tribunal Federal vai se pronunciar nesta quarta-feira, 8, pela voz do seu presidente.
Houve fatos que foram notados com preocupação. Bolsonaro levou o general Walter Braga Netto para o palanque em Brasília e ele, como ministro da Defesa, não poderia ir. Braga Netto está tentando puxar a tropa para um abismo, o buraco gigante criado pelo presidente da República.
O vice-presidente Hamilton Mourão, que estava tentando se desvencilhar da imagem do golpista, cometeu o erro de ir para o palanque também. Logo agora, que Bolsonaro aparece cada vez mais próximo de ser ex-presidente. Se a Justiça não torná-lo inelegível, ou se o Congresso não aprovar o impeachment, ele sairá de qualquer forma: pelo voto.
Indefensável também é a presença do ministro Bento Albuquerque, no palanque de São Paulo. Ele tem uma crise hídrica para superar, mas prefere estar num ato político em que o presidente defendeu um apagão constitucional.
O resumo final do Dia da Independência é o de muita gente na rua, mas felizmente com poucos conflitos. Havia policiais militares, mas não de forma ostensiva. Entretanto, temos um presidente que aumentou ainda mais o tom da radicalização.
Em seus discursos, Bolsonaro afirmou que descumprirá as decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Depois, atacou o sistema eleitoral brasileiro, outros integrantes do STF, e governadores e prefeitos que tomaram medidas de combate à pandemia.
Ora, está claro que essa lista de autoridades é que é normal frente a um caótico político que nos preside. Bolsonaro já atravessou a linha que limita o crime de responsabilidade algumas vezes, mas afirmar que não cumprirá uma ordem judicial de um ministro do STF é o momento em que país deve parar e se perguntar: até quando? Até onde ele vai?
Será mesmo que o país deve ficar 13 meses esperando uma eleição para afastar um presidente sob o argumento de que ele foi eleito, e porque já teve muito impeachment no Brasil?