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O lado positivo da impotência sexual

Se o sexo temporariamente não funciona (pudera!), canalize a libido para outras ações. Abra os seus olhos e o seu coração para o lado positivo da pandemia

Por Carmita Abdo
Atualizado em 2 jul 2020, 18h28 - Publicado em 1 jul 2020, 12h26

Como se pode imaginar, eu gosto de escrever sobre temas de saúde. Se assim não fosse, não teria aceito o honroso convite para esse encontro mensal, aqui em Letra de Médico. Além disso, escrever livros, capítulos, artigos, separatas médicas faz parte do meu trabalho cotidiano. Pesquisar, pensar, entender e colocar no papel, bem como criar textos, a partir da introspecção, via de regra não são problema para mim. Apesar disso, essa semana eu “travei”.

Travei, já quando buscava um tema que fosse a um só tempo leve e profundo, para contrastar com a pesada e arrasante realidade da Covid-19. Travei, diante de tudo o que li e ouvi, procurando uma inspiração alentadora. Travei, frente à expectativa frustrada de transformar em texto o drama daqueles, os quais – presencialmente ou por consultas online – me revelam suas “travas” sexuais. Não que me faltassem elementos, a serem extraídos das conversas com as pessoas , coletados na literatura médica especializada ou nas reuniões de trabalho no combate à pandemia. Não me faltaram informações sobre crises de ansiedade, depressão, excesso de bebidas alcoólicas e intermináveis rituais de higienização das mãos, repercutindo em desinteresse sexual e/ou impedindo a ereção. Muito menos a respeito dos cuidados recomendados pela Organização Mundial da Saúde para sexo seguro contra o coronavírus.

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E, conforme eu me empenhava mais objetivamente para escolher o tal tema da minha crônica desse mês, eram noticiados e creditados à pandemia e respectivo confinamento – com base em pesquisas desenvolvidas aqui e no exterior – a sobrecarga dos pais de filhos sem rotina escolar; o maior consumo de bebidas alcoólicas, seguido de violência doméstica; a insegurança econômica, dando margem a conflitos conjugais e separações… Nada disso me interessava comentar com você, já cansado de narrativas tão deprimentes quanto óbvias.

Então me decidi por “dar um tempo”, “sair da pilha”, respeitar meu ritmo, visto que – alheio a todo tipo de pressão – meu cérebro teimava em permanecer desconectado, enquanto minhas emoções me envolviam numa crescente sensação de desamparo e profunda impotência
Vale aqui um parêntese para confessar que a trava, à qual estive me referindo, contribuiu para meu crescimento profissional. Ela me permitiu sentir na própria pele o que o homem com falha de ereção vivencia: um misto de desespero (que inquieta) e constrangimento (que desencoraja), descrédito (que derruba) e inconformismo (que insiste).

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A trava também me propiciou “realizar” a importância do compartilhamento ( que estou aqui praticando) como válvula de escape, para situações extremas. Essa “sacada” eu vou acrescentar ao rol de recomendações absolutamente indispensáveis àqueles que querem vencer a disfunção erétil (vulga impotência sexual) de origem psicológica. Compartilhar seus sentimentos, diante de uma limitação absoluta, alivia a tensão o que ajuda a superar sua “trava”. A catarse faz você pensar, enquanto fala, credenciando quem o escuta a se solidarizar ou a minimizar seu problema , o que também pode ajudar.

Fechando o parêntese, quase leio seus pensamentos, me questionando se eu já não sabia o que alego ter descoberto ou se eu não havia “travado” antes e compartilhado. Sendo sincera, claro que sim! Mas a diferença fundamental está no contexto. E é para isso que estou chamando sua atenção. Em tempos de pandemia, ao se perceber impotente diante dos acontecimentos, tente extrair dessa justificável e intransponível situação um desfecho mais favorável do que paralisar entre a esperança e o desespero, o derrotismo e a inquietação. Compartilhe o que de mais sincero você tiver para expressar; não hesite em deixar explícita a sua vulnerabilidade e os motivos da sua inércia.

Nesse momento histórico em que um agente (o coronavírus) impõe uma inédita mudança universal de hábitos, insisto que você contra-ataque, compartilhando o que melhor tiver para oferecer ás pessoas a sua volta: seu tempo, seu discernimento, a solidariedade, o afeto, a compaixão, algum recurso material para quem precisa. Recupere e demonstre seu amor aos parentes, amigos, vizinhos, desconhecidos… à espécie humana, tão necessitada de atitudes genuinamente acolhedoras, especialmente nos dias atuais.

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Diferente do recomendado à atividade sexual – cujo repertório e o desejo/desempenho estão sendo “regulados”, devido à covarde Covid-19- o compartilhamento dos bons sentimentos deve correr solto. Mais que um convite, deixo aqui uma convocação: se o sexo temporariamente não funciona (pudera!), canalize sua libido para uma ação menos genital. Abra os seus olhos e o seu coração para o lado positivo da pandemia. Conforme sinalizou Bryn Nelson, na edição de maio do British Medical Journal, o céu está mais azul, porque há menos poluição, menos carros nas ruas; menos acidentes de transito; alguns índices de criminalidade diminuíram (apesar do aumento da violência doméstica); as famílias estão levando a sério as recomendações sobre lavagem das mãos, higiene pessoal e outras medidas de prevenção; as crianças agora sabem como os microrganismos se espalham ; os namoros por aplicativos fizeram cair os índices de infecções sexualmente transmissíveis.

As pessoas estão mais conscientes de que nada realmente funciona quando falta saúde. E essa consciência pode ser a força motriz para uma vida mais gratificante, inclusive no plano sexual.

(./.)
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